Primazia
Em show calcado na excelência musical e com ótima performance, Rolling Stones encanta plateia em Maracanã lotado. Fotos Divulgação: Marcos de Paula/Staff Images.
Entretanto, a usina sonora que permite que um inacreditavelmente atlético Jagger brilhe aos 72 aninhos vem de dois contemporâneos e suas guitarras que se completam em perfeito encaixe. Keith Richards, a ruína do trinômio sexo, drogas e rock’n’roll em carne, osso e simpatia, e o atrevido Ron Wood têm ao menos um momento icônico nas mais de duas horas de um espetáculo de tirar o fôlego da garotada. Ambos são levados pelo/levam o riff de “Jumping Jack Flash” às últimas consequências, numa prova cabal de como a simplicidade, no rock, deságua em momentos de grande êxtase coletivo. São texturas, evoluções, solos sobre solos, tudo embaralhado em um jogo de acordes de parte a parte que sintetiza como eles sustentam uma base para que a bandaça repleta de músicos nota 10 interpretem de forma única músicas que em sua maioria fazem parte do inconsciente coletivo global. À exceção de “Doom and Gloom”, lançada da coletânea “GRRR”, de 2012, e de “Out Of Control”, do álbum “Bridges to Babylon” (1997), todas têm mais de 35 anos de lançadas.
O pé d’água superou aquele de 1995, em um Maracanã old school, quando a banda debutou no Brasil, mas, dessa vez, o palco com a cobra cuspindo fogo foi substituído por outro mais simples, mas igualmente extenso com plataforma laterais, além das centrais, para Mick Jagger exibir sua performance aeróbica. O que não deixou de fora três telões gigantes de impressionante resolução, sendo que um das laterais deu pau a noite toda e foi apontado como o responsável pelo atraso de 20 minutos, junto com o toró. Apresentado por Jagger como “sambista da Mangueira”, em português lido com dificuldade, o baterista Charlie Watts também impressiona pela pegada, groove e sorriso caro, com as suas – não custa registrar – 74 primaveras. As apresentações se dão depois de “Honky Tonk Women”, quando o caçula Wood é convertido por Mick Jagger em o “mascote das Olimpíadas” e Richards é, de longe, o mais ovacionado. Sim, ele está vivo e botando pra quebrar.E com uma inesperada boa voz, sem os pigarros habituais, em que pese a emblemática imagem do cigarro aceso enquanto toca e canta em dois números. São eles “You Got the Silver”, pinçada do ótimo álbum “Let It Bleed”, que – coisa linda! - cede quatro faixas ao show, numa ode ao blues rock de raiz, com Ron Wood fazendo efeito slide guitar, e “Before They Make Me Run”, nem sempre incluída nessa turnê, a tal “América Latina Olé Tour” . É o tempo – segundo consta – para Jagger receber uma farta dose de oxigênio que deve ter sido batizada nos bastidores, a julgar pela forma como o vocalista retorna em “Midnight Rambler”, completamente possesso. A música é uma das alongadas pelas, digamos, improvisações instrumentais, e ganha um peso extra à custa da guitarra de Richards. É também uma das que Jagger – e ainda tem mais essa – saca do bolso uma gaita para acompanhar, para delírio do veterano Zé da Gaita, lenda viva do rock nacional que o acompanha da beirada do palco. O vocalista só sossega quando também empunha uma guitarra – e ainda tem mais essa outra – aqui e acolá.
A possessão from hell que antecipava o metal extremo na idade da pedra do rock é reforçada em “Sympathy for the Devil”, já na parte final, na qual Jagger aparece revestido de plumas pretas e vermelhas e, no telão, emoldurado com um grafismo pertinente, parece um correspondente de Satanás falando ao vivo das profundezas do inferno para o Jornal Nacional. Dessa vez o duelo com Sasha, que arrisca uma sambadinha quadrada de leve, é mais picante. “Like a Rolling Stone”, escolhida pelo público na web, realça o belíssimo arranjo capitaneado pelo tecladista Karl Denson, depois de uma sutil citação a “Garota de Ipanema”, e o baixista Darryl Jones, que acompanha os Stones há mais de 20 anos, faz das suas na sensual “Miss You”. Entre muitas citações ao Rio, tanto Jagger quanto Richards relembram o show de 2006 em suas falas – como esquecer uma apresentação para mais de um milhão de pessoas em plena Praia de Copacabana? -, e até nisso se diferem de outros artistas que nem sabem em que cidade estão em suas turnês (veja como foi o show de Copacabana).O bis, idêntico ao da turnê pela América Latina, tem o afinado Coral da PUC, que dá um tom mais vivo para a “You Can’t Always Get What You Want”, com ainda mais contornos da música negra de raiz dos Estados Unidos, fonte inesgotável para a carreira cinquentenária dos Rolling Stones. Cinquenta anos por si só tem “(I Can’t Get No) Satisfaction”, deixada para o encerramento mais certo que o nascer do sol. Mais do que uma música, trata-se de um ícone planetário da vida das pessoas, do mundo embalado não só pelo onipresente rock’n’roll, mas por tudo o que envolve o cotidiano de todos nós nesse último meio século. É oque coroa uma apresentação impecável calcada na excelência de um espetáculo em que cada detalhe é o mais importante para o contexto geral. E muito difícil de ser batido, nem pelos próprios Stones. Quem vê não esquece jamais.
Set list completo:1- Start Me Up
2- It’s Only Rock ‘n’ Roll (But I Like It)
3- Tumbling Dice
4- Out of Control
5- Like a Rolling Stone
6- Doom and Gloom
7- Angie
8- Paint It Black
9- Honky Tonk Women
10- You Got the Silver
11- Before They Make Me Run
12- Midnight Rambler
13- Miss You
14- Gimme Shelter
15- Brown Sugar
16- Sympathy for the Devil
17- Jumpin’ Jack Flash
Bis
18- You Can’t Always Get What You Want
19- (I Can’t Get No) Satisfaction
Tags desse texto: Rolling Stones
O show foi mesmo excelente! Impecável.
Achei a organização muito ruim, pelo menos no meu caso que fui de pista comum.
Só havia 1 entrada, que dava num gargalo ridiculo, devido à grade da pista VIP.
As pessoas q chegavam na pista comum passavam por um aperto de fazer passar mal os mais idosos, ou claustrofobicos.
Os banheiros da pista tambem estavam lamentavelmente imundos.
Escutei tambem que a cerveja acabou em varios pontos de venda,e a comida estava escassa.
Nessas horas a gente precisa reconhecer a otima organização do Rock in Rio, que dá de mil nesses shows do Maraca (exceto pela localização e facilidade de acesso).