Sob encomenda
Sem material novo, Pain Of Salvation revê álbum consagrado e entrega exatamente aquilo que os fãs desejam no show do Rio. Fotos: Daniel Croce.
Contemplativo por que, salvo raríssimas exceções, o show não é do tipo que empolga e faz o público participar pulando, cantando ou aplaudindo – em que pese os intensos pedidos de bis -, mas é para escutar e observar mais a perícia técnica dos músicos do que a entrega com a qual elas são tocadas. Daí a plateia estar repleta de músicos/aspirantes a músicos que erguem os braços quando Gildenlöw pergunta quantos guitarristas estão na casa. Por isso, também, passa longe a preocupação da montagem de um set list com início, meio e fim de modo a conquistar o público. Nem precisa, porque todos estão ali para receber exatamente o que a banda tem a oferecer. E todos, público e banda, sabem disso com irrefutável certeza. Não tem mesmo como dar errado.

O técnico baixista Gustaf Hielm, que também manda muito bem nos vocais de apoio do Pain Of Salvation
Mas não é, e vejam que a noite parece começar várias vezes, exceto quando deveria, no início propriamente dito, já que as músicas que formam a duplinha inicial (“Of Two Beginnings” e “Ending Theme”), não têm essa serventia. Assim, a sensação é a de que, como espetáculo – repita-se - a coisa sugere que vai engrenar o tempo todo, seja com uma evolução mais pesada ou um riff que chama a atenção, mas acaba por frustrar as expectativas. E aí as conversas com o público até que passam a fazer sentido, como assuntos que se sucedem em encontros com os velhos amigos. Curiosamente, uma das características do gênero com o qual o Pain Of Salvation flerta o tempo todo – o progressivo - é justamente a fusão do final de uma música com o início de outra; vai entender.
Das várias funções que acumula, Gildenlöw é ótimo vocalista, e mostra estar com o gogó afiado em músicas como “People Passing By”, de sotaque funk/jazz e que salienta o bom trabalho de Hielm, e na chatinha “1979”, uma boa mostra de como os trabalhos mais recentes da banda não agradam muito. Ao menos nada foi tocado no famigerado formato acústico que dá o tom do disco mais recente, “Falling Home”, lançado no ano passado. “The Physics of Gridlock”, contudo, arremata a noite – aí sim – como um show de rock deve ser, com várias nuances instrumentais e os músicos tocando pra valer. Nem parece o desfecho de uma apresentação para iniciados, muito boa tecnicamente falando, mas, vamos e venhamos, isso não pode ser o bastante, ainda que, para os fãs, tenha sido tudo feito sob medida.Set list completo:
1- Of Two Beginnings
2- Ending Theme
3- Fandango
4- A Trace of Blood
5- Linoleum
6- ! (Foreword)
7- People Passing By
8- 1979
9- Falling
10- The Perfect Element
11- Rope Ends
12- Dryad of the Woods
13- Beyond the Pale
Bis
14- Ashes
15- The Physics of Gridlock
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