O Homem Baile

Estabilizado

Cachorro Grande encontra equilíbrio de repertórios em ótimo show no Rio; De Falla faz espécie de ensaio de estreia da nova formação, agora como trio. Fotos: Nem Queiroz.

O vocalista do Cachorro Grande, Beto Bruno, segue como um dos melhores frontman do rock nacional

O vocalista do Cachorro Grande, Beto Bruno, segue como um dos melhores frontman do rock nacional

Que o Cachorro Grande se esforce para não se transformar em uma reles banda de animação de baile tocando para sempre os mesmos sucessos, tudo bem. Que o Cachorro Grande dê uma guinada anglo-eletrônica em sua carreira, identificada com a Manchester dos anos 90, tudo bem também. Que o Cachorro Grande prepare uma trilogia de discos (dois já saíram) com essa tal orientação e a produção de Edu K, tudo ótimo. Mas um show do Cachorro Grande tem que ser um show do Cachorro Grande e ponto final. E, ao que parece, é essa a conclusão a que o grupo chegou, com o repertório mais equilibrado do que em ocasiões recentes (relembre o show do ano passado), nesta sexta (7/10), no Imperator, no Rio.

Porque se tem as músicas mais recentes, como “Tarântula”, que abre a noite com um nível de saturação máxima, tem também a por vezes esquecida “Vai T. Q. Dá”, do álbum de estreia, de 2001. Se brilha com “Como Era Bom”, extraordinária peça pop rock de grudar na caixola por anos a fio, de “Costa do Marfim”, o primeiro disco de viés eletrônico, não deixa de fora “Desentoa”, a disco rock setentista que está de volta aos shows. E isso sem que uma música receba o arranjo de outra, ou seja, cada coisa no seu lugar, cada camisa combinando com sua calça. Entre as novas, do álbum “Electromod”, a faixa título, uma ode ao combate à caretice, e não um libelo antidemocrático como se pinta por aí, tem grande impacto, e “Subir é Fácil, Difícil é Descer”, cantada pelo baixista Rodolfo Krieger, revela inusitado encontro de Oasis com Happy Mondays.

Em mais uma noite inspirada, o debulhador Marcelo Gross empunha a guitarra com muita propriedade

Em mais uma noite inspirada, o debulhador Marcelo Gross empunha a guitarra com muita propriedade

Em boa forma, Beto Bruno (“menos gordo que o Edu K”, acredita ele) segue como um dos grandes frontman do rock nacional, como se vê especialmente em “Limpol no Astral”, outra das novas, com ênfase no trabalho conjunto dos teclados de Pedro Pelotas e do guitarrista Marcelo Gross; na baladaça com vocação pra tal “Sinceramente”; e em “Conflitos Existenciais”, bem no início, quando Gross já mostra sinais de estar em noite inspirada. Mesmo assim, Bruno sai de cena para que outros integrantes assumam os vocais em um bloco na parte final com “Deixa Fuder”, pedrada cantada por Krieger, “Dia Perfeito” e “O Que Você Tem?”, ambas com o gogó de Gross. O baterista e terror dos tambores Gabriel Azambuja (que parece um tanto mal humorado) cede o lugar para Raphael Paci, do Highjack, na mesma “Dia Perfeito”. É a deixa para Gross rasgar elogios para a nova safra de bandas cariocas, citando ainda o The Outs

Mas o guitarrista não está no palco para fazer análises, e quando menos se espera lá está ele debulhando a guitarra sem dó nem cerimônia; liberem a psicodelia do cara! É o que se vê em “Bom Brasileiro”, na parte final, em um solo inspirado, ou mesmo em “Nuvens de Fumaça”, e dá-lhe fantasma do Who aqui e acolá. Mas o ponto alto dessas viagens é quando os músicos se aproveitam do entrosamento de uma formação que já dura mais de 10 anos para fazer o queixo de todos cair em “Vai T. Q. Dá”, numa improvisação instrumental sensacional. A duplinha Gross/Krieger também apronta no desfecho de “Roda-Gigante”, surpreendendo mesmo os demais integrantes. Ou seja, é o novo Cachorro Grande tocando junto com o bom e (por que não?) velho Cachorro Grande. Melhor assim.

