Saturado
Em noitada de rock no Circo Voador, Cachorro Grande mostra guinada sonora cheia de efeitos, sem deixar de lado os hits; Far From Alaska cativa público e The Outs segue em viés de alta. Fotos: Nem Queiroz.
No afã de marcar a nova fase, contudo, o grupo tem um som de palco saturado cuja sonoridade se torna padrão em quase todas as músicas. O volume é altíssimo, formando uma muralha sonora que interfere pesadamente em todos os arranjos, de modo que os efeitos escondidos aqui e acolá sufocam os instrumentos no desempenho individual de cada um. Quem mais sofre é o guitarrista Marcelo Gross, que só consegue ser ouvido em alguns solos, uma vez, que, no desenrolar das músicas, os detalhes das versões originais se perdem em meio a essa maçaroca sonora criada lá em cima, na mesa de som. Não fosse Gabriel Azambuja um mão de marreta inveterado, a bateria também teria desaparecido completamente. Como o procedimento não é exclusividade das músicas novas, todo o repertório é afetado.

Dupla infernal: o guitarrista Marcelo Gross, que sofreu como os efeitos no palco, e o viajante Beto Bruno
Entre as novas, “Como Era Bom”, hit nato por conta de uma sequência de teclados preciosa, é disparado a melhor da noite, mesmo para aqueles que ainda não se familiarizaram com o disco novo - e já tem um ano minha gente! Mas “Eu Não Vou Mudar” também funciona muito bem - aí sim! -, com os efeitos eletrônicos embalando a música com uma identidade das mais interessantes. Beto Bruno não se intimida e Marcelo Gross entra no clima com a destreza que lhe é peculiar. A repetição do verso “Eu não vou mudar” acompanhada do crescente instrumental saturado se sai muito bem, muito embora o recado principal seja “apesar de você aqui sempre vai ser um bom lugar pra se viver”. Ou seja, com um ajustezinho lá na mesa de som dá para as várias fases dessa banda já rodada se relacionarem muito bem.

Far From Alaska e o som peculiar: o baixista Edu Filgueira e a vocalista e tecladista Cris Botarelli
Nada que estrague a noite, muito porque o entrosamento das vocalistas Emmily Barreto e Cris Botarelli (também tecladista) só cresce, e porque a banda, honra seja feita, se garante em cima de um placo. As músicas mais legais são “Mama”, uma das mais colantes, em que Emmily solta um insuspeito falsete; “Rolling Dice”, com uma marcação de guitarra das boas; “Monochrome”, espécie de protótipo refinado da fusão rock e eletrônica do grupo; e “Communication”, outra pérola pop antes de ser deliciosamente pesada.
Mais cedo, o local The Outs mostra que segue crescendo em cima de um palco: o show dos caras só melhora. E olha que dessa vez uma pane em um cabo de guitarra quase estraga o início. O indisfarçável sotaque britânico Oasis/Beatles/Who realça a boa “Once Before”, e “Ainda me Lembro” se sobressai por grande força vocal (os três cantam) e pelo élan psicodélico. Pra ficar legal mesmo o grupo poderia cessar o rodízio de instrumentos e optar por um idioma só. Podem botar fé.

The Outs: a turma toda reunida pra tocar rock com sotaque britânico de várias épocas e muita psicodelia
1- Você Não Sabe o Que Perdeu
2- Hey Amigo
3- Que Loucura
4- Deixa Fuder
5- Nuvens de Fumaça
6- Eu Não Vou Mudar
7- Como Era Bom
8- Crispian Mills
9- Use o Assento Para Flutuar
10- O Que Vai Ser
11- Lunático
12- Bom Brasileiro
13- Roda Gigante
14- Dia Perfeito
15- Sinceramente
16- Sexperienced/Holidays In The Sun
Bis
17- Helter Skelter
Set list completo Far From Alaska:
1- Thievery
2- Another Round
3- Deadmen
4- Politiks
5- Rolling Dice
6- Communication
7- Rainbows
8- Mama
9- About Knives
10- Dino Vs Dino
11- Monochrome
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