O Homem Baile

Alagados

Na abertura para os Stones no Maracanã, Ultraje a Rigor encara a chuvarada com catálogo de sucessos da época de outro do rock nacional e homenagem a Luis Carlini. Fotos Divulgação: Marcos de Paula/Staff Images.

Com a barba branca, Roger Rocha Moreira encara a chuva na abertura para o Roling Stones, no Rio

Com a barba branca, Roger Rocha Moreira encara a chuva na abertura para o Roling Stones, no Rio

“Se tem alguém que merece estar aqui é ele”, diz o líder do Ultraje a Rigor, Roger Rocha Moreira, ao chamar no palco o guitarrista Luiz Carlini, pioneiro do rock brasileiro e que integrou o Tutti Frutti, de Rita Lee, nos anos 1970. Juntos, na abertura para os Rolling Stones, em pleno Maracanã (veja como foi), com a banda afiada, eles tocam uma versão arrasa quarteirão para “Long Tall Sally”. A música é turbinada pelos vocais de Ricardo Júnior, guitarrista de apoio do Ultraje que se revela um ótimo frontman, ao menos nesse inspirador clássico do rock do insofismável Little Richards. Carlini bota pra quebrar junto com Marcos Kleine, o outro guitarrista do Ultraje, que, diga-se de passagem, esmerilha a guitarra durante todo o show. Não é sempre que uma homenagem dessas é feita, mas é bom que sempre se lembre de Mestres como Luis Carlini.

A apresentação, também, é repleta de peculiaridades, sobretudo porque foi só a banda subir no palco, com pontualidade britânica, para boa parte de o público sair batido. O motivo? O toró que se previa pelas melhores casas meteorológicas também não se atrasa, e o tempo desaba expulsando para arquibancadas e túneis de acesso boa parte do público da pista, que ainda é o total, diga-se. Pouco importa para o Ultraje, que não se intimida e valoriza quem aceita a enxurrada como peça divina do rock e não arreda o pé. O início, ainda com o som assim, assim, e iluminação precária, reforça o apelo de liberdade de expressão com a bem sacada “Independente Futebol Clube”. “Inútil”, espécie de Hino Nacional Brasileiro dos tempos da famigerada Nova República, é só a terceira, mas segue disparadamente cantada a plenos pulmões por gente de todas as idades, muito embora tenha versos vencidos pelo tempo; olhem com atenção.

Roger no agito com com Marcos Kleine, que esmerilha a guitarra durante todo o show no Maracanã

Roger no agito com com Marcos Kleine, que esmerilha a guitarra durante todo o show no Maracanã

O que mostra a perenidade do período oitentista do rock nacional. Para se ter uma ideia, oito das 14 músicas do repertório são do exuberante “Nós Vamos Invadir a Sua Praia”, lançado em 1985 - e olha que o hit “Eu Me Amo” ficou de fora. Também, são só uns 45 minutos disponíveis, e o malandro Roger não perde tempo com bobagens extra campo, não mistura as coisas em respeito à própria história do Ultraje. Só que músicas das antigas como a hoje politicamente incorreta “Filha da Puta” já traçava o perfil de uma nação antes da década de 1990, e a divertida “Nada a Declarar”, já em 2000, citava as mazelas dos nossos políticos – e ainda faltou “Eu Gosto de Mulher”! Quem não compreende o processo e não quer diversão nem no rock’n’roll que procure saber ou se lasque dentro das calças.

Mas há tempo para uma música nova, instrumental, incluída no final e que, pasmem, faz parte do álbum “Porque Ultraje a Rigor – Volume 2”, lançado apenas em formato virtual, no ano passado. Mesmo que o repertório clássico se sobreponha, ainda mais em um show de abertura, a julgar por essa formação, que tem também o sempre impressionante baterista Bacalhau e o cascudo baixista Mingau, o Ultraje ainda tem muito a acrescentar, anda mais se deixar de lado o canal de TV pagador de contas. Outras músicas que colocam o público para dançar no meio do temporal são “Marylou”, quase uma fanfarra; “Rebelde Sem Causa”, eterna trilha da playboyzada; “Ciúme” e a global “Pelado”. Ah, sim, mas o melhor da noite foi mesmo “Long Tall Sally” com Luis Carlini quebrando tudo.

O cascudo baixista Mingau e Roger preparam o próximo ataque, com o baterista Bacalhau ao fundo

O cascudo baixista Mingau e Roger preparam o próximo ataque, com o baterista Bacalhau ao fundo

Ainda com o sol à pino, o Doctor Pheabes sobe no palco mais cedo do que o horário previsto e pega muita gente de calça curta – seria o medo da chuva que se anunciava? O grupo, um quarteto de classic rock cujas músicas próprias parecem covers de standards do gênero, tem dificuldades para entreter o público que ainda chega ao Maraca. Acrescido de um ótimo trio de backing vocals, que reforça o trabalho do vocalista Eduardo Parrillo, a banda faz o que dá com “Godzilla”, hard rock marcado, na balada “Rolling”, que cresce muito no final, e em “Suzy”, já um clássico deles. Faltam brincadeiras mais divertidas que marcam o grupo, como a dançarina de pole dance ou o mascote sub-Eddie. Fica para aproxima, então.

Set list completo Ultraje a Rigor

1- Independente Futebol Clube
2- Zoraide
3- Inútil
4- Filha da Puta
5- Rebelde Sem Causa
6- Mim Quer Tocar
7- Sexo
8- Pelado
9- Long Tall Sally
10- Ciúme
11- Marylou
12- Nada a Declarar
13- Música nova
14- Nós Vamos Invadir Sua Praia

O Doctor Pheabes fazendo o que é possível no show de abertura que começou antes da hora prevista

O Doctor Pheabes fazendo o que é possível no show de abertura que começou antes da hora prevista

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Carlos em fevereiro 23, 2016 às 7:07
    #1

    O que todos soubemos é que o show foi ruim e que eles foram convidados a se retirar do Maraca…

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