O Homem Baile

Sob encomenda

Sem material novo, Pain Of Salvation revê álbum consagrado e entrega exatamente aquilo que os fãs desejam no show do Rio. Fotos: Daniel Croce.

O comunicativo vocalista/guitarrista Daniel Gildenlöw solta o gogo afiado durante o show de ontem

O comunicativo vocalista/guitarrista Daniel Gildenlöw solta o gogo afiado durante o show de ontem

Para uma banda que anda meio paradona em termos de lançamentos e tem vindo regularmente ao Brasil nos últimos anos, até que o Pain Of Salvation recrutou um bom público na noite de ontem (2/6), no Teatro Rival, no Rio. Gente que compensa quantidade com qualidade e interesse, visto que o som torto do grupo sueco, perdido entre o prog metal e o progressivo, digamos, de raiz, não é mesmo para qualquer um. Por isso o vocalista e guitarrista Daniel Gildenlöw, único remanescente da formação original e dono da banda, trata de estabelecer um contato no nível “stand up comedy” desde o começo, o que faz do show um espetáculo, além de contemplativo, quase intimista (veja como foi o show de 2012).

Contemplativo por que, salvo raríssimas exceções, o show não é do tipo que empolga e faz o público participar pulando, cantando ou aplaudindo – em que pese os intensos pedidos de bis -, mas é para escutar e observar mais a perícia técnica dos músicos do que a entrega com a qual elas são tocadas. Daí a plateia estar repleta de músicos/aspirantes a músicos que erguem os braços quando Gildenlöw pergunta quantos guitarristas estão na casa. Por isso, também, passa longe a preocupação da montagem de um set list com início, meio e fim de modo a conquistar o público. Nem precisa, porque todos estão ali para receber exatamente o que a banda tem a oferecer. E todos, público e banda, sabem disso com irrefutável certeza. Não tem mesmo como dar errado.

O técnico baixista Gustaf Hielm, que também manda muito bem nos vocais de apoio do Pain Of Salvation

O técnico baixista Gustaf Hielm, que também manda muito bem nos vocais de apoio do Pain Of Salvation

O grupo não toca a íntegra de sua obra-prima – “Remedy Lane”, lançado há 13 anos -, como muita gente suspeitava antes, mas é quase isso, com a inclusão de nada menos que sete das 13 faixas que aparecem divididas nos três capítulos do disco. Entre elas, coube a “Beyond The Pale”, com tons épicos e andamento tenso, o belo encerramento, antes do bis, arrematando uma trinca das boas. Aplaudida, “Rope Ends” é disparado um dos destaques da noite, com um raro tom pop no grupo, graças ao refrão forte reforçado por ótimos backing vocals do baixista Gustaf Hielm e do guitarrista Ragnar Zolberg. Este, inclusive, andou cantando em shows em que Daniel Gildenlöw não pode ir por questões de saúde. Entre as duas músicas, “Dryad of the Woods” salienta uma jam instrumental da pesada, com solos intercalados dos dois guitarristas. Ah, se o show fosse todo mais ou menos nessa onda…

Mas não é, e vejam que a noite parece começar várias vezes, exceto quando deveria, no início propriamente dito, já que as músicas que formam a duplinha inicial (“Of Two Beginnings” e “Ending Theme”), não têm essa serventia. Assim, a sensação é a de que, como espetáculo – repita-se - a coisa sugere que vai engrenar o tempo todo, seja com uma evolução mais pesada ou um riff que chama a atenção, mas acaba por frustrar as expectativas. E aí as conversas com o público até que passam a fazer sentido, como assuntos que se sucedem em encontros com os velhos amigos. Curiosamente, uma das características do gênero com o qual o Pain Of Salvation flerta o tempo todo – o progressivo - é justamente a fusão do final de uma música com o início de outra; vai entender.

Gildenlöw se dedica exclusivamente aos vocais, em muitas das mudanças de andamento das músicas

Gildenlöw se dedica exclusivamente aos vocais, em muitas das mudanças de andamento das músicas

Das várias funções que acumula, Gildenlöw é ótimo vocalista, e mostra estar com o gogó afiado em músicas como “People Passing By”, de sotaque funk/jazz e que salienta o bom trabalho de Hielm, e na chatinha “1979”, uma boa mostra de como os trabalhos mais recentes da banda não agradam muito. Ao menos nada foi tocado no famigerado formato acústico que dá o tom do disco mais recente, “Falling Home”, lançado no ano passado. “The Physics of Gridlock”, contudo, arremata a noite – aí sim – como um show de rock deve ser, com várias nuances instrumentais e os músicos tocando pra valer. Nem parece o desfecho de uma apresentação para iniciados, muito boa tecnicamente falando, mas, vamos e venhamos, isso não pode ser o bastante, ainda que, para os fãs, tenha sido tudo feito sob medida.

Set list completo:

1- Of Two Beginnings
2- Ending Theme
3- Fandango
4- A Trace of Blood
5- Linoleum
6- ! (Foreword)
7- People Passing By
8- 1979
9- Falling
10- The Perfect Element
11- Rope Ends
12- Dryad of the Woods
13- Beyond the Pale
Bis
14- Ashes
15- The Physics of Gridlock

Sob medida: banda se reúne na beirada do palco para ser aclamada pelos fãs no final do show do Rio

Sob medida: banda se reúne na beirada do palco para ser aclamada pelos fãs no final do show do Rio

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