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Metalmorphose consolida boa fase em show de lançamento do novo álbum; Salário Mínimo toca clássicos do metal oitentista na abertura. Fotos: Michael Meneses.

Metalmorphose: o guitarrista Marcos Dantas, o baixista André Bighinzoli e o guitarrista PP Cavalcante

Metalmorphose: o guitarrista Marcos Dantas, o baixista André Bighinzoli e o guitarrista PP Cavalcante

Poderia ser apenas uma noite para revirar a memória dos mais rodados – o que já seria bom -, mas o Metalmorphose não se intimidou e mostrou um bom punhados de músicas novas, no show de lançamento do álbum “Fúria dos Elementos”, ontem (11/7), no Rio Rock Blues, ops, Rio Experience, no Rio. Explica-se que o grupo é referência do metal nacional dos anos 80, mas, desde que voltou à ativa, vem construindo paulatinamente uma nova fase com material inédito, culminando em uma apresentação sólida e em sintonia com os novos tempos. Na abertura, a formação afiada do Salário Mínimo, outra lenda do metal nacional oitentista, contudo, não esconde o cheiro de naftalina de um repertório – aí, sim – apenas para saudosistas de plantão.

Não é ao acaso que o metal brasileiro dos anos 80 tem uma substancial turma de seguidores mundo afora. Influenciados pela chamada “new wave of british heavy metal”, ou simplesmente NWOBHM, as bandas dessa época têm uma sonoridade peculiar e comum entre elas. É por isso que “Vá Pro Inferno” inicia o show do Metalmorphose fazendo lembrar Viper, o grande ícone do período, e até Iron Maiden do início, matriz comum para todos naqueles anos. A música, que detona os pseudo religiosos dos nossos tempos, contudo, é a ponte que mostra como essa mesma sonoridade pode ser atual, num aviso de como o show se desenrolaria. “Ninguém é Maior Que Você”, de temática adolescente e com belas guitarras entrecruzadas, é outro exemplo do bom material encontrado em “Fúria dos Elementos”.

O bom vocalista do Metalmorphose, Tavinho Godoy, para quem o tempo parece não passar

O bom vocalista do Metalmorphose, Tavinho Godoy, para quem o tempo parece não passar

A consolidação da formação, com o guitarrista Marcos Dantas (Azul Limão, X-Rated) duelando com PP Cavalcante é um trunfo que explica a solidez da banda. Juntos, eles destroem na boa “Luta e Glória”, de tonalidade épica, outra das novas; em “Me Leve Embora”, essa com certo groove do baixo cavalar de André Bighinzoli; e em “Harpya”, desenterrada do EP “Ultimatum”, segundo André, a pedidos, na qual a duplinha Marcos/PP lidera uma jam instrumental das boas. A música tem a participação do cascudo tecladista Helvécio Parente, que se faz notar mesmo sob a cavalar bateria do outro André, o Delacroix, e com os instrumentos em um volume de rachar tímpano de fã do Motörhead. E isso é muito bom.

E também ressalta o poder de fogo de Tavinho Godoy, para o qual o tempo parece não passar. Com o gogó intacto, ele segue atingindo as notas mais altas sem muita dificuldade e cantando com a afinação que as músicas exigem em suas versões de estúdio, ou até indo além. Não é qualquer um que canta “Satã Clama Metal”, clássico absoluto do Azul Limão, incluído no set para delírio geral, com tanta precisão. Outras das antigas cantadas em coro pelo público pequeno, mas participativo, são “Cavaleiro Negro”, logo no início, e a pitoresca “Minha Droga é o Metal”, no encerramento. Essa com outro daqueles duelos de guitarras de fazer lembrar o embrião das twin guitars britânicas dos anos 60/70. Ótimo desfecho que reforça a mensagem de não parar de lançar material novo. No começo pode parecer difícil, mas a sensação, no fim das contas, é libertadora.

O superman André Bighinzoli e PP Cavalcante mostram entrosamento no show do Metalmorphose

O superman André Bighinzoli e PP Cavalcante mostram entrosamento no show do Metalmorphose

Recado que serve para o Salário Mínimo, cujo repertório é quase todo calcado nos anos 80. Da formação clássica do grupo, está apenas o vocalista China Lee, e nesta noite o grupo anda conta com o guitarrista do Centúrias, Roger Vilaplana. O que não faz da abertura uma apresentação qualquer, especialmente para quem conheceu o grupo na época das coletâneas “SP Metal”, lançadas na década de 80, um verdadeiro marco para o metal nacional. Ainda mais para uma banda afiadíssima, com o guitarrista Daniel Berretta esmerilhando em quase todas as músicas. E o público conhece a canta muitos dos refrões, como os de “Delírio Estelar”, logo na abertura, e no riff poderoso de “Anjos da Escuridão”, uma das que o público mais agita, e não só os mais vividos.

De material novo mesmo o grupo tem a boa “Fatos Reais”, lançada no ano passado. Com groove e pungente, tem perfeita sintonia com a música pesada contemporânea. Pena que a letra beira o neo-facismo ufanista, ainda mais precedida por um discurso desnecessário de China Lee que remete aos revoltados de rede social. O vocalista, que também segue com a afinação em dia - diga-se – fala muito entre as músicas, quebrando o ritmo do show. Outras músicas legais são “Doce Vingança”, heavy metal clássico dos bons, e “Jogos de Guerra”, que desencadeia um bater de cabeça generalizado no salão. Uma banda tão boa, com história no metal nacional e que faz um showzão desses precisa seguir em frente, compondo material novo. Vamos lá!

Salário Mínimo e o repertório clássico: o vocalista China Lee canta junto com o baixista Diego Lessa

Salário Mínimo e o repertório clássico: o vocalista China Lee canta junto com o baixista Diego Lessa

Set list completo Metalmorphose:

1- Vá Pro Inferno
2- Cavaleiro Negro
3- Corda Bamba
4- No Topo do Mundo
5- Ninguém é Maior Que Você
6- Harpya
7- Marcas do Tempo
8- Pelas Sombras
9- Me Leve Embora
10- Luta e Glória
11- Máscara
12- Maldição
13- Porrada
14- Satã Clama Metal
15- Jamais Desista
16- Minha Droga é o Metal

Set list completo Salário Mínimo:

1- Delírio Estelar
2- Beijo Fatal
3- Anjos da Escuridão
4- Noite de Rock
5- Dama da Noite
6- Anjo
7- Fatos Reais
8- Doce Vingança
9- Jogos de Guerra
10- Cabeça Metal

Vista geral do palco durante o bom show do Metalmorphose: banda se recria com material novo

Vista geral do palco durante o bom show do Metalmorphose: banda se recria com material novo

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