O Homem Baile

Fora de hora

Retirado de recesso para compor novo álbum, Muse vem ao Lollapalooza preguiçoso e (já!) fora de forma; no aniversário da morte, Kurt Cobain é homenageado. Foto: MRossi/Divulgação T4F.

muselolla-1É a urgência da música pop dos nossos tempos. Cerca de seis meses depois de fazer um dos melhores shows do Rock In Rio, o Muse volta ao Brasil, dessa vez como headliner do Lollapalooza, sem o mesmo brilho. Não que o show não tenha sido bom e não tenha agradado, muito ao contrário. O verdadeiro reservatório de gente que se formou em frente ao Palco Skol, em função da ingrata topografia do Autódromo de Interlagos era coisa bonita de ser ver. E, embora o repertório tenha sido bem modificado – oito músicas diferentes entraram no set list - em relação ao show de setembro, os grandes hits do trio estavam lá. E teve até Nirvana.

Ocorre que, em setembro, o Muse estava no meio de uma grande turnê mundial, e, afiadíssimo, fez uma apresentação inspirada no Rock In Rio, com tudo bem tramado e funcionando a mil maravilhas (veja como foi). Explica-se que o trio atingiu uma maturidade tecnológica que impõe esse comportamento por vezes até robótico, mas em sintonia com os excessos aos quais propositadamente chegou. O show de ontem, ao contrário, parecia de uma banda que estava curtindo férias e saiu da letargia para o palcão do Lolla. E não só por conta da barbicha mal cuidada do vocalista/guitarrista Matt Bellamy e pelas roupas fora de figurino do trio. As informações que dão conta de que o show de aquecimento que seria realizado na quinta foi cancelado por causa de uma laringite diagnosticada em Bellamy (saiba mais) reforçam a condição de banda fora de forma tocando fora de hora num festival, realçada na apresentação de ontem.

A rigor, a grandiosa turnê do álbum “The 2nd Law”, emendada em outra, a The “Unsustainable Tour”, já acabou faz tempo. Tanto que o giro está registrado no DVD “Muse - Live At Rome Olympic Stadium, July 2013″, que agora faz parte da história. E as notícias sobre o Muse já têm girado em torno da composição de um novo álbum, que o grupo promete que seja um “disco mais rock”. É aí que entra o repertório do show de ontem, em que apenas quatro músicas dos dois últimos álbuns, o já citado “The 2nd Law” (2012) e “The Resistance” (2009) foram contempladas. É o Muse se afastando dos exageros tecnológicos que já passaram do limite há tempos, muito embora tenham encontrado o auge do reconhecimento junto com o trio nos últimos anos. E mais: buscando abrigo em sua própria história para seguir em frente.

Enquanto isso não acontece, propostas do tipo irrecusáveis como essa do Lolla e a do Coachella, na Califórnia, onde o grupo toca em uma semana, são aceitas sem titubear. E o público de São Paulo, somado a cada vez maior quantidade de forasteiros, nada tem a ver com isso e se esbalda com o show do Muse, seis anos depois; os mini shows de abertura para o U2 em 2011 não entram nessa conta (relembre). E, integrantes cansados ou fora de forma, com muita ou pouca voz, o Muse já tem músicas eternizadas no inconsciente coletivo do rock de modo a enlouquecer uma plateia do naipe dessa da do Lollapalooza. Por isso músicas como “Starlight” e seu específico e obrigatório bater de palmas; “Hysteria”, dessa vez com uma sutil citação ao Rush, referência obrigatória para qualquer power trio; e “Uprising” continuam seduzindo a plateia de uma forma ou de outra.

O momento especial, contudo, é a bela homenagem do trio ao líder do Nirvana, Kurt Cobain, no dia em que sua morte completa 20 anos. A inclusão de “Lithium”, logo no início, fez o público sair literalmente do chão e nos coloca a pensar por que um festivalzão desses não fez, durante todo o dia, homenagens semelhantes ao – quem sabe – último grande ícone do rock mundial. Feita a parte dele, o Muse tocou o barco se resolvendo ao vivo, com o tecladista Morgan Nicholls fazendo das suas (lindo o realce dele em “Bliss”, uma das que ficou de fora no Rio); Matt Bellamy poupando a combalida voz e colocando o povão pra canta, na grade (!); e fazendo o arremate mais que perfeito com “Knights of Cydonia”, espetacular peça do rock progressivo contemporâneo. Foi bom, sim, mas já foi melhor.

Set list completo:

1- New Born
2- Agitated
3- Lithium
4- Bliss
5- Plug In Baby
6- The 2nd Law: Unsustainable
7- Butterflies & Hurricanes
8- Liquid State
9- Madness
10- Hysteria
11- Starlight
12- Time Is Running Out
13- Stockholm Syndrome
14- Yes Please
Bis
15- Uprising
16- Knights of Cydonia

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