O Homem Baile

Curto, mas intenso

De volta ao Rio em menos de dois anos, Black Label Society apresenta novas músicas, mas economiza no repertório. Fotos: Felipe Diniz/Divulgação Circo Voador.

Zakk Wylde e uma de suas cinco guitarras com linhas geométricas usadas no show do Black Label

Zakk Wylde e uma de suas cinco guitarras com linhas geométricas usadas no show do Black Label

Não é sempre que um “parabéns pra você” é tocado em um show de heavy metal, ainda mais quando os integrantes são barbudões desasseados não acostumados a rir. Mas, ontem, no Circo Voador, o guitarrista Dario Lorina viu um roadie adentrar ao palco com um bolo nas mãos para ele soprar a velinha de 25 primaveras, depois de Zakk Wylde entregar a data ao público. Ok, a banda, a rigor, não tocou a tal musiquinha de domínio público global, mas deixou a plateia cantar para deixar Lorina, o caçula dessa formação, acabrunhado. Era o Black Label Society no momento “apresentação de banda”, uma das poucas tréguas para os tímpanos da plateia que encheu a lona; tava bonito de se ver.

Mas a imagem que deve ficar na cabeça de todos é a de Wylde exibindo o colete com a marca do Black Label, ou sobre a plataforma socando o peito com os dois punhos cerrados sem dó, no final da noite. O guitarrista, contudo, ficou devendo. Subtraiu duas músicas do repertório que vinha sendo tocado na turnê, incluindo “Overlord”, uma de suas melhores performances ao vivo, e, quando teve a oportunidade de solar, gastou 10 minutos percorrendo o braço da guitarra em uma velocidade quase estéril. O que prova a tese que Zakk Wylde é muito melhor integrado à banda do que como virtuose solitária. Tanto que os solos no final de “Concrete Jungle”, uma das melhores da noite, e de “My Dying Time”, uma das poucas em que Lorina aparece, em um duelo até curto, pelo tamanho do prazer que proporciona, deixaram o tal momento solo na poeira.

Intensidade: Zakk Wylde sobe em cima de uma plataforma para agitar o animado público ainda mais

Intensidade: Zakk Wylde sobe em cima de uma plataforma para agitar o animado público ainda mais

A música é uma das quatro do novo álbum, “Catacombs Of The Black Vatican”, que entram no repertório. Outra, “Damn The Flood”, é que mais empolga a plateia entre as novas, tanto que uma roda de pogo enfim se abre no meio do público, na maior parte do tempo contemplativo e com os braços erguidos em coreografia ensaiada por vocação. A música – e isso não é novidade no BLS – tem um riff sabathiano talhado para bateção de cabeça e é, de fato, o que acontece. Outra em que o mesmo efeito aparece é “Godspeed Hell Bound”, na qual o peso absurdo toma conta do Circo Voador seguramente deixando ouvidos a zumbir a noite toda, e isso é ótimo. Wylde usa seis modelos de guitarras diferentes, cinco com estampas geométricas em duas cores.

Em relação ao show de 2012 (veja se foi melhor), além das quatro novas, o repertório teve duas músicas diferentes inseridas: “The Beginning… At Last” e “Funeral Bell”, as primeiras da noite, quando de cara Wylde toca com a guitarra nas costas. Resgatada do álbum “The Blessed Hellride”, “Funeral Bell” tem um riffaço de enlouquecer cabeludo doido e é a primeira a empolgar de verdade, após um leve ajuste no som que encorpou ainda mais a massa sonora produzida pelo quarteto. “Parade of the Dead” forma com a já citada “Overlord” a dupla cuja ausência é difícil de aceitar, muito embora o solo de teclado de 2012, diga-se de passagem, não tenha feito falta alguma. Dessa vez Zakk Wylde só toca o instrumento na introdução de “In This River”, num momento relax da noite. Dario Lorina tira onde na lap steel guitar em “Angel Of Mercy”, a balada pesada da vez, faixa do novo álbum.

Vista geral do palco do Black Label Society, com tapete, pano de fundo e painéis intermediários

Vista geral do palco do Black Label Society, com tapete, pano de fundo e painéis intermediários

Na parte final do show – só uma horinha e vinte minutos? – é a já citada “Concrete Jungle” que comanda. A música, cuja melodia que é um verdadeiro achado, e tem ponte e refrãos certeiros, não é um clássico da banda por acaso. Antes, em “The Blessed Hellride”, Wylde repete a cena de 2012 quando ele e Lorina usam um modelo double neck cada um, com braços de 12 e seis cordas e superfície espelhada. Wylde toca a música em uma e sola na outra, mas Dario Lorina não usa as 12 cordas. “Stillborn” mantém o tradicional encerramento e a expectativa para um bis não se prolonga, num dos shows mais curtos da história do Black Label Society como banda principal. Foi bom, mas, ao mesmo tempo, ficou devendo.

Set list completo

1- The Beginning… At Last
2- Funeral Bell
3- Bleed for Me
4- Heart of Darkness
5- Suicide Messiah
6- My Dying Time
7- Damn the Flood
8- Guitar Solo
9- Godspeed Hell Bound
10- Angel of Mercy
11- In This River
12- The Blessed Hellride
13- Concrete Jungle
14- Stillborn

A boa fase do Statik Majik, que não se intimidou e fez um show com bastante apoio da plateia

A boa fase do Statik Majik, que não se intimidou e fez um show com bastante apoio da plateia

Antes, o Statik Majik fez um dos melhores shows de abertura para uma banda internacional no Rio em muitos anos. Apoiado pela plateia, o trio superou a potência sonora notadamente reduzida e mostrou que está em ótima fase. O stoner metal de origem mudou e já se pode dizer que a banda tem uma sonoridade bem peculiar, em que pese referências sempre identificadas aqui e acolá. Um pouco menos de falação por parte do baixista/vocalista Thiago Velasquez – palco não é palanque – e um foco na música vão ajudar nos próximos shows.

Tags desse texto:

Comentários enviados

Sem comentários nesse texto.

trackbacks

There is 1 blog linking to this post
  1. Rock em Geral | Marcos Bragatto » Blog Archive » Panorâmica

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado