O Homem Baile

Cara a cara

Primeiro show de Paul McCartney em local fechado na América do Sul aproxima o ídolo do público no Rio sem perder e magia do grande espetáculo. Fotos: Marcos Hermes/Divulgação.

Paul McCartney em um momento 'atitude rock'n'roll' no show de ontem, o primeiro dessa turnê no Rio

Paul McCartney em um momento 'atitude rock'n'roll' no show de ontem, o primeiro dessa turnê no Rio

Parecia o Circo Voador. Era o que pensava o habitual frequentador do berço do rock nacional, diante da proximidade de Paul McCartney, durante o show realizado ontem, na HSBC Arena, no Rio. As 14800 pessoas que lotaram a casa, legado do PAN de 2007, viram tudo de pertinho, estivessem nos setores mais próximos do palco – os mais caros – ou nas arquibancadas mais distantes, ainda assim bem mais próximas do que qualquer posição semelhante dos estádios onde Paul costuma tocar mundo afora. Foi o 17º show dele no Brasil, e o primeiro em toda a América Latina em um espaço fechado, tido como intimista por mídia e – vá lá - pelo público. Em 2h45 de show foram tocadas 39 músicas, entre super hits, canções de certo modo obscuras e até faixas do álbum mais recente, “New”, que saiu no ano passado.

O modelo reduzido, contudo, não subtrai nada do espetáculo e Paul McCartney segue o roteiro de um modo ou de outro. Se esforça para ler palavras que saúdam o público escritas em um português fonético – flagrado por um câmera e exibido rapidamente no telão – de modo a mostrar grande simpatia, mesmo para um público, que, de início, parecia distante da vibe de um show de rock. E dá-lhe “E aí, Rio?”, com sotaque carioca; “Esta é para a garotada”; “O show está bombando” e assim por diante. Do jeito que a coisa vai, vindo ao Brasil anualmente desde 2010, bem que ela já pode pensar em dispensar a colinha, né? Na parte final do show, como já aconteceu em outras oportunidades, Paul recebe duas garotas no palco para lhes autografar as costas onde uma tatuagem será timbrada.

As novidades dessa turnê, a “Out There!”, em relação à “Up And Coming Tour”, que o Rio viu em 2011, em duas datas no Engenhão (relembre), são a inclusão de músicas do álbum “New” e de músicas que só começaram a ser tocadas ao vivo, em toda a história, no início do giro, em Belo Horizonte, no ano passado (saiba mais). Entre as novas, o destaque maior é para a faixa-título, muito embora a melhor das quatro seja “Queenie Eye”, tocada em seguida, as duas com um indefectível sotaque Beatles contemporaneizado; e isso é bom. A dobradinha é realçada por um caprichado cenário com imagens de lâmpadas fluorescentes gigantes traçando o título do disco no centro do palco. As outras duas, “Save Us”, tocada no iniciozinho, e “Everybody Out There” (teria saído dela o nome da turnê?), quase passam batidas, em que pese o esforço de Paul para fazer o público – frio, repita-se – acompanhar o trecho por ele cantarolado.

Paul voltou a falar em português com o público, sempre olhando para a 'cola' presa no piso do palco

Paul voltou a falar em português com o público, sempre olhando para a 'cola' presa no piso do palco

Entre as “debutantes de BH”, “Eight Days a Week” segue abrindo os trabalhos - ontem serviu mais para ajuste do som -; “Being for the Benefit of Mr. Kite!” reforça o quanto o álbum “Sgt. Peppers…” é ponto fora da curva na discografia dos Beatles; a fraquinha “Listen To What The Man Said”, dos Wings, não tem lastro para entrar no set, mas também não compromete; e “Hi, Hi, Hi” – também dos Wings - não precisava substituir “Get Back”. Visivelmente mais magro, de certo por conta daquela virose/gripe contraída no Japão em maio (saiba mais), Paul segue muito bem assessorado nos vocais por toda a banda, (notadamente na genial “Eleanor Rigby”), mas segura o gogó até o final, mantendo uma preciosa afinação aos 72 anos de idade.

