O Homem Baile

Paulada na moleira

Em noite de lançamento de DVD, veterano Taurus revive grandes momentos do clássico heavy metal brasileiro dos anos 1980. Fotos: Nem Queiroz.

Otávio Augusto mostra boa forma no comando Taurus: grupo tocou vários clássicos do metal nacional

Otávio Augusto mostra boa forma no comando Taurus: grupo tocou vários clássicos do metal nacional

“Massacre! Massacre!”. É o que grita a turba mais empolgada no terceiro andar do velho prédio reformado na Lapa de música de gosto duvidoso dos nossos dias. Não são, contudo, afeitos à violência política impulsionada por meios de comunicação parciais, mas, sim, saudosos fãs do heavy metal brasileiro dos anos 1980, clamando pelo aguardado encerramento com uma das músicas mais queridas do Taurus. E o vocalista Otávio Augusto não decepciona, de modo que o cantarolar forte no final, que proporcionou rodas sobre rodas de dança, é um desfecho mais que perfeito para a noite de metal no Rock Experience neste sábado. Noite que teve ainda Hicsos e Monstractor.

Só que o presente mesmo, de acordo com o próprio Otávio, é a inclusão de última hora de “Gladiadores”, espécie de hit lado B da banda, quase nunca tocada nos shows, mas que, por ser muito pedida ali na fila do gargarejo, foi cantada a plenos pulmões. O show é para o lançamento do DVD “Taurus 30 Anos ao Vivo”, de modo que o repertório é mais ou menos o mesmo, com a adição de algumas faixas e ênfase na fase com letras em português, que parece mesmo ser a preferida do público. No palco, a atual formação mostra excelente forma, incluindo o pique e as variações vocais de Otávio, e a ótima performance do guitarrista Cláudio Bezz, um dos melhores do Brasil e em torno de quem o quarteto gira. Um apena que a carreira de idas e vinda do Taurus tenha ofuscado seu talento ao longo dos anos.

Taurus 2016: o baixista Felipe Mello, Otávio Augusto, o guitarrista Cláudio Bezz e o baterista Sergio Bezz

Taurus 2016: o baixista Felipe Mello, Otávio Augusto, o guitarrista Cláudio Bezz e o baterista Sergio Bezz

É de se lamentar que o local não esteja lotado – e Otávio verifica em tom irônico muita gente sentada no mezanino -, mas vale a máxima de que a plateia é “pequena, mas participativa”, e no fim das contas é isso o que conta, ainda mais para quem está na estrada esburacada do underground há tantos anos. Por isso o início, com “Fissura”, faixa-título do álbum da volta, de 2010, já chega mostrando um diferencial de intensidade em relação as outras bandas. Em “Mundo em Alerta”, punhos cerrados se erguem no meio do público a custa de um inevitável cantarolar, e em “Falsos Comandos” e “Pornography”, da “fase Metallica”, Cláudio Bezz reforça como nunca a expressão “maratonas de guitarras”, num trabalho hercúleo, mas seguramente gratificante. Foi mesmo em massacre.

Antes, o Hicsos já dá sinais de que o ouvido vai ficar zumbindo até a segunda chegar. O grupo, mais identificado com metal noventista, está com nova formação, com a entrada do discreto guitarrista Alexandre Carreiro. Porque quem debulha a guitarra o tempo todo é Celso Rossatto, cujas referências a Eddie Van Halen são evidentes - e isso é bom - e a base feita pelos cascudos Marco Anvito (baixo/vocal) e Marcelo Ledd (bateria) segue funcionando muitíssimo bem. As melhores performances são para “Technologic Pain”, sobretudo na parte mais cadenciada, uma máxima no thrash metal; a porrada na moleira que é “Destruction”, como sugere o título, e “Money Becomes God”, com ótimas passagens instrumentais já na parte final.

O vocalista e baixista do Hicsos, Marco Anvito, no show que antecedeu o do Taurus: pra zumbir os ouvidos

O vocalista e baixista do Hicsos, Marco Anvito, no show que antecedeu o do Taurus: pra zumbir os ouvidos

O que pega no show do Hicsos é a falta de vibração, tanto dos integrantes como da plateia, que é contemplativa na maior parte do tempo. Nas poucas falas, Anvito compra o discurso vazio anticorrupção (alguém diz que é a favor?) e o show é encerrado com “Pátria Amada”, solitária com letra em português que cita versos do Hino Nacional Brasileiro. Dá pra melhorar. Na abertura, o Monstractor, de Resende, interior do Rio, fez um bom show, mostrando referências a vários subgêneros do metal, mas com ênfase no thrash metal. Mais nova na noite, mostrou um bom potencial, sobretudo nas levadas sombrias do guitarrista Diego Monsterman, que divide o protagonismo com o baixista e vocalista Christian Klein, o mais rodado do quarteto, seguramente fã de Motörhead.

Set list completo Taurus:

1- Fissura
2- Batalha Final
3- Mundo em Alerta
4- Império Humano
5- Desordem e Regresso
6- Dias de cão
7- Falsos Comandos
8- Trapped In Lies
9- Pornography
10- Damien
11- Gladiadores
12- Massacre

O caçula Monstractor: bom show com levadas sombrias e referências a várias tendências do heavy metal

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