O Homem Baile

Atípico

Com pouco tempo, Nightwish barra sucessos radiofônicos, mira mudanças e tem recepção fria no Rock In Rio. Fotos Divulgação Rock In Rio: Adil Guedes/Estácio (1) e Diego Padilha/I Hate Flash (2, 3 e 4).

A agora confirmada vocalista Floor Jansen manda bem em músicas de todas as fases do Nightwish

A agora confirmada vocalista Floor Jansen manda bem em músicas de todas as fases do Nightwish

Em tese, o Nightwish pode muito bem ser tratado como co-headliner do último sábado, no Palco Sunset, no Rock In Rio, ao lado do guitarrista Steve Vai. O que, na prática pouco representa, uma vez que o tempo para cada um é a mesma meia horinha, um empecilho e tanto para uma banda grandiloquente como o Nightwish. Que ainda tem que lidar com o convidado (e gente fina) Tony Kakko, o vocalista do conterrâneo Sonata Arctica. Ele entra para cantar em duas músicas, sem ajudar tampouco atrapalhar. São elas “The Islander” e “Last Ride of the Day”, curiosamente uma de cada um dos álbuns da fase com a vocalista Anette Olzon, as únicas em todo o set. Período que, ao que parece, está em baixa na cabeça do comandante Tuomas Holopainen.

Porque o show segue basicamente o roteiro da turnê do novo álbum, “Endless Forms Most Beautiful”, lançado este ano, que cruza o Brasil, inclusive (saiba mais), só que com uma substancial redução de 17 para 10 músicas, de modo a que tudo se encaixe na tal uma horinha de show. E, aí, é uma questão de opções. É de se respeitar quem inclui a exuberante “Ghost Love Score”, com longos 10 minutos de duração, mas o procedimento não pode ser a causa da barração de hits radiofônicos (sim, eles têm) como “Nemo” e “Amaranth”. Com o som estalando de novo, num volume generoso, essa verdadeira peça do heavy metal + erudito contemporâneo, tem um desfecho soberbo para o conceito de “experiência única” do Palco Sunset.

O iluminado Tuomas Holopainen, que já impõe mudanças com essa nova formação do Nightwish

O iluminado Tuomas Holopainen, que já impõe mudanças com essa nova formação do Nightwish

A escolha, no entanto, reforça que o chefão Tuomas Holopainen se afasta da busca pela perfeição pop e se reaproxima da erudição etérea que marcava o Nightwish em tempos idos. A própria confirmação da cantora Floor Jansen, com um rage de variação vocal estupendo, como integrante fixa, no lugar de Anette Olzon (esqueçamos as brigas), de sotaque mais pop, e também do multi-instrumentista Troy Donockley, um ás de instrumentos alternativos para o meio, corrobora a tese, cujas suspeitas já foram plantadas no disco novo. A paisagem do palco, com Floor descentralizada e Tuomas na mesma “linha” que ela pode ser só implicância, mas parece que Tuomas, compositor excepcional, está aprendendo a lidar com essas cantoras maravilhosas.

Além da presença de palco grandiosa, física, inclusive, Floor Jansen consegue cantar com perfeição músicas de várias fases da banda, sobretudo as que foram gravadas com Tarja Turunen, uma soprano realmente peculiar. Por isso, manda muito bem em músicas como “Stargazers”, uma novidade em relação ao show da turnê que passou pelo Brasil em 2012 (veja como foi no Rio). Mas, com a redução do set, o potencial dela acaba mal aproveitado, com o baixista Marco Hietala cantando em algumas músicas escolhidas, como a boa “The Islander”, por exemplo. Quando Hietala, de saias e tudo, pluga um baixo do tipo “double neck”, o volume sobe tanto que estoura um pouco o som; pior para Holopainen e para o guitarrista Empu Vuornen, cada vez mais subutilizado no conjunto da obra dos arranjos criados pelo tecladista.

O cada vez mais subutilizado guitarrista Empu Vuorinen, e a cantora Floor Jansen agitando no fundo

O cada vez mais subutilizado guitarrista Empu Vuorinen, e a cantora Floor Jansen agitando no fundo

Considerações postas de lado, o set list, embora atípico, não é todo ruim. Mas, mesmo assim, o bom público no entorno do palco não parece dos mais animados e recebe a banda, salvo exceções ali na frente, com uma frieza nórdica. Nem mesmo a clássica “Wishmaster”, pesada e veloz para os padrões do Nightwish, consegue a empolgação vista, por exemplo, no Circo Voador lotado há três anos. Contribui o fato de o roteiro do show ter várias entradas e saídas de integrantes e convidados, além de trechos de temas pré-gravados, cortando a sequência como um todo. E, ainda, a diversidade do público em um festival gigante como o Rock In Rio, mesmo numa atípica noite de rock pesado e com o menor público até aqui. Ou seja, valeu a experiência do Palco Sunset, mas essa turnê do Nightwish tem que passar pelo Rio com o show inteirinho. No aguardo.

Set list completo:

1- Shudder Before the Beautiful
2- Yours Is an Empty Hope
3- Wishmaster
4- My Walden
5- Weak Fantasy
6- Stargazers
7- The Islander
8- Last Ride of the Day
9- Ghost Love Score

O baixista figuraça Marco Hietala, que também assume os vocais em algumas músicas durante o show

O baixista figuraça Marco Hietala, que também assume os vocais em algumas músicas durante o show

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