O Homem Baile

Recompensa

Show curto do Bring Me The Horizon é correspondido com a fidelidade de fãs da nova geração do hardcore/metal. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista do Bring Me The Horizon, Oliver Sykes, em forte expressão, dispara o gogó para o público

O vocalista do Bring Me The Horizon, Oliver Sykes, em forte expressão, dispara o gogó para o público

Há algo muito errado quando o hardcore/metal se reveste de certo romantismo sensível com uma forte ancestralidade emo, mas a coisa é muito boa quando a juventude lota os shows do Bring Me The Horizon mundo afora. É gente curtindo música boa feita por gente mais ou menos da mesma idade, um belo sinal. Mas a música é realmente boa ou o invólucro pesado estaria confundindo tudo? A julgar pelo Circo Voador cheinho de dar gosto neste domingo quase de tarde, com ares de matinê, sim. Porque certamente questões como essa não passam pela caixola de fãs fervorosos que cantam todas as músicas, de cor e salteado. Tem mocinha tirando a blusa, tem fortão abrindo roda de dança, tem choro, tem suor, tem garganta rouca. Tem até coraçãozinho feito pelo vocalista em pleno palco. Rock’n’roll, pois não?

Oliver Sykes, sua boa voz e o catálogo de tatuagens que carrega no corpo, tem muito a ver com tudo o que acontece. Mesmo consagrado com mais de 10 anos de sucesso com sua banda, é do tipo pastor que comanda ovelhas: manda sentar, abrir roda de dança, cantar, pular, prender e soltar. Não precisa, Oli, a música faz isso por si só. Talvez seja uma forma de superar a timidez que subtrai as luzes enviadas ao palco, de modo que os numerosos integrantes são iluminados apenas por trás, onde um vistoso telão de led é a única fonte de iluminação. E não serve para mais nada, uma vez que, subutilizado, exibe apenas imagens pueris, sem sentido algum, nada que tenha a ver com as músicas em si, e com trechos das letras das músicas para o pessoal cantar, como se fosse necessário. Não é, não, Oli.

Oliver coloca o público para cantar, praticamente se misturando com o povão que encheu o Circo Voador

Oliver coloca o público para cantar, praticamente se misturando com o povão que encheu o Circo Voador

A turnê é do álbum “That’s the Spirit”, que saiu em setembro, mas o grupo tem o cuidado de inserir o mesmo número de músicas (meia dúzia) do anterior, “Sempiternal”, de 2013, e que catapultou a banda, via público e crítica, para o primeiro time do rock lá no Hemisfério Norte, e, por consequência, aqui embaixo também. Ou seja, o repertório “das antigas”, nesse caso, não é tão relevante, ainda mais para um show curtíssimo para uma banda jovem e já com cinco bolachas no currículo, que pouco passa dos 70 minutinhos. O tal sucesso se materializa quando, muitas vezes a custa de efeitos eletrônicos, a aproximação ao pop descartável é inevitável, o que funciona em um mundo dominado pela farra dos ecléticos.

Por isso a trocadilhante “Go to Hell, for Heaven’s Sake”, a despeito de um bom trabalho de guitarras e de um refrão grudento, faz o público pular como em uma micareta sem noção. O que se repete também em “Throne”, que desperta um cantarolar maçante bem no início, e que tem, também, um ótimo refrão. As duas músicas, entretanto, são provas irrefutáveis de que, a despeito da embalagem hardcore/metal com clichês repetidos a torto e a direito, há, sim, boas composições que explicam o bem querer por parte do público e dos fãs por esse mundão. O que não se pode dizer exatamente de “Can You Feel My Heart”, cuja inserções eletrônicas passam do ponto. Junto com “Follow You”, que a antecede, forma de longe o pior momento do show, em que pese o preparo para o encerramento com “Antivist”, essa sim, com tudo no seu lugar e de grande capacidade mobilizadora, pelos motivos certos.

De pé, o vocalista empunha o microfone e contrasta com os demais integrantes, paradões no palco

De pé, o vocalista empunha o microfone e contrasta com os demais integrantes, paradões no palco

Como o show é curto e o set list (veja no final do texto) dificilmente muda, a sensação de enfastio paira no palco. Não é o caso de Oliver, que se diverte o tempo todo, nem do tecladista multifuncional Jordan Fish, mas o desânimo do baterista Matt Nicholls é flagrante, até para saudar a plateia, e os demais, estáticos, soam como não estivessem ali. Ou, por outra, esperando a hora de bater o ponto e se mandar. Outras músicas legais no show são “The House Of Wolves”, uma porrada na qual se salienta o caráter híbrido do som do BMTH, turbinada pelo disparo de “vapor” sobre o público; e “Happy Song”, que de feliz nada tem, com o público soletrando “spirit” em uníssono, como na versão de estúdio da música.

Na abertura, o Carahter, de Belo Horizonte, fez um ótimo show. O som pesado e arrastado do grupo, com dois guitarristas técnicos e interessados em desenvolver texturas minimalistas, pouco tem a ver com o do Bring Me The Horizon, mas a plateia se divertiu mesmo assim. Sem muita conversa (taí um segredo para bandas de abertura), o vocalista Renato vomitou caco de tijolo sobre o público em sete músicas, todas dotadas de certa inventividade, sem abrir mão do peso indispensável ao gênero. Talvez isso explique a camiseta do Dillinger Escape Plan envergada pelo baterista Pudi, e a garra de um dos guitarristas que teve que se livrar de um surto de dengue antes de ir para o show. Valeu o esforço!

Espremido na frente, o Carahter fez uma boa apresentação de abertura, com a anuência do público

Espremido na frente, o Carahter fez uma boa apresentação de abertura, com a anuência do público

Set list completo Bring Me The Horizon:

1- Doomed
2- Happy Song
3- Go to Hell, for Heaven’s Sake
4- The House of Wolves
5- Chelsea Smile
6- Throne
7- Shadow Moses
8- Sleepwalking
9- True Friends
10- Follow You
11- Can You Feel My Heart
12- Antivist
Bis
13- Blessed With a Curse
14- Drown

Tags desse texto: ,

Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. ramona em março 8, 2016 às 17:55
    #1

    I’m sorry, mas quem escreveu essa matéria está totalmente preso no que é antigo e no tipo “pesado” de musica. Se você quer ser colunista ou trabalhar com música, abra a sua mente e depois conversamos. Achei ridículo, por exemplo, citar “Follow You” como o momento chato do show, pois nota-se claramente que quem escreveu isso tem a mente fechada para música, e chamar de chato o momento “baladinha” de qualquer show é falta de profissionalismo, pois toda banda tem que ter isso. Abraços e melhorem!

  2. ramona em março 8, 2016 às 17:57
    #2

    E isso foi só um exemplo, porque claramente há outros pontos negativos de quem escreveu o texto, carregado de má vontade.
    PS: Não sou fã mimizento dessa banda.

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado