O Homem Baile

Olhos abertos

Canto Cego se afirma como ponta de lança da nova cena rock carioca em show de lançamento do álbum de estreia. Fotos: Nem Queiroz

A espevitada vocalista do Canto Cego, Roberta Dittz, com o guitarrista Rodrigo Solidade no fundo

A espevitada vocalista do Canto Cego, Roberta Dittz, com o guitarrista Rodrigo Solidade no fundo

A lista de bandas que a vocalista Roberta Dittz decide citar em pleno palco não tem fim e a contribuição do público é farta. É a segunda metade do show de lançamento do álbum de estreia do Canto Cego, “Valente”, na noite desta quinta (18/8), no Imperator, local que impulsiona várias dessas bandas com o projeto Rio Novo Rock. E que tem o próprio quarteto na linha de frente desse cenário difícil de ser resumido em um sincero agradecimento, dada a diversidade das bandas citadas na lista. Porque “Valente” (ouça aqui) é um álbum surpreendentemente maduro para uma estreia, e o Canto Cego é deveras bom de palco, como toda banda de rock deveria ser.

O quarteto é emblematizado por Roberta, que, mais que vocalista ou cantora, é intérprete que empresta para cada música – não só para as que escreve – uma linguagem própria e apurada. No limiar entre os dois ofícios, para o bem ou para o mal, sai com o saldo positivo, de modo imponente pela presença de palco, com vestes de fada e até sopros de pó de pirlimpimpim, e pela voz adocicada e bem aplicada de parte a parte. Mas a banda não é só ela. Musicalmente, o guitarrista Rodrigo Solidade e o baixista Magrão estão mais interessados no corpo das canções do que em alongar momentos solos – que até fazem falta -, o que resulta em ótimos arranjos, tudo com o peso inerente ao rock. E a baterista Ruth Rosa é um verdadeiro motorzinho rítmico que preenche o tudo o que é possível.

Roberta Dittz em plena interpretação à frente do Canto Cego: teve até pó de pirlimpimpim

Roberta Dittz em plena interpretação à frente do Canto Cego: teve até pó de pirlimpimpim

O comparecimento do público é bom para uma quinta de feriado na Cidade Olímpica e boa parte canta as músicas, conhecidas de outras viagens do grupo. Casos de “Vão”, de início sombrio e desenrolar quase pop/agradável; “Sublime”, dona de um refrão generoso que suplica o cantarolar na beirada do palco (“Eu vou achar o meu som…”); e “Maestrina”, com guitarra amalucada a nu-metal noventista, mas colante mesmo assim. A mais aplaudida da noite, contudo, é “A Fúria”, que tem a participação de duas meninas e suas alfaias, em espécie de “momento Nação Zumbi”, com um raro arranjo que mistura rock e música regional sem que um lado interfira severamente no outro. E com peso, muito peso, o que é ótimo.

A música faz ótima dobradinha com uma versão porrada para “Admirável Gado Novo”, de Zé Ramalho, o rock brasileiro antes de si próprio, o que revela outra habilidade do Canto Cego: a de converter músicas do cancioneiro emepebista em rock com grande desenvoltura. É o que acontece, antes, com “As Rosas Não Falam”, de Cartola, em um ótimo dueto com outra convidada, a cantora Simone Mazzer. Já “Zé do Caroço”, de Leci Brandão, redescoberta pelo público no longa “Tropa de Elite”, ganha em apelo e peso, o que reafirma que as duas coisas podem caminhar juntas. Com cenário próprio, roteiro planejado e vídeos projetados em um telão que não atrapalham a performance ao vivo, o show ganha um élan de espetáculo peculiar que marca também pelo entorno.

A força feminina com as meninas das alfaias: disparado o momento mais aplaudido da noite

A força feminina com as meninas das alfaias: disparado o momento mais aplaudido da noite

O grupo mostra todas as doze faixas de “Valente”, em outra ordem, e ainda músicas que, embora conhecidas do público, acabaram fora do CD. Assim a banda segura com bastsnte firmeza uma apresentação de quase uma hora e meia, o que não é fácil para quem está no primeiro disco. Outros números que realçam no repertório do show são “Nuvem Negra”, sensível visão sobre a tragédia de uma enchente no Grande Rio; “Eu Não Sei dizer”, nascida com a grife de Marcelo Yuka, na parte final; e “Parque das Imagens”, que bebe em fontes também frequentadas por Pitty – eis aí uma ponte interessante. Voa, “Valente”. Voa, Canto Cego. É pra voar mesmo.

Set list completo:

1- Contra-canto
2- Maestrina
3- Nuvem Negra
4- Sublime
5- O Dono da Ordem
6- Parque das Imagens
7- Novo Canto
8- Imaginário
9- As Rosas Não Falam
10- Vão
11- Mundo Voraz
12- Gigante
13- Admirável Gado Novo
14- A Fúria
15- Inventados
16- Zé do Caroço
17- Eu Não sei Dizer
Bis
18- Novo Canto
19- Corre Louco

Canto Cego em ação: Rodrigo Solidade, Roberta Dittz, o baixista Magrão e a baterista Ruth Rosa

Canto Cego em ação: Rodrigo Solidade, Roberta Dittz, o baixista Magrão e a baterista Ruth Rosa

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