Alagados
Na abertura para os Stones no Maracanã, Ultraje a Rigor encara a chuvarada com catálogo de sucessos da época de outro do rock nacional e homenagem a Luis Carlini. Fotos Divulgação: Marcos de Paula/Staff Images.
A apresentação, também, é repleta de peculiaridades, sobretudo porque foi só a banda subir no palco, com pontualidade britânica, para boa parte de o público sair batido. O motivo? O toró que se previa pelas melhores casas meteorológicas também não se atrasa, e o tempo desaba expulsando para arquibancadas e túneis de acesso boa parte do público da pista, que ainda é o total, diga-se. Pouco importa para o Ultraje, que não se intimida e valoriza quem aceita a enxurrada como peça divina do rock e não arreda o pé. O início, ainda com o som assim, assim, e iluminação precária, reforça o apelo de liberdade de expressão com a bem sacada “Independente Futebol Clube”. “Inútil”, espécie de Hino Nacional Brasileiro dos tempos da famigerada Nova República, é só a terceira, mas segue disparadamente cantada a plenos pulmões por gente de todas as idades, muito embora tenha versos vencidos pelo tempo; olhem com atenção.
O que mostra a perenidade do período oitentista do rock nacional. Para se ter uma ideia, oito das 14 músicas do repertório são do exuberante “Nós Vamos Invadir a Sua Praia”, lançado em 1985 - e olha que o hit “Eu Me Amo” ficou de fora. Também, são só uns 45 minutos disponíveis, e o malandro Roger não perde tempo com bobagens extra campo, não mistura as coisas em respeito à própria história do Ultraje. Só que músicas das antigas como a hoje politicamente incorreta “Filha da Puta” já traçava o perfil de uma nação antes da década de 1990, e a divertida “Nada a Declarar”, já em 2000, citava as mazelas dos nossos políticos – e ainda faltou “Eu Gosto de Mulher”! Quem não compreende o processo e não quer diversão nem no rock’n’roll que procure saber ou se lasque dentro das calças.Mas há tempo para uma música nova, instrumental, incluída no final e que, pasmem, faz parte do álbum “Porque Ultraje a Rigor – Volume 2”, lançado apenas em formato virtual, no ano passado. Mesmo que o repertório clássico se sobreponha, ainda mais em um show de abertura, a julgar por essa formação, que tem também o sempre impressionante baterista Bacalhau e o cascudo baixista Mingau, o Ultraje ainda tem muito a acrescentar, anda mais se deixar de lado o canal de TV pagador de contas. Outras músicas que colocam o público para dançar no meio do temporal são “Marylou”, quase uma fanfarra; “Rebelde Sem Causa”, eterna trilha da playboyzada; “Ciúme” e a global “Pelado”. Ah, sim, mas o melhor da noite foi mesmo “Long Tall Sally” com Luis Carlini quebrando tudo.
Ainda com o sol à pino, o Doctor Pheabes sobe no palco mais cedo do que o horário previsto e pega muita gente de calça curta – seria o medo da chuva que se anunciava? O grupo, um quarteto de classic rock cujas músicas próprias parecem covers de standards do gênero, tem dificuldades para entreter o público que ainda chega ao Maraca. Acrescido de um ótimo trio de backing vocals, que reforça o trabalho do vocalista Eduardo Parrillo, a banda faz o que dá com “Godzilla”, hard rock marcado, na balada “Rolling”, que cresce muito no final, e em “Suzy”, já um clássico deles. Faltam brincadeiras mais divertidas que marcam o grupo, como a dançarina de pole dance ou o mascote sub-Eddie. Fica para aproxima, então.Set list completo Ultraje a Rigor
1- Independente Futebol Clube
2- Zoraide
3- Inútil
4- Filha da Puta
5- Rebelde Sem Causa
6- Mim Quer Tocar
7- Sexo
8- Pelado
9- Long Tall Sally
10- Ciúme
11- Marylou
12- Nada a Declarar
13- Música nova
14- Nós Vamos Invadir Sua Praia
Tags desse texto: Doctor Pheabes, Ultraje a Rigor
O que todos soubemos é que o show foi ruim e que eles foram convidados a se retirar do Maraca…