Divertimento da cachorrada: o baixista Rodolgo Krieger é acarinhado pelo vocalista Beto Bruno

Divertimento da cachorrada: o baixista Rodolgo Krieger é acarinhado pelo vocalista Beto Bruno

Surpresa mesmo foi a apresentação do De Falla, na abertura, que apareceu sem o baixista Carlo Pianta e a baterista Biba. Na bateria, assume Vandinho Carvalho, com Castor na guitarra e Edu K nos vocais – isso mesmo, sem baixista. Edu já anuncia de início que o show é “ensaio geral”, e a banda toca 15 músicas no talo, umas coladas nas outras. Ou, por outra, são divididas em três blocos (rounds, como no videogame), com muita coisa pré-gravada para compensar a ausência de uma banda completa e de mais ensaio; foi apenas um, segundo consta. Assim, no repertório, as músicas do novo álbum, “Monstro”, aparecem bem descaracterizadas, diferentemente do show de lançamento, em junho, na Lapa (relembre).

Daí a inclusão de muitos covers, e não só os já clássicos do De Falla, como “(I Can’t Get No) Satisfaction”, dos Stones, ou “Como Vovó Já Dizia”, de Raul Seixas, mas coisas de Faith No More e Red Hot Chili Peppers (“Give It Away” sem a linha de baixo não rola). Tudo com Edu cantando como se fosse um rapper e Castor travadaço, meio sem saber exatamente o que fazer em cada música, uma coisa visivelmente improvisada e/ou pouco ensaiada. Teve ainda, na segunda metade, “Screw You! (Susy Doll)” (atendendo a pedidos) e “Popozuda Rock N Roll”, mas o planejado retorno para o bis com o clássico “Não Me Mande Flores” não aconteceu, e aí sempre especula-se sobre um mau humor dos músicos. Tudo bobagem das Candinhas de plantão.

O guitarrista Castor e o vocalista Edu K, ambos remanescentes da formação clássica do De Falla

O guitarrista Castor e o vocalista Edu K, ambos remanescentes da formação clássica do De Falla

Segundo a reportagem do Rock em Geral apurou junto a Edu K, essa é a nova formação, embora haja dúvidas por parte da permanência de Pianta, e o agora trio deve seguir na linha do álbum “Kingzobullshitbackinfulleffect92”, um dos preferidos dos fãs. Quanto ao show desta noite, ou logo será esquecido pelo ralo público que chegou mais cedo no Imperator, ou vai entrar para a história como o marco do início de uma formação bem sucedida no futuro. E, vamos e venhamos, era mesmo difícil esperar que a banda brasileira mais inquieta de todos os tempos fosse se manter estável. Contudo, fica como herança da volta dessa formação clássica o disco “Monstro”, desde já um dos melhores lançamentos desse ano.

Set list completo Cachorro Grande:
1- Tarântula
2- Electromod
3- Hey Amigo
4- Conflitos Existenciais
5- Desentoa
6- Subir é Fácil, Difícil é Descer
7- Limpol no Astral
8- Que Loucura!
9- Como Era Bom
10- Nuvens de Fumaça
11- Bom Brasileiro
12- Roda-Gigante
13- Deixa Fudê
14- Dia Perfeito
15- O Que Você Tem?
16- Vai T. Q. Dá
17- Sinceramente
18- Lunático
19- Sexperienced
Bis
20- Você Não Sabe o Que Perdeu

Estreia da formação de trio do De Falla: além de Castor e Edu K, o baterista Vandinho Carvalho

Estreia da formação de trio do De Falla: além de Castor e Edu K, o baterista Vandinho Carvalho

Set list completo De Falla:
Round One
1- Zen Frankestein
2- Sossego
3- (I Can’t Get No) Satisfaction
4- Caminha (Que Aqui é de Osasco)
5- Como Vovó Já Dizia (Óculos Escuros)
6- Epic
Round Two
7- Dez Mil Vezes
8- Timothy Leary
9- Veneno
10- Repelente
11- Give it Away
Final Round
12- It’s Fucking Boring to Death
13- Screw You! (Susy Doll)
14- Amanda
15- Popozuda Rock N Roll
Bis
16- Não Me Mande Flores (não foi tocada)

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