O primeiro grande destaque da noite é “Let Me Roll It”, quando Paul assume a guitarra para soltar o riff colante que permeia toda a música, e, no final, deságua em solos que citam até Jimi Hendrix. Nessas horas, ele e a duplinha Rusty Anderson (guitarra) e Brian Ray (baixo), possuídos pelo rock, se juntam na beirada do palco e rejuvenescem ao menos uns 40 anos. Acontece também, entre outras, em “Band On The Run”, no rock de raiz “Back In U.S.S.R.” e em “Live and Let Die”. Ressalte-se que por ter ganhado fama nos últimos tempos com o Guns N’Roses, a versão atual de Paul é do tipo “vamos ver quem faz melhor”, e o local fechado não subtrai nada de peso e de efeitos pirotécnicos; só melhora. É a criatura retroalimentando o criador. Outro efeito novo no palco é uma plataforma que ergue Paul às alturas no melhor estilo Kiss, em “Blackbird”, que seguramente funciona melhor em estádios.

Há também o bloco folk/country que inclui “I’ve Just Seen a Face”, “Another Day”, uma das mais aplaudidas pelo público, e “And I Love Her”, romanticamente cantada em um aquecido coro. Generoso, Paul tem o rol das dedicatórias que inclui a recente “My Valentine”, para a atual esposa, Nancy, e “Maybe I’m Amazed”, para Linda McCartney, falecida em 1998. John Lennon fica com “Here Today”, feita para ele e anunciada em português, e a de George Harrison é “Something”, cujo início, com ukelelê, precisa ser deixado de lado. A emoção garantida é reservada para a parte final, praticamente imutável, independente no nome de batismo da turnê. É o que acontece, entre outras, em “Hey Jude” e seus cartazes “Na-Na”; em “Let It Be”, com os celulares sendo usados para o bem; na dramática “Yesterday”; e no arremate final com “Helter Skelter”, o hardcore dos Beatles. Conclusão: não importa se já viu e sabe como é; veja de novo.

Bem de perto: vista geral do palco da turnê 'Out There!', em modelo reduzido para uma arena fechada

Bem de perto: vista geral do palco da turnê 'Out There!', em modelo reduzido para uma arena fechada

Set list completo:

1- Eight Days a Week
2- Save Us
3- All My Loving
4- Listen to What the Man Said
5- Let Me Roll It
6- Paperback Writer
7- My Valentine
8- Nineteen Hundred and Eighty-Five
9- The Long and Winding Road
10- Maybe I’m Amazed
11- I’ve Just Seen a Face
12- We Can Work It Out
13- Another Day
14- And I Love Her
15- Blackbird
16- Here Today
17- New
18- Queenie Eye
19- Lady Madonna
20- All Together Now
21- Lovely Rita
22- Everybody Out There
23- Eleanor Rigby
24- Being for the Benefit of Mr. Kite!
25- Something
26- Ob-La-Di, Ob-La-Da
27- Band on the Run
28- Back in the U.S.S.R.
29- Let It Be
30- Live and Let Die
31- Hey Jude
Bis
32- Day Tripper
33- Hi, Hi, Hi
34- I Saw Her Standing There
Bis
35- Yesterday
36- Helter Skelter
37- Golden Slumbers/Carry That Weight/The End

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Juliana em novembro 13, 2014 às 13:19
    #1

    “Conclusão: não importa se já viu e sabe como é; veja de novo.” Melhor definição! Vi o Paul pela 6ª vez e a emoção é a mesma. O destaque dessa vez foi o local menor do que um estádio, que deu a sensação de estar muito perto do Paul. O público simplesmente delirou! O mais animador é o “até a próxima!”. Esperaremos o Paul de novo! Coisa de fã.

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