O Homem Baile

Sem regras

Com público abaixo da média, Suicide Silence faz a limonada com ótima performance e som no talo. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista do Suicide Silence, Eddie Hermida, garante a diversão em show esvaziado no Rio de Janeiro

O vocalista do Suicide Silence, Eddie Hermida, garante a diversão em show esvaziado no Rio de Janeiro

A noite é talhada para ser apontada como a de um show com público pequeno, mas participativo, como o de muitas outras atrações internacionais que se avolumam na Cidade Maravilhosa. Só que quem salvou a pátria – vamos e venhamos – não foi o público, mas a banda, graças à firmeza e ao carisma de um destemido vocalista que determinou, de antemão, que não haveria regras para que a diversão daquela meia dúzia de três ou quatro fãs fosse intensa, plena, completa, total. Por isso o tempo limite é curto e a necessidade sonora, física e mental, urgente. Assim foi o show do Suicide Silence na noite deste domingão (31/7), no Teatro Odisséia, no Rio.

O tal cantor de música extrema é Eddie Hermida, que sobe no palco como quem não quer nada, bem penteado até, para transformar o salão em uma filial dos quintos dos infernos. O jeito desesperado de encarar as letras, ora vomitadas como um jorro de entulho de obra, ora esganiçadas como um esmeril pouco afiado, tem um inesperado poder de convencimento. A música do quinteto, sombria, tensa e ao mesmo tempo inquieta, é terreno fértil para o tom desesperado de Eddie conduzir o show, alternando com incrível precisão vocais guturais, graves, com outros agudos, esganiçados, todos sempre sujos, podres. Sim, já é assim nos discos, mas, ao vivo, tudo cresce exponencialmente. Para os menos iniciados, o som dos caras, identificado como deathcore, está no rol do da chamada “nova onda do metal americano”.

Pense em muito peso, um groove absurdo, garantido pelo bom baixista Dan Kenny e por uma ótima equalização do som, uma das melhores do local em todas as épocas. É o que dá um novo sentido ao invólucro esporrento de bandas dessa seara, e que faz o Suicide Silence se destacar com boa desenvoltura, num amplo somatório de referências a vários subgêneros do metal, o que lhe confere um frescor de contemporaneidade assaz peculiar. Impossível não lembrar do nu-metal em músicas como “Fuck Everything”, na qual Eddie faz todo mundo cantar o verso/refrão. Ou nas guitarras sombrias de “Sacred Words”, de um rigor doom metal quase fundamentalista. Ou mesmo no zumbido no ouvido à la Motörhead de “You Can’t Stop Me” (faixa-título do disco mais recente, de 2014), cujo desfecho instrumental é realmente poderoso.

O guitarrista Mark Heylmun, o baixista de muitas cordas Dan Kenny e Eddie Hermida suando a camisa

O guitarrista Mark Heylmun, o baixista de muitas cordas Dan Kenny e Eddie Hermida suando a camisa

O show é o último da turnê do grupo pela América do Sul, daí a proclamação da falta de regras por parte de Eddie, mesmo porque não haveria saída para tocar em um show tão vazio se não essa, e a os limões se convertem em saborosa limonada. Ele substitui muito bem o saudoso Mitch Lucker, morto em um acidente de moto há quatro anos, cantando “certinho” as músicas dos álbuns que não gravou. Caso da violenta “Destruction of a Statue”, ou da desgramada “Wake Up”. Na farra no meio do salão, sobra até para os Jogos que começam na próxima sexta (“foda-se das Olimpíadas!”, grita um gaiato) e as rodas de dança são contaminadas por lutadores de academia exibicionistas e seus golpes de boutique; a porrada é sonora, pessoal, parem com isso.

A dupla de guitarristas Chris Garza e Mark Heylmun, sobretudo este último, é responsável por um discreto trabalho que encorpa ainda mais a pressão da banda. Mas que também aparece sob a maçaroca sonora em músicas como “Cease to Exist” (“tanto faz se tem 10 ou mil pessoas”, grita Eddie); “Slaves to Substance”, que a plateia canta em coro; e até no encerramento, com “You Only Live Once”, com direito a body surfing meia boca e a um balão olímpico de Eddie em um incauto que queria fazer uma selfie em pleno palco. Em suma, uma ótima performance de uma banda que parece moldada para tocar ao vivo, e que seguramente faria um estrago maior se tivesse uma plateia minimamente mais numerosa.

Espremido num palco que já é pequeno dividido por dois, o Reckoning Hour cumpre bem o papel de banda de abertura. O show é conciso, sem muita conversa e nervoso o bastante para não decepcionar os fãs da banda de fundo, muito embora o som seja diferente. Destaque para as boas vocalizações de JP em músicas como “Eye For an Eye” e “Between Death And Courage”, que se salienta também por um bom trabalho de guitarras. É o tipo de banda que tem tudo para crescer mais na medida em que seguir fazendo mais e mais shows.

O Reckoning Hour, espremido na abertura, também fez o que pode no domingão do Teatro Odisséia

O Reckoning Hour, espremido na abertura, também fez o que pode no domingão do Teatro Odisséia

Set list completo Suicide Silence:

1- Unanswered
2- No Pity For a Coward
3- Inherit the Crown
4- Wake Up
5- Fuck Everything
6- Cease to Exist
7- Sacred Words
8- Disengage
9- Slaves to Substance
10- You Can’t Stop Me
11- Destruction of a Statue
12- Bludgeoned to Death
13- You Only Live Once

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