O Homem Baile

Noite de surpresas

Pain of Salvation resgata antiguidades e leva público ao êxtase, após apresentação longa do Reign of Kindo. Texto: Daniel Dutra/Foto: Divulgação.

painofsalvationO fim de mês e a noite fria da última sexta-feira (28/9) não afugentaram os fiéis. Aproximadamente 600 pessoas compareceram ao Teatro Rival – que virou uma boa opção para shows de pequeno porte no Rio de Janeiro – para pagar dízimo ao Pain of Salvation. Pouco mais de um ano após a última passagem pela cidade, o quinteto sueco confirmou o status de banda cult, com um séquito de seguidores que se ajoelha ao primeiro acorde de qualquer música.

Daniel Gildenlöw, o mentor do Pain of Salvation, nunca deixou de fazer as coisas ao seu modo, e talvez por isso seja tão reverenciado, no caminho construído para o PoS se transformar num dos principais nomes do prog metal. E foi assim, com 45 minutos de atraso, mas com casa cheia e público ganho, que ele entrou no palco sozinho para mandar a belíssima “Road Salt” (teclados em playback). Início pouco comum, mas acompanhado com entusiasmo pela plateia.

Único remanescente da formação original, Gildenlöw (vocal e guitarra) hoje é acompanhado pelo baterista Léo Margarit, o tecladista Daniel Karlsson (que assumiu o baixo na turnê anterior), o baixista Gustaf Hielm (que já havia tocado na banda entre 1992 e 1994) e o novato Ragnar Zolberg (guitarra e vocais). Com toda a turma em cena, o Pain of Salvation reservou o início do show para abordar principalmente os álbuns “Road Salt One” (2010) e “Road Salt Two” (2011): “Softly She Cries”, “Linoleum” (também presente no EP de mesmo nome, lançado em 2009), “1979” e “To the Shoreline” mostraram a recente proposta do PoS, mais crua e setentista.

A ótima “Diffidentia”, do complexo “Be” (2004), serviu de interlúdio entre as canções dos últimos discos, mas o que veio a seguir foi o que realmente levou os fãs ao êxtase. O cultuado “The Perfect Element Part I” (2000) foi representado com a sequência de abertura – “Used”, “In the Flesh”, “Ashes” (ovacionada) e “Morning Earth” – e mais “Reconciliation”. Entre peso e passagens mais calmas e complexas, o PoS transformava em realidade o sonho de quem acompanha o quinteto desde sempre.

Possuído, Gildenlöw (de cabeça raspada, diga-se de passagem) não escondia a satisfação com a recepção calorosa. Brincava com o público mediante os pedidos por palhetas (no fim, teve de jogar duas vezes a penúltima, depois de ela bater na mão de alguém e voltar para o palco), e chegou a dizer, com o típico humor sueco, que achou bonita uma garrafa de dois litros de água mineral. Tocada pela primeira e última vez no show para a gravação do DVD de “Be Live”, em 2005, “Iter Impius” surgiu no set list, e na sequência veio o curto solo de Margarit, que mais serviu para Gildenlöw despejar na bateria o que restou numa das garrafas d’água, criando um efeito de vídeo clipe de hard rock dos anos 80.

Como a noite era de surpresas, mais algumas surgiram com as duas representantes do clássico “Remedy Lane” (2002). A excelente “Undertown” contou com Zolberg nos vocais principais. O guitarrista, uma versão de Sebastian Bach com 20 e poucos anos, não comprometeu, mas mandou bem mesmo ao dividir os vocais com o chefe em “Beyond the Pale”, outra recebida com comoção pelos fãs. Era o fim do set, mas havia o bis. E “Sisters”, da primeira parte de “Road Salt”, foi escolhida para fechar a noite da mesma maneira que ela começou: de maneira intimista.

Poderia ter sido alguma de “One Hour By the Concrete Lake” (1998) ou “Scarsick” (2007), álbuns que foram ignorados – “Disco Queen” chegou a ser pedida pelo público. Poderia ter sido mais algum clássico esquecido, como “Second Love”, mas àquela altura o culto de 1h45m já havia sido realizado com louvor. E os fiéis seguidores de Gildenlöw e companhia voltaram para casa em paz e de alma lavada.

Antes, coube ao The Reign of Kindo esquentar a noite. A banda americana apresentou um rock progressivo com forte acento pop, além de toques de jazz moderno e até música latina. Tudo embalado em muito groove, cortesia da ótima cozinha formada por Jeff Jarvis (baixo) e Steven Padin (bateria), mas com pouco destaque para as guitarras – Joseph Secchiaroli (voz/guitarra), Michael Carroll (guitarra/percussão), Danny Pizarro Jr. (teclado) e o convidado especial Darren Escar (saxofone) completam a formação.

Em 1h35m de show, o Reign of Kindo apresentou músicas de seus quatro primeiros trabalhos, além de quatro que estarão no próximo CD, e foi bem recebido pelo público. Sim, havia uma considerável parcela de fãs, alguns realmente apenas pelo grupo, e estes ganharam a cereja do bolo com “Let it Go”, que encerrou o set fazendo remissão a “Careless Whisper”, de George Michael. Bons músicos e apresentação correta, mas que poderia ter sido mais enxuta.

Set list completo Pain of Salvation
1. Road Salt
2. Softly She Cries
3. Linoleum
4. Diffidentia
5. 1979
6. To the Shoreline
7. Used
8. In the Flesh
9. Ashes
10. Morning on Earth
11. Reconciliation
12. Iter Impius
13. Stress
14. Undertown
15. Beyond the Pale
Bis
16. Sisters

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