O Homem Baile

Excelência

Repertório matador e boa forma técnica e física dos integrantes garantem espetáculo bem bolado do Iron Maiden no encerramento do Rock In Rio. Fotos: Marcos Hermes.

Bruce Dickinson, aos 55 anos, exibe boa forma e comanda o espetáculo de época do Iron Maiden

Bruce Dickinson, aos 55 anos, exibe boa forma e comanda o espetáculo de época do Iron Maiden

Quem nunca ouviu um sujeito mais experiente dizer que os shows antigos do Iron Maiden é que eram bons? Por isso a sacada de fazer turnês de época como a que passou neste domingo (22/9) pelo Rock In Rio se revela como uma incrível experiência de viagem através do tempo. Em quase duas horas de uma apresentação aeróbica de todos os integrantes, com mais de 12 mudanças no cenário do palco e músicas que marcaram o final dos anos 80 e/ou que pouco são tocadas em outras turnês, o Iron Maiden mostrou outra vez a excelência e a expertise para fazer espetáculos grandiosos e de rara perfeição em todos os sentidos.

Não satisfeito, o grupo adaptou o repertório enfileirando pauladas de arrebatar qualquer cidadão menos interado com toda essa história. Pense que praticamente qualquer uma das 17 músicas tocadas poderiam ser usadas como abertura, encerramento ou inicio do bis, dada a força delas próprias, à forma arrojada com que são executadas e ao lastro de popularidade alcançado em todos esses anos. E pensar que muitas delas sequer foram tocadas nesses 28 anos em que o Maiden frequenta o Brasil, não com tanta regularidade como apontam os ranzinzas críticos do grupo. “The Prisioner”, por exemplo, que tem uma das melhores introduções de uma música de heavy metal em todos os tempos, jamais havia sido tocada em solo brasileiro. E estreou com o brilhantismo e um frescor de single de disco novo.

O chefão Steve Harris e a tradicional pose em que dispara 'tiros de baixo' em cima do píblico

O chefão Steve Harris e a tradicional pose em que dispara 'tiros de baixo' em cima do público

Impressiona, logo de cara, e até o final do show, o preparo físico do esbelto Bruce Dickinson, que canta correndo sem perder o fôlego e comanda a plateia como um verdadeiro mestre de cerimônias, o que não seria exatamente uma manchete de jornal, caso ele já não estivesse com 55 anos nas costas. E já que o Rock In Rio é um grande festival de marcas, ele aproveita para detonar a cerveja patrocinadora e apresentar a sua própria: a The Trooper. É evidente que a voz de Bruce não tem mais o timbre e a afinação que lhe deram a alcunha de “sirene”, mas ele aprendeu a usá-la da forma que é possível com o avançar da idade, e o resultado é simplesmente espetacular. Diferentemente das turnês de lançamento de álbuns, como a “Final Frontier Tour”, que passou pelo Brasil em 2011 (veja como foi no Rio), ele acompanha o ritmo das mudanças do cenário em um troca-troca de roupas como se fosse o show – e é - um espetáculo teatral.

Melhor ainda para os brasileiros é que a turnê original do álbum focado nesse giro, “Seventh Son Of a Seventh Son”, não passou pelo Brasil, garantindo mais performances ao vivo inéditas. Intrusa no repertório, “Afraid to Shoot Strangers”, na qual Bruce cita os conflitos de nações contemporâneos, se sai muito bem pelo extraordinário duelo tripartite dos guitarristas, que, de certa forma, substitui o de “Hallowed Be Thy Name”, omitida numa turnê do Iron depois de muitos anos. E, ainda, “Fear Of The Dark”, que se não é essa coca-cola toda, prova a força que tem ao desencadear de longe a maior cantoria de todo o festival; essa não deixa de ser tocada tão cedo. “Phantom Of The Opera”, outra que reentra no set, resgatada da fase com Paul Di’Anno, parece alongada e turbinada com mais evoluções de guitarras. Aliás, é de se admirar como, nessas horas, o Iron Maiden é, acima de tudo, um banda de guitarras; dessa vez, até o “figurante” Janick Gers se toca e deixa a guitarra cantar.

Bruce é flagrado em um de seus saltos espetaculares, com o pedestal do microfone na mão

Bruce é flagrado em um de seus saltos espetaculares, com o pedestal do microfone na mão

Porque são Adrian Smith e Dave Murray os encarregados de reproduzir ao vivo, e depois de tantos anos, com toda a destreza inerente ao um tipo de som agressivo e veloz como o que o Iron faz, a cada nota, cada evolução, cada solo em duelos extraordinários. Em “2 Minutes to Midnight” está tudo lá, desde o riff que introduz a música até os solos sobre solos, tudo ensaiadinho e cumprido à risca como deve ser. O choro de “Wasted Years”, outro momento épico, parece saído de um estúdio de gravação, só que turbinado com garra pela duplinha, numa equação inexata, mas eficiente entre alma e técnica. Por isso que poucas bandas das últimas décadas são tão verdadeiras tocando ao vivo como o Iron Maiden, em que pese o cuidado com todo o entorno do espetáculo que ganha maior projeção nas turnês de época como essa.

É nesse contexto que entra Eddie, talvez o maior mascote – e não só no tamanho - de um grupo de rock de que se tem noticia. Dessa vez ele aparece caminhando vestido com a indumentária do soldado de “The Trooper”, mas em “Run to the Hills”, e em duas vezes no fundo do palco, gigante, atrás da bateria. Uma em “Seventh Son…”, com os olhos de luz vermelha, e outra com o feto arrancado do útero que parece vivo, se mexendo, no bis. No encerramento a expectativa pela inclusão de uma ou outra música (afinal o show foi gravado, saiba mais) acabou resultando num solo de bateria timidamente conduzido por Nico McBrian, que não é dado ao artifício, a pedido de Dickinson. Depois de cantar com destreza a difícil “Aces High”, sem mostrar desgaste na reta final, ele merecia mesmo molhar a garganta. E assim o Rock In Rio teve um espetáculo de encerramento à altura de seus grandiosos números. Difícil agora é a volta para o futuro.

Visão geral do palco do Iron Maiden, em tom azulado idêntico ao do álbum "Seventh Son Of a Seventh Son'

Visão geral do palco do Iron Maiden, em tom azulado idêntico ao do álbum 'Seventh Son Of a Seventh Son'

Set list completo:

1- Moonchild
2- Can I Play With Madness
3- The Prisoner
4- 2 Minutes To Midnight
5- Afraid To Shoot Strangers
6- The Trooper
7- The Number Of The Beast
8- Phantom Of The Opera
9- Run To The Hills
10- Wasted Years
11- Seventh Son Of A Seventh Son
12- The Clairvoyant
13- Fear Of The Dark
14- Iron Maiden
Bis
15- Aces High
16- The Evil That Men Do
17- Running Free

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. fabio em setembro 23, 2013 às 14:36
    #1

    Eu não o engulo o “Fear of the Dark”, infelizmente sou minoria.
    Esse show ficaria perfeito com a inclusão de “Hallowed’…

  2. Marcus Benefather em setembro 23, 2013 às 19:43
    #2

    Quando se fala mais nos adereços do que propriamente a música, é certo de que alguma coisa está errada. Talvez seja o cansaço, eu entendo…

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