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Crossroads
Eric Clapton Guitar Festival 2013

Recorded Live April 12 & 13 – New York
(Warner)
Fotos: Kevin Mazur/Divulgação site oficial.

cossroods13dvdEric Clapton lado a lado com Keith Richards no palco, tocando um clássico de Big Bill Broonzy. Los Lobos com Robert Cray. Gary Clarck Jr. sozinho tocando guitarra e bumbo. Os “garotos” John Mayer e Keith Urban arrebentando numa cover dos Beatles. Dos Rolling Stones, Urban – de novo – toca “Tumbling Dice, com Albert Lee e Vince Gill. The Allman Brothers e Clapton tocam juntos “Why Does Love Got To Be So Sad”. Jeff Beck ladeado por três mulheres talentosíssimas. Um pirralho branco azedo de 14 anos debulhando a guitarra. Pode-se escolher qualquer um desses momentos como o inesquecível da edição de 2013 do Crossroads Festival, mas nada supera a expressão de satisfação de Eric Clapton, quando, na última música desse espetacular DVD, vê cada convidado entrar no palco com uma guitarra em punho para o grande desfecho: “High Time We Went”, clássico da geração flower power consagrado na voz de Joe Cocker.

Explica-se que desde 2004 a cada três anos Clapton organiza o festival, que reúne guitarristas de várias gerações ligados ao blues, rock, classic rock e adjacências. O objetivo é arrecadar fundos para o “Crossroads Centre”, uma clínica de recuperação para dependentes de álcool que Clapton mantém em Antígua, no Caribe. Não é que Clapton empresta o seu nome para a empreitada, ele produz o evento de verdade, e recebe cada um de seus convidados porque, mais que uma ode à guitarra, suas histórias, egos, idas e vindas, voltas e revoltas, o Crossroads é um encontro entre amigos, fãs e ídolos, e, sobretudo, de bons músicos. Procure um na lista de convidados quem não lhe agrade e tente minimizar a performance no festival. Num ambiente tão propício, é quase impossível alguém passar recibo de ordinário.

O anfitrião Eric Clapton se despede de Keith Richards na noite de encerramento do Crossroads Festival

O anfitrião Eric Clapton se despede de Keith Richards na noite de encerramento do Crossroads Festival

Pela primeira vez o festival foi realizado em duas datas, e em um lugar menor, o Madison Square Garden, em Nova York, o que faz deste DVD um registro mais intimista, com várias tomadas em close dos músicos tocando em um palco repleto de gente o tempo todo. Por isso nem todos os que estiveram na primeira noite aparecem no número final do festival. Um deles é BB King, habitué do Crossroads, que, na primeira noite, sentadinho ao lado de Robert Cray, Clapton e Jimmie Vaughan, faz as cordas de sua velha Lucille realçarem numa versão para “Every Day I Had The Blues”. Aos 87, parece uma criança tentando acompanhar quem ajudou a criar. Eles ainda tocaram “Let The Good Times Roll”, mas essa ficou de fora desse DVD, que, duplo, se reúne 45 faixas sensacionais em quase cinco horas de shows, não traz a íntegra do festival.

A grande estrela dessa edição é Keith Richards, que não é dado e esse tipo participação, mas aparece tocando e cantando (até bem) com Clapton, em “Key to the Highway”, um clássico do blues, já gravado pelos Stones e pelo guitarrista. Clapton, claro, não iria organizar um evento com essas características e ficar de fora. Ele aparece junto com o Allman Brothers tocando uma estupenda versão para “Why Does Love Got To Be So Sad” dos tempos do Derek and the Dominos. Os atuais guitarristas do Allman Brothers, Derek Trucks e Warren Haynes, como pintos no lixo, participam de várias formações, num delicioso revezamento no palco, e olha que as bandas deles (Tedeschi Trucks Band e Gov’t Mule, respectivamente) nem fazem parte do elenco. Músicos cascudos das bandas de cada um dos convidados participam do evento, e é uma pena que eles não sejam devidamente creditados – nem os mais conhecidos são, nas falas entre as músicas -, sendo que a versão brasileira do DVD não traz legendas (depois reclamam que o povo não compra e acaba assistindo tudo no youtube, lá sim, legendado).

