O Homem Baile

Aprovado

Com nova vocalista e repertório bem sacado, Nightwish vibra com a pressão de um Circo Voador lotado. Fotos: Bruno Eduardo.

Pode contratar: Floor Jansen solta a voz e com boa performance de palco conquista os fãs do Nightwish

Pode contratar: Floor Jansen solta a voz e com boa performance de palco conquista os fãs do Nightwish

Melhor a emenda que o soneto. Na segunda mudança de vocalista, o Nightwish parece ter acertado a mão com – a até agora provisória – Floor Jansen. É o que concluem as mais de duas mil pessoas que lotaram o Circo Voador, ontem, no Rio. Primeiro que a procura pelos ingressos aumentou depois que a ex-vocalista do After Forever – que já tocou no mesmo Circo em duas oportunidades – foi anunciada em tempo recorde como substituta de Anette Olzon (entenda aqui). Depois que Floor demonstra uma incrível versatilidade, é soprano como Tarja Turunen e tem a presença de palco que sempre faltou à Olzon. Coisa que o fã do grupo já sabia, mas que ficou latente na acachapante apresentação de ontem. Quatro anos depois de um show apenas razoável, o Nightwish conheceu a pressão da mítica lona voadora.

O chefão Tuomas Holopainen controla os teclados

O chefão Tuomas Holopainen controla os teclados

Floor se impõe de cara pela presença física e por ser do ramo. Sacode a cabeleira semi-agachada como reza a tradição do metal e exibe as belas pernas cobertas por meias transparentes, para delírio dos fãs babões da fila do gargarejo. A vocalista se impressiona com a reação da plateia: “Eu ia pedir para vocês gritarem alto, mas vocês já estão berrando o tempo todo”, disse antes de iniciar “Nemo”, o maior sucesso do Nightwish em todos os tempos. O repertório é muito bem sacado, cobrindo épocas diferentes da banda e colocando à prova a versatilidade que soa como algo espontâneo para Jansen. A cantora força a voz no final de músicas como “Ever Dream” e “Ghost Love Score” e, em meio a um barulho dos diabos, recebe o reconhecimento do público, que aplaude copiosamente.

A figura central do grupo, entretanto, está, franzina, à esquerda do palco, rodeada de teclados. O sujeito que em pleno 2012 ainda considera o heavy metal fechado no próprio gueto pode não reconhecer, mas Tuomas Holopainen é compositor de mão cheia e já circula pelos meandros pop há muito tempo. É ele quem compõe músicas colantes como a já citada “Nemo”, a prima dela, “Amaranth” e tantas outras do disco mais recente do grupo, “Imaginaerum”, como “Storytime”, que abriu os trabalhos em grande estilo, e mesmo a omitida “Rest In Calm”. É curioso que Holopainen tenha cometido um dos melhores álbuns do ano passado, justamente com a vocalista que fracassou nos palcos. A lição que fica é a de que testar antes, no palco, e depois em estúdio é o jeito certo de fazer as coisas.

Emppu Vuorinen: guitarrista tem pouco a fazer

Emppu Vuorinen: guitarrista tem pouco a fazer

A imponência – musical de Tuomas e vocal/física de Jansen – deixa pouco espaço para Emppu Vuorinen fazer das suas. Chega a ser intrigante como, numa das bandas mais bem sucedidas do metal, o guitarrista seja elemento pra lá de secundário. Ainda mais com a presença do convidado Troy Donockley, um inglês com aspecto nórdico que manda muito bem na gaita de foles, reproduzindo os climas celtas/folks de “I Want My Tears Back”, uma das melhores da noite, e na excepcional instrumental “Last Of The Wilds”. O clima de fanfarra/quermesse contagia o público num belo espetáculo de interação com a banda. E pensar que o ponto de partida é “Over The Hills And Far Away”, que Gary Moore eternizou com estupendos fraseados de guitarra, agora com a flauta de Donockley dando o tom.

Contradições e detalhes à parte, o que conta são as boas músicas e a performance dessa formação no palco. No que se percebe o élan de aprovação, não só pela extraordinária reação da plateia, como pela resposta da banda. A durona Floor Jansen, por exemplo, quase chora ao final de “Ghost Love Score”, uma daquelas peças épicas que Tuomas gosta de incluir a cada álbum. A música, com mudanças de andamento a dar com o pau, é prova der fogo para qualquer gogó. Outra desse naipe é “Wishmaster”, uma das preferidas do público e que requer mais da banda como um todo, mas que não pode ficar der fora. É certo que hora e meia é pouco para uma banda de sete discos e tantas fases, mas a nau atribulada do Nightwish parece ter encontrado um novo rumo pela frente. No Rio, o aval já foi dado.

