Parentesco forte
Bullet For My Valentine mostra músicas novas, arrebata público com clássicos e, inspirado no Metallica, realça pujança na música pesada mundial. Fotos: Daniel Croce.
Não há como negar que o grupo britânico é espécie de sobrinho neto do Metallica, e, ao vivo, tal círculo familiar é flagrantemente notado, seja pela formação, idêntica; pelas guitarras flying V; pelo jeitão “quero ser Hetfield” do vocalista/guitarrista Matthew Tuck; ou pelas palhetadas dele e do outro homem das seis cordas, Michael Paget. O que, de fato, não subtrai do quarteto suas características próprias, especialmente na feitura das músicas, quase todas dotadas de bons refrões ou de trechos cantaroláveis que pegam a plateia de jeito. É o que acontece em músicas como “The Last Fight”, cujo início semi-acústico recebe uma cantoria à capela daquelas, em um dos poucos momentos em que o esporro sai de cena. Não se enganem com a falta de cabelos de banda e público: Bullet é metal dos bons.
Paget que o diga. O guitarrista não se omite em momento algum, seja reforçando as linhas melódicas em dueto com Tuck, descarregando um repertório de palhetadas típico do thrash metal, sob qualquer pretexto, ou em solos que realçam também uma boa técnica, onde o conteúdo se salienta em meio ao formato. Em “Suffocating Under Words Of Sorrow”, o solo incrementado pelo bendito fruto cabeludo deságua em um duelo melódico dos bons com o parceiro Matthew Tuck, fazendo referência ao metal oitentista britânico que também influencia – até hoje – o Metallica. Michael Paget só é econômico no solo, algo que, quando se propõe fazer no meio de um show, não pode ter só dois minutinhos. Tio Kirk Hammett possivelmente não gostou.Ante a massaroca sonora, entretanto, análises individuais são as menos importantes, muito embora valha o registro de que o novo baixista, Jamie Mathias, que entrou na banda este ano, se sai muito bem, inclusive cantando, como em trechos da fraca “Dirty Little Secret”. O que conta, no fim das contas, é a performance coletiva sobre o palco, no que o Bullet se sai muito bem, acima da média até, ainda mais se considerarmos o desprezo dos mais antigos pelo grupo, que constantemente fazem chacota com o apoio dos mais jovens. Se bobear, vão apodrecer ouvindo vinil de costas para a parede, quando os grupos ditos clássicos não estiverem mais entre nós. Se depender do show de ontem, o Bullet For My Valentine está aí prontinho para entrar em campo e acabar com o jogo.
Além de “No Way Out”, foram tocadas outras duas músicas do disco novo: “You Want a Battle? (Here’s a War)”, recebida com certa frieza, já no bis, e “Army Of Noise”. Esta teve a estreia no sábado, em São Paulo, e teve o registro de um câmera para que as imagens façam parte do videoclipe que está sendo produzido. Foi só Tuck avisar que a aí a plateia deixou de curtir a música para fazer “pose de agitação” para aparecer na fita, coisa de juventude emburrecida pela tecnologia. No fim das contas, ainda vale destacar a citação à “Refuse/Resist”, do Sepultura, na chata “The End”, e o encerramento, com “Tears Don’t Fall”, que já era pedida pelo público no intervalo do bis, e cumpre a anti-profecia de soltar as lágrimas. O show poderia ser maior, mas, convenhamos, foi uma horinha e meia das mais bem aproveitadas.Set list completo:
1- No Way Out
2- Your Betrayal
3- Raising Hell
4- Scream Aim Fire
5- 4 Words (To Choke Upon)
6- Alone
7- Suffocating Under Words of Sorrow (What Can I Do)
8- The Last Fight
9- Army of Noise
10- Solo de guitarra
11- Dirty Little Secret
12- Waking the Demon
13- The End
Bis
14- You Want a Battle? (Here’s a War)
15- Tears Don’t Fall

Vista lateral do palco do Bullet For My Valentine, com o público jovem enlouquecendo no meio do salão
Tags desse texto: Bullet For My Valentine
“Dirty”, não “Dirt”
Corrigido, obrigado!