Bola é Bola Mesmo

Não amarelou

Alemanha sofre com chances da Argentina, mas geração criada para ser vitoriosa, enfim, chega ao topo. Fotos: Divulgação FIFA.

gotzeargentinaPodia ter sido a Copa de Messi ou a Copa da Alemanha ou mesmo a Copa do Brasil. Bem, por incrível que pareça os brasileiros, contra todas as previsões, realizaram a chamada Copa das Copas com tão poucas falhas que elas nem tem sido citadas. Sim, os boquirrotos que bradavam o “imagina na Copa” e o “não vai ter Copa” nos fizeram entender, finalmente, e mais um pouco, a genialidade perene de Nelson Rodrigues. Curiosamente, dessa vez fracassamos justamente onde frequentemente nos damos bem: com a bola rolando.

Mas não era isso que eu queria dizer, não agora, no começo. O que eu quero falar é que era previsível que essa deveria ser a Copa de Messi (leia mais) ou a Copa da Alemanha. E foi, de certa forma, dos dois. Sim, Messi não arrebentou como poderia em sua terceira Copa, depois de ter fracassado em duas. Senão, teria sido a Argentina a vencedora. Na verdade, poderia até ter sido, não fossem as imperícias de seus atacantes e do próprio Messi.

Mas Messi está longe de ser vilão, como representante de uma Argentina apenas regular, como foram regulares quase todas as seleções, em uma Copa de grandes jogos e, paradoxalmente, nenhum timaço incontestável. Podemos até dizer que Messi fez muito pouco para merecer a Argentina o título que não veio ou o troféu de melhor da Copa que lhe caiu no colo. Mas subtraia o pouco que ele fez e repare onde vai parar a campanha deles: não chegaria nem perto de onde chegou.

Foi Messi quem decidiu contra Bósnia, Irã e Nigéria, ou seja, em todas as partidas da primeira fase. Já nos jogos eliminatórios das oitavas em diante, fez a jogada do gol salvador de Di María nos últimos minutos da prorrogação contra a Suíça, iniciou a jogada cuja bola sobrou para Higuaín desencantar ante a Bélgica, e não amarelou nas cobranças de pênaltis que classificaram a Argentina para a grande final na partida contra a Holanda. Não dá mais, convenhamos, para chamar Messi de jogador de clube.

Mas não era isso que eu queria dizer. Não antes de falar da Alemanha, a grande campeã. Mas seria grande mesmo a vencedora da Copa? Depois de tanto tropeçar em Copas e Eurocopas, essa geração alemã quase foi decidir tudo nos pênaltis. Foi para a prorrogação e – pior – sofreu ela as melhores chances de gol de uma empenhada Argentina: três com Messi, Higuaín e Palacio contra a cabeçada na trave do zagueiro Höwedes.

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Mas, ante ao golaço de Mario Götze no final da prorrogação, não há o que se questionar. Prorrogações servem para isso, e a jogada do gol sai de uma arrancada de Schürrle, num último gás, e a bola chega para Götze, que entrou no final do tempo normal, desfilar toda a sua técnica. O cansaço da zaga argentina, inicialmente criticada, mas depois arrumada pelo técnico Sabella, é latente. Assim é o futebol.

Nessas horas, em que vemos que qualquer um dos que jogaram a final poderia ter vencido, é que achamos que poderia ter sido o Brasil o grande campeão. Que nem era tão difícil vencer essa Copa em casa, mesmo com nossas mazelas, agora escancaradas como chagas incorrigíveis. O que não se pode, em uma súbita síndrome de perdedor, coisa que o Brasil não é há muitos anos, é fazer pouco caso daquele que levantou a taça. Parabéns aos alemães!

Mas também não vamos aqui fazer a apologia do futebol alemão em comparação ao nosso, mesmo nesse momento difícil. Nem nos inferiorizar ante ao mundo da bola. O Brasil ficou em quarto lugar – está na história, não se tira mais – e esses jogadores não podem ser execrados porque precisamos deles. E precisamos já para as eliminatórias da próxima Copa e para duas Copa América, quando o processo de transição se dará.

Muitas vezes – repita-se – jogadores derrotados em uma Copa se fortalecem na Copa seguinte, em outras circunstâncias. Já aconteceu com o Brasil de 1990 de 1994. Boa parte da chamada geração Dunga que fracassou em 1990 estava na base do título de 1994. E, também, todos queremos ganhar todas as Copas, mas não é bem assim que funciona.

Também não se pode decretar a morte profissional dos integrantes dessa comissão técnica. Todos podem vir a trabalhar em clubes ao redor do mundo. E mesmo nomes cascudos como Parreira e Felipão podem ser úteis em algum momento para a CBF e para a seleção, na formação de novos técnicos e de novas lideranças. É muita experiência em Copas do Mundo para ser desprezada para sempre.

Para nós, fica a satisfação e o orgulho de o Brasil ter feito um bom papel como organizador da Copa das Copas – hoje podemos falar assim. Eis aqui o que eu queria dizer. Se perdeu a Copa a seleção brasileira, ganhou o Brasil organizador de um eventos de grandes proporções e repercussão global.

Até a próxima que o Brasileirão está batendo na nossa porta!

maracanafinal

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