Consagrou
Show do Muse no Rio tem altos e baixos, público cantando quase tudo e música tocada pela primeira vez nessa turnê. Fotos: Rodrigo Castro/Divulgação T4F.
A turnê é a do novo álbum do grupo, o bom “Drones”, que saiu em junho, e já passa dos 30 shows. Ou seja, trata-se de uma banda melhor ensaiada, com repertório testado e com tudo em cima, diferentemente da apresentação do Lolla, no ano passado, em que o cancelamento de um show menor chegou a acontecer, por causa de uma pane vocal de Matt Bellamy (relembre). Agora, não. O trio está redondinho no palco, o que é fundamental para uma banda que se acostumou a usar seus instrumentos repletos de efeitos eletro-eletrônicos e que conta mais claramente, a olhos vistos, com o acréscimo do tecladista Morgan Nicholls. E também com maior participação vocal de Christopher Wolstenholme e seu baixo repleto e luzes coloridas que parece enfeite de arbusto perto do Natal.
São cinco as músicas de “Drones” incluídas, sendo quatro já no início, o que curiosamente não compromete. Ao contrário, o público parece ter assimilado muito bem o novo disco, e canta tudinho. “Reapers”, para ser ter uma ideia, tem um cantarolar que a música sugere de berço – diga – se -, mas que se estende até quando Bellamy se atreve em um solo, com um nível Joe Satriani de dar gosto. A mais interessante, contudo, é “Mercy”, que abre o bis com o som mais no talo ainda, e que, mesmo sendo uma das mais pesadas do novo material, também tem o aprovo do povão, muito embora a plateia se ocupe mais em furar os balões gigantes recheados de confetes do que com a música propriamente dita. E a novidade que de certa forma cala os fãs de horas mais recentes é a inesperada - eles não são de mudar o set list de um show para outro – “Muscle Museum”, resgatada do álbum de estréia, “Showbiz”, de 1989, tocada nessa turnê pela primeira vez. No fundo, parece ela a música nova. Matt curtiu.É preciso anotar, também, que o set list dessa turnê não é lá muito bem engendrado. Se mostra a familiarização da garotada com o novo repertório, tem momentos de pico alucinantes e outros de fazer o sujeito mudar de canal na hora. O início, por exemplo, com “Psycho” impulsionada pelo telão, a já citada “Reapers” e uma “Plug In Baby” amplamente consolidada por uma tecladeira guitarrante é de fazer o sujeito que está atrasado por causa da dificuldade de chegar à Arena se rasgar de raiva. Enquanto, lá dentro, o pula-pula vem no instinto. A sequência final, antes do bis, que começa com uma saturada “Supermassive Black Hole”, maior prova de que o Muse compreendeu o rock com sintetizadores, e termina com “Uprising” com ares de consagração, passando pela irresistível “Starlight” e seu peculiar bater de palmas é também de levantar defunto. O que acontece entre esses dois blocos, à exceção de hits como “Hysteria”, é que amarga um implacável tédio.
E, ainda, que uma banda estourada pelo Globo, já com sete álbuns de carreira, não pode tocar por protocolares 90 minutos. Quando se tem história e material para ir mais adiante, é preciso ir, ora essa. Não que o público, a bem da verdade, se importasse com isso. Em tempos de informação circulando galopantemente, todo mundo já sabe o que vai acontecer e é raro alguém pedindo algo diferente em um show. Mas o que a banda mais gosta – e o público sabe disso – é do corinho de “olê, olê, olê, olê, milzê, milzê”, que o baterista de nome macio Dominic Howard adora acompanhar. Resta saber, por fim, se o público reconhece as referências ao Rush, inspiração da estonteante “Knights of Cydonia”, e ainda citado no desfecho de “Interlude”; e “Radio Ga Ga”, do Queen, que habita a nova “Dead Inside”. De um modo ou de outro, porém, a diversão é garantida, do início ao fim.Na abertura, o Kita, renovado pelos últimos tempos, em que estrelou um programa de TV de gosto duvidoso, se sai muito bem. A banda consegue arrancar certa empolgação do público na parte final, em que pese um grupinho mais animado que exerce influência nos demais. O show começa com o repertório tocado de modo mais orgânico, sem a predominância de efeitos eletrônicos, e músicas como “You”, que já toca nas rádios, se destacam. Na parte final, referências do rock dançante dos anos 80 se misturam as do nu-metal – bem forte no quinteto – e um bem-vindo sotaque pop aparece em “Nature’s Own Desire”. Um bom show que realça a performance da vocalista Sabrina Sanm e que conta com uma boa qualidade de som, apesar do volume mais baixo, o que é comum em aberturas.
Set list complete Muse:1- Psycho
2- Reapers
3- Plug In Baby
4- The Handler
5- The 2nd Law: Unsustainable
6- Dead Inside
7- Interlude
8- Hysteria
9- Muscle Museum
10- Apocalypse Please
11- Munich Jam
12- Madness
13- Supermassive Black Hole
14- Time Is Running Out
15- Starlight
16- Uprising
Bis
17- Mercy
18- Knights of Cydonia
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