O Homem Baile

Peças encaixadas

Na abertura para o Bullet For My Valentine, Motionless In White mostra unidade a partir de referências noventistas variadas. Fotos: Daniel Croce.

O vocalista e líder do Montionless In White, Chris Cerulli, único remanescente da formação original

O vocalista e líder do Montionless In White, Chris Cerulli, único remanescente da formação original

A tarefa de fazer o show de abertura para o Bullet For My Valentine não é das mais difíceis para o Motionless In White. Os fãs, ao menos os que enchem o Circo Voador no domingão (12/7) têm apreço pelas duas bandas, muito embora existam diferenças substanciais entre elas. Em comum, também, a descendência direta de ícones do rock de décadas passadas, mas ainda recentes. Se o Bullet (veja a resenha aqui) não esconde os laços com o Metallica, o MIW é resultado de um quebra-cabeças bem montado em que cada peça remete a um desses ícones, todos noventistas. É um Slipknot aqui, um Marilyn Manson acolá, um Korn para variar e assim por diante. E – acreditem – a julgar por essa horinha quase redonda de show, funciona muito bem.

A paisagem do palco é que entrega a impressão que se confirma durante o show. O vocalista Chris Cerulli, único remanescente da formação original (mas já?) é praticamente um clone de Manson, e, em “Generation Lost”, canta igualzinho à matriz. O baixista Devin Sola, fantasiado de espantalho from hell, figuraria tranquilamente em uma das formações do Slipknot, e há ainda outros personagens, como a Morte, encarnada pelo tecladista Josh Balz, peça chave para a banda, que usa e abusa de efeitos pré-gravados, às vezes para o bem, noutras para o mal. Musicalmente, as fontes visuais são as mesmas, em que pese a plateia não estar nem aí para isso, se levarmos em conta as camisetas das, digamos, “banda fontes”, praticamente ausentes. Tudo bem: no rock, graças aos deuses, não é preciso pensar muito para curtir.

O tecladista Josh Balz, travestido de Morte, e o guitarrista Ryan Sitkowski, agitando no show

O tecladista Josh Balz, travestido de Morte, e o guitarrista Ryan Sitkowski, agitando no show

E a formação de rodas de dança, esperada para a banda de fundo, é antecipada e pega pra valer em músicas como “Abigail”, uma das antigas, que tem forte sotaque pop, uma constante, aliás; e na pesada “Reincarnate”, feita para pular como se faz em um show do Slipknot, quando os efeitos programados funcionam para o bem. Cerulli é um cara esperto, e antes de “Abigail” faz aquela apologia básica aos “caras muito fodas” do Bullet For My Valentine. Entre uma conversa de ligação e outra, ele consegue até fazer o público soletrar o título de “America”, em inglês mesmo. A música é uma das que deriva para um cantarolar ajeitado por parte do público, e não por acaso é homônima de outra, um dos grandes sucessos do Rammstein. O grupo germânico é representado no set list com a pesada cover para “Du Hast”, levada num convincente alemão de parte a parte. Ficou bonito.

Metade do repertório (veja o set list completo no final) é de músicas do álbum mais recente da banda, “Reincarnate”, que saiu em setembro, o que não impede a cantoria geral. A melhor delas é “Death March”, mais cadenciada e super pesada, que desencadeia naquele adorável bater de cabeças coletivo por instinto, e isso a juventude mais que nova já traz no sangue. A pior é “Dead As Fuck”, que, apesar de flertar com o pós punk britânico, descamba para uma terrível discoteca, em uma das vezes em que os efeitos pré-gravados atuam para o mal. Nada, contudo, que manche a segunda vinda do grupo ao Rio - consta uma passagem secreta pela cidade há dois anos, junto com o Asking Alexandria -, numa boa apresentação, concisa e, na maior parte do tempo, com músicas cativantes.

Chris Cerulli, o guitarrista Ryan Sitkowski, no centro, e o baixista espantalho from hell Devin Sola

Chris Cerulli, o guitarrista Ryan Sitkowski, no centro, e o baixista espantalho from hell Devin Sola

Set list completo:

1- Break the Cycle
2- Reincarnate
3- Death March
4- America
5- Abigail
6- If It’s Dead, We’ll Kill It
7- Unstoppable
8- Devil’s Night
9- Generation Lost
10- Dead as Fuck
11- Du Hast
12- Immaculate Misconception

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