Segunda infernal
Horda de camisas pretas começa a semana celebrando o compenetrado metal das trevas do Marduk; na abertura, Vader se diverte com boa dose de esporro. Fotos: Daniel Croce.
Já o guitarrista Morgan sofre para reproduzir a muralha de guitarras que coloca nos álbuns do Marduk, o que, de fato, parece mesmo impossível, e isso nada te a ver com o som do Teatro Odisséia, que funciona bem, ainda mais em um dia que a iluminação é usada de verdade, não como simples lâmpadas acesas. Mesmo assim, dá para sentir a força das músicas mais lentas e pesadas se entranhando involuntariamente no público de forma incontrolável. Porradas como “Womb Of Perishableness” e “Imago Mortis”, a partir de agora, estão biologicamente inseridas, por osmose letal, no corpo de cada um que esteve na noite maldita desta segunda. É o mal tomando posse sem pedir licença.
No repertório (veja o set list completo no final do texto), só duas músicas do novo álbum, “Serpente Sermon”, lançado no ano passado. A faixa-título, uma paulada na moleira que abre o show e acaba servindo de adaptação e ajustes de som e luz; e a ótima “Temple Of Decay”, uma rara peça inspirada no doom metal das antigas com uma evolução de guitarra de arrepiar até o Papa Francisco e os peregrinos que passaram pelo Rio no mês passado. “Azrael” e “502”, que não são tocadas em shows menores, do tipo em festival, foram incluídas, e o bis matou a pau com a arrasadora “Baptism By Fire”. Acredite: não ficou pedra sobre pedra.“Bem-vindos ao inferno”, bradou o líder do Vader, Piotr Wiwczarek, em bom português, mais cedo, na abertura. Isso porque o grupo tem circulado bastante pelo Brasil, não no Rio, onde travou um duelo com um transformador de energia no Engenho de Dentro em mil novecentos e antigamente. Peter – pode chamá-lo assim – é o único remanescente da formação original do grupo, e vem mantendo o legado de ter nascido na Polônia com integrantes que estão no grupo há menos de três anos. Embora tenha conexões com o mundo lá de baixo, o grupo aponta o som mais para o death metal, o que se revela animador para as rodas de pogo que não param durante a horinha que o show durou.
Embora esteja prestes a lançar um novo álbum, o quarteto optou por não trazer novidades e dar uma geral na carreira, incluindo músicas como a velha “Reborn In Flames”, umas das que mais agitou o público e teve como plus a mais um solo exuberante de Peter; e a mais recente “Come and See My Sacrifice”, quando o novato Spider dá o troco e leva a um final dos mais interessantes. Num show curto como esse, não precisava a cover para “Hell Awaits”, do Slayer, mas já que ela vem, o negócio é bater cabeça e se estapear de lado a lado do Odisséia. Antes, sem que fosse anunciado, o local Enterro tocou para quase ninguém. Uma pena.
Set list completo Marduk:1- Serpent Sermon
2- Nowhere, No-One, Nothing
3- The Black…
4- Imago Mortis
5- Slay the Nazarene
6- Temple of Decay
7- Christraping Black Metal
8- With Satan and Victorious Weapons
9- Womb of Perishableness
10- Azrael
11- Materialized In Stone
12- 502
13- Wolves
Bis
14- Baptism by Fire