Robert Cray, Eric Clapton, Jimmie Vaughan e BB King tocam 'Every Day I Had The Blues' juntos no palco

Robert Cray, Eric Clapton, Jimmie Vaughan e BB King tocam 'Every Day I Had The Blues' juntos no palco

Se nem todos compareceram nas duas noites, há fominhas como Gary Clark Jr., que acaba aparecendo no mínimo em três faixas solo nos dois DVDs; às vezes nem se percebe, mas há um músico famoso tocando lá atrás do palco, matreiramente. O guitarrista tem uma das melhores performances, tocando músicas de sua autoria como a pulsante “When My Train Pulls In”, quando esmerilha a guitarra sem dó, e ainda fazendo graça, sozinho, com um “violão dobro” e um bumbo de bateria, em “Next Door Neighbor Blues”. A variedade de instrumentos é considerável, como os violões “customizados” (não encontrei palavra melhor) da duplinha Keb’ Mo’ e Taj Mahal, que, sentados como se estivessem em uma esquina do Mississipi, tocam o blues de raiz de verdade em duas músicas. Outro veterano, o britânico Albert Lee mostra vigor acompanhando de Keith Urban e Vince Gill. Urban, de seu lado, ajuda a guitarra de baixo impacto de John Mayer a não fazer feio; ao contrário: a inesperada versão de “Don’t Let Me Down”, dos Beatles, é uma das melhores faixas do DVD.

Os números musicais são entrecortados com cenas da cidade de Nova York, muito bem registradas e inseridas em contornos dramáticos, e depoimentos de vários dos convidados; menos Clapton, que não gosta de falar. Numa dessa falas, Warren Haynes humildemente reconhece o quanto “pegou” de guitarristas como BB King e atesta a importância de Eric Clapton, que, inclusive, antecedeu Jimi Hendrix, o “maior de todos”. Outro que veio antes desse mito é Jeff Beck, convidado recorrente. Dessa vez, ele aparece com sua baixista dos últimos tempos, a talentosa Tal Wilkenfeld, que destrói em “Going Down”, além da violonista Lizzie Ball e da cantora Beth Hart. Pena que “I Ain’t Superstitious”, tocada no show, tenha ficado de fora da edição final.

Nova safra: John Mayer e Keith Urban em ótima versão para o clássico 'Don't let Me Down', dos Beatles

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Surpreendentemente discreto, Buddy Guy toca (e se diverte) com Robert Randolph, destaque da lap steel guitar, e com o prodígio Quinn Sullivan. Com 14 anos, 63 a menos que Guy e bochechas rosadas, Sullivan só falta babar ao lado do mestre, mas não se faz de rogado e debulha a guitarra feito gente grande. O público aplaudiu de pé. Ainda teve o arremate, antes do final com todo mundo no palco, com Eric Clapton e sua banda tocando, entre outras, “Crossroads” e “Sunshine Of Your Love”. O áudio do festival foi lançado em CD duplo, mas numa versão ainda mais reduzida do que foi o festival, com 29 músicas das 45 que aparecem no DVD. Agora, cabe a Clapton começar a pensar nos convidados da próxima edição. Que tal ele, Jeff Beck e Jimmy Page juntos tocando Yardbirds? Ou Pete Townshend e David Gilmour? Ou até mesmo, num espectro mais abrangente, Eddie Van Halen e – já que Steve Vai tocou em outra edição - Joe Satriani? Por hora, não deixe de assistir a esse DVD, que em 2016 tem mais.

Veja também:

Trailer e lista de todas as faixas do DVD/CD

DVD Crossroads Festival 2010

DVD Crossroads Festival 2004

Velha guarda: Keb' Mo' e Taj Mahal tocam o blues de raiz com instrumentos 'customizados'

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Ruan em janeiro 14, 2014 às 13:44
    #1

    O de 2010 foi épico, principalmente “I Shot the Sheriff”, escuto todos os dias, épico!

  2. Simone em setembro 24, 2014 às 15:32
    #2

    Tenho o DVD e já assisti muitas vezes. Seu texto está 10, quem lê vai entender, mas o melhor é assistir.

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