O Homem Baile

Gogó afiado

Alabama Shakes mostra o carisma de Brittany Howard e abraça gregos e troianos na roça do Palco Alternativo no Lollapalooza. Foto: Liliane Callegari/Scream & Yell.

alabamashakes1Revelação do classic rock bem quisto no universo indie, o Alabama Shakes completou muito bem a dobradinha com o guitarrista Gary Clarck Jr. no enlameado Palco Alternativo do Lollapalooza. O cheiro de esterco até contribuiu - cada um com suas viagens - para a apreciação do típico som do grupo, quem vem lá dos cafundós do Alabama, onde a roça é farta e a música, uma constante. Só o vozeirão de Brittany Howard é que chama mais a atenção do som tipicamente Southern rock do quinteto. Howard é um mistura de Janis Joplin com Aretha Franklin, numa espécie de Joss Stone com uns quilinhos e muita voz a mais. E a sujeita, no comando, ainda toca guitarra, incorporando outros ícones do rock das encruzilhadas de todas as épocas. Não é brinquedo, não.

Brittany Howard não é só um vozeirão de cantora de programa de calouros. A moça é do ramo e se entrega ao que faz, o que se denuncia em caras e bocas típicas de quem tem o feeling para a coisa. O som que ela extrai da guitarra e do gogó não é para iniciados. Calcado no velho blues e nos dramas de relacionamentos - e dá-lhe ponto de vistas feminino -, o repertório do Alabama Shakes é um leque escancarado de possibilidades. Tanto que até a indianada não vira a cara; ao contrário, se derrete música após música, mesmo porque trata-se de uma figuraça com o carisma totalmente em cima.

Já na abertura, com “Hang Loose”, Howard mostra ao que veio, incorporando o blues rural eletrificado como pouco se faz nos nossos tempos. Vê-se, de cara, que seria impossível o Alabama Shakes sem o Lynyrd Skynyrd, em que pese a miudez da formação de um ante à numerosa família de domingo do outro. Em “Always Alright”, o sotaque Southern escapa com desenvoltura, contribuindo ainda mais para o conjunto da obra, ao passo que um crescente de guitarra, respaldado pelo peso impresso pelo baixista bardbudão Zac Cockrell, empurra a música para o público de maneira convincente. Howard é também interpretativa, sobretudo em baladas que apontam para o drama e em que ela mira o gogó para os céus sem piedade. É o que acontece, por exemplo, em “Heartbbreaker”, triste já no título.

O tempo é curto, mas o bastante para a banda mostrar praticamente todas as músicas do único álbum, “Boys & Girls”, lançado há cerca de um ano. Dá até para mandar um bis meio torto - “ainda não estamos cansados”, avisa a moça -, direto, sem intervalo, que deságua em uma adaptação da letra da música original, passando a incluir uma penca de “muito obrigado” das mais simpáticas. Chegou rápido o Alabama Shakes, mas preste atenção que não vai passar depressa como outra onda alvissareira de final de semana.

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