O Homem Baile

Pilhado

Na primeira vez com show solo no Rio, Black Label Society atrai bom público e brilha através da guitarra diferenciada de Zakk Wylde. Fotos: Luciano Oliveira.

Zakk Wylde canta no início do show, com o pedestal do microfone caracterizado à sua maneira

Zakk Wylde canta no início do show, com o pedestal do microfone caracterizado à sua maneira

A noite já se anunciava especial pela maciça presença de público nas galerias do Vivo Rio, para ver a apresentação do Black Label Society. Mas quem? “O guitarrista do Ozzy!”. Enquanto shows de grandes artistas pop têm representado fracassos de venda, guardadas as devidas proporções o nicho metálico vai bem, obrigado, no Rio. Em que pese o anúncio do show do BLS ter sido feito com incríveis sete meses de antecedência, e ainda o fato de esta ser a primeira vez do artista numa turnê solo, com o tempo de apresentação de headliner. Não era uma chuva de última hora que iria estragar a festa, numa dessas noites que já estão anotadas nos caderninhos de capa preta e moldura flamejante dos fãs de metal da ensolarada capital turística do Brasil.

O guitarrista ligadaço no desenrolar do show

O guitarrista ligadaço no desenrolar do show

Zakk Wylde, o tal “guitarrista do Ozzy”, aproveitou bem a oportunidade e em cerca de hora e meia mandou 14 petardos com o som – de excelente qualidade, diga-se - no talo, fora dois momentos solo, um na guitarra e outro no teclado. O repertório inclui três músicas do álbum mais recente com material inédito, o ótimo “Order Of The Black”, e passeia por músicas marcantes da carreira do grupo. Caso de “Stillborn”, que fechou a noite em grande estilo, com os fãs cantando cada verso, e de “Suicide Messiah”, também na parte final, cujo riff martelou sem piedade o ouvido do público. Acredita-se que o zumbido ainda esteja lá nesse domingo, trancafiado dentro do Vivo Rio, e também torturando, com onipresença religiosa, os tímpanos dos que lá estiveram.

O riff e o peso à Black Sabbath (o pedestal não tem caveiras, terço e crucifixo por acaso) são a marca registrada do Black Label Society, que, no entanto, deixa de lado as passagens mais lentas, tornando o som mais porrada em todos os sentidos. Aficionado pelo instrumento, Wylde exibe vários modelos listrados, em círculos – clássico -, em paralelas, zigue-zague, etc. Pode ter passado batido, mas registra-se que ele entrou nessa onda muito antes de as listras vermelhas e brancas do White Stripes, queridinho da mídia, fazer sucesso. Se Jack White é reconhecidamente talentoso, Zakk Wylde está muito à frente como compositor, e, sobretudo, criador de riffs triturantes. Em “The Blessed Hellride”, faixa-título do álbum de 2003, o exagero: Wylde e o outro guitarrista, Nick Catanese, exibem um modelo double neck cada um, com braços de 12 e seis cordas. Se Zakk Wylde debulhou as duas durante a música, Catanese não tocou no braço das 12 cordas. Mas o que vale é o impacto visual.

O feeling do guitarrista, projetado por Ozzy

O feeling do guitarrista, projetado por Ozzy

Entre as músicas mais recentes, “Godspeed Hellbound” iniciou a noite atropelando e coube a “Overlord” um dos melhores momentos da noite, em que a condução riffônica pesada e cadenciada elevou os punhos cerrados em ritmo instintivamente ensaiado pelo poder do rock. Em “Forever Down”, um punhado de bolas de gás pretas é lançado sobre o público, mas o efeito é ruim: é pouca bola pra muita gente. A climática “In This River” é o único momento de descanso para os ouvidos, e vem depois de um solo de teclado no qual Zakk Wylde prova que é músico dos bons. Quase deu para balançar os braços erguidos. É quando ele apresenta a banda, numa das poucas vezes em que dirigiu a palavra à plateia, em idioma parecido com o inglês. O outro momento solo, com a guitarra em punho, é uma destruição só, num misto de técnica, velocidade não estéril e peso cavalar. Wylde passeia de lado a outro do palco, enlouquecendo o público, sobretudo o do gargarejo, flagrado nos telões laterais.

Embora tenha instigado o público para tocar uma música a mais, no final, o set list, encerrado com a já citada “Stillborn”, é exatamente o mesmo de toda a turnê pela América Latina. Uma tacada certa, ainda mais se consideramos que, nos últimos tempos, as coisas mudaram muito para Zakk Wylde. Ele deixou de ser guitarrista de Ozzy depois de duas décadas, e, vitimado por uma rara doença sanguínea, não pode mais beber - o líquido da latinha com a qual ele brindou o público seguramente não continha álcool. E isso à frente de uma banda cuja fonte de inspiração, já no nome, é a bebida. Tendo agora o Black Label Sociey como atividade principal, Wylde se depara com um universo de novos caminhos, e, a depender do belo show deste sábado, o Rio já faz parte desse novo capítulo a ser publicado. Parabéns aos envolvidos.

Vibração: Zakk Wylde agita os fãs do Black Label Society com a clássica guitarra com listras em círculo

Vibração: Zakk Wylde agita os fãs do Black Label Society com a clássica guitarra com listras em círculo

Set list completo
1- Godspeed Hellbound
2- Destruction Overdrive
3- Bored to Tears
4- Berserkers
5- Bleed for Me
6- The Rose Petalled Garden
7- Solo teclado
8- In This River
9- Forever Down
10- Solo guitarra
11- Parade of the Dead
13- Overlord
13- The Blessed Hellride
14- Suicide Messiah
15- Concrete Jungle
16- Stillborn

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