O Homem Baile

Divertido

Com avançar da idade, BB King divide maestria de tocar guitarra com o prazer de contar histórias para o público. Fotos: Luciano Oliveira.

bbking-1De repente o palco do Vivo Rio vira uma sala de sessão de autógrafos. Enquanto a banda segue tocando improvisos de standards da música americana, no centro, ajudado por um atencioso estafe, BB King, sentado, recebe cartazes, pedaços de papel e até guitarras para gravar neles a própria assinatura. Distribui palhetas, muitas palhetas, sorrisos e atenção. Quando enche o saco, pede a guitarra de volta para tocar um longo trecho, tirando do instrumento um tipo de som que só ele consegue. Era o desfecho de cerca de hora e meia de show, no qual o Rei do Blues se diverte não apenas tocando, mas contando histórias e entretendo o público.

Pouco importa se, no fim das contas, o “tempo de bola rolando” não seja lá tão grande. Aos 87 anos, o que conta para BB King, em primeiro lugar, é o homem. E ele parece muito bem de saúde, a ponto de continuar em turnê ininterruptamente até por lugares distantes como o Brasil. O Rei tem noção da importância que possui no mundo todo, e sabe que as pessoas querem é ver de perto a inquestionável lenda vida – termo nem sempre tão bem aplicado como no caso dele. Ter BB King por perto é – como se fosse possível – ver Pelé marcar o milésimo gol, abraçar John Lennon, conversar com Mahatma Gandhi, ver o muro de Berlim ruir. É a história viva passando, bem ali na sua frente. Não dá, realmente, para perder.

A banda que acompanha BB King é basicamente a mesma das últimas turnês que têm vindo com relativa frequência ao Brasil. Só que com os músicos – já maduros – cada vez mais velhos. O trompetista e figuraça James “Boogaloo” Bolden, por exemplo, que no passado atuava como MC e dançava a valer, hoje atua de forma comedida, embora BB King o tenha instigado cair no rebolado. Nas duas primeiras músicas da noite, sem o Mestre, os músicos tocam temas que vão do blues ao jazz, soul e música negra em geral, com cada um deles fazendo um pequeno solo. Destacam-se o guitarrista Charlie Dennis, confundido por alguns incautos com o próprio BB King; o tecladista Ernest Vantrease, que pilota um Hammond original; e o baterista Tony Coleman, vítima de muitas das brincadeiras do Rei. No naipe de metais está Walter King, sobrinho do BB King, segundo ele “o único da família a ter um diploma”.bbking-2As brincadeiras não param nessa. Assanhadinho, BB King define o Brasil como “um país de caras simpáticos, mas de mulheres muito bonitas”. Puxa “Rock Me Baby”, o blues mais regravado em todos os tempos, para os rapazes, e emenda com o clássico “You Are My Sunshine”, dedicada às moças. É a primeira das músicas em que a plateia acompanha cantando e no ritmo das palmas. Lotado, o Vivo Rio recebeu cerca de 2mil pessoas acomodadas em apertadas mesas e cadeiras distribuídas pelo salão. “Key to The Highway”, clássico de Big Bill Broonzy, gravada com Eric Clapton no álbum “Riding With The King”, é uma das que mais empolga, com a bandaça mandando muito bem. O que pega é que BB King não toca e canta ao mesmo tempo de jeito algum, o que priva a pateia de ouvir mais o jeito único de ele tocar. Nada que atrapalhe a boa performance de “Someone Really Loves You”, com show de Vantrease e participação do sobrinho Walter.

Embora a noite seja de festa, a despedida tem a tristeza inerente ao próprio blues, já que parece ser a última. Alheio às