Versatilidade: Floor é soprano como Tarja Turunen e tem a presença de palco que falta à Anette Olzon

Versatilidade: Floor é soprano como Tarja Turunen e tem a presença de palco que falta à Anette Olzon

Set list completo
1- Storytime
2- Dark Chest of Wonders
3- Wish I Had an Angel
4- Amaranth
5- Scaretale
6- I Want My Tears Back
7- The Crow, the Owl and the Dove
8- Nemo
9- Last of the Wilds
10- Wishmaster
11- Ever Dream
12- Over the Hills and Far Away
13- Ghost Love Score
14- Song of Myself
15- Last Ride of the Day

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Comentários enviados

Existem 8 comentários nesse texto.
  1. roberta em dezembro 11, 2012 às 11:14
    #1

    Concordo com tudo. Esse é um excelente resumo da noite fenomenal de ontem!! Fui esperando um bom show e recebi algo épico em troca!

  2. Josi em dezembro 11, 2012 às 11:26
    #2

    Como um jornalista pode dizer que o guitarrista da banda é um “elemento secundário?” E como pode deixar de falar do baixista, que é o que mais tem presença de palco e um dos mais queridos? Acho que ele só viu o Tuomas e a Floor lá.

  3. Rodrigo em dezembro 11, 2012 às 13:55
    #3

    “Emppu Vuorinen: guitarrista tem pouco a fazer”, “deixa pouco espaço para Emppu Vuorinen fazer das suas. Chega a ser intrigante como, numa das bandas mais bem sucedidas do metal, o guitarrista seja elemento pra lá de secundário.” Sou um dos admiradores desta ótima banda e algo que posso falar é: isto é uma banda. Sim, uma banda. Creio então que é composta por mais de um membro e cada um tem sua importância e seu mérito em cada música. O que falar desta banda sem falar de seu baixista e vocalista que tem uma poderosa voz e presença em cima do palco? De um tecladista e principal letrista e arranjador da banda? Claro deste você falou mais. E a pegada daquele baterista e de seu guitarrista? Você acha mesmo que ele, o guitarrista, foi tão apagado assim? Como pensar em Nightwish sem pensar nos solos de guitarra dele? Você acha mesmo que as composições do Tuomas seriam as mesma sem todos estes elementos? Agora essa briguinha de moça para ver quem é a melhor vocalista e a qual eles acertaram já encheu o saco. Todas, até a provisória aí tem seu brilho, mas algo me deixa intrigado quando você cita a deficiência da presença de palco de Anette e deixa no ar que a Tarja era quase um Bruce Dickinson, sendo que a presença de palco dela, Tarja, também era recatada e principalmente nas suas roupas. Quando você cita a cena da perna para marmanjos babarem, deixa no ar que a Tarja fazia o mesmo, quando era o contrário. Para finalizar este breve comentário: você me aparenta ser apenas um viúvo da Tarja e mais um dos inquisidores contra a Anette. Em minha opinião, todos álbuns do Nightwish trazem algo bom mas, o último, com a vocalista mais odiada pelos “fãs” da banda é sem sombra de duvido o mais genial. Não entendam isso como algo desmerecedor dos álbuns anteriores, muito pelo contrário.

  4. Marcos Bragatto em dezembro 11, 2012 às 14:17
    #4

    Concordo. “Imaginaerum” é o melhor disco do Nightwish. Votei nele como um dos dez melhores do ano passado, e não só na “categoria metal”.

  5. Gabriela em dezembro 11, 2012 às 14:38
    #5

    Concordo com tudo que foi dito, mas só uma coisa que infelizmente tenho que discordar é de que ‘Nemo’ não é o maior sucesso deles, e sim, ‘Wishmaster’. Quando lançaram ‘Nemo’, eles conseguiram atingir um outro público, que foi o dos adolescentes, pelo fato de rolar na MTV e etc… Digo isso pois fui no show deles (na época, ATL Hall, se não me engano) na turnê desse CD e o que tinha mais eram adolescentes mesmo. Não digo que isso é ruim. Mas dizer que é a música top deles, isso é errado. Mas foi um belíssimo show e já imaginava pois a Floor arrebenta e isso já foi provado na época do After Forever.

  6. Natacha em dezembro 11, 2012 às 18:56
    #6

    Ótima resenha. Acredito que só faltou o autor citar a imponente competência do Marco Hietala. Ele também foi um show a parte, junto com a Floor! :)

  7. Frederico em dezembro 12, 2012 às 7:20
    #7

    Show muito bom… Acho apenas que merecia um lugar melhor… No Vivo Rio ficaria mais confortável…

  8. Adriana Maroco Cruzeiro em novembro 23, 2013 às 7:51
    #8

    Adoro o estilo de música do Nightwish, é a minha preferência, esse Tuomas é talentosíssimo, me impressiona, sem dúvida… Mas o grupo, como o próprio nome, é um “grupo”, “banda”, todos são importantes e necessários. No tempo da Tarja era melhor, o que não tira o mérito atual. Continuo gostando, ouço no carro a qq hora, arrumando casa… etc… adoro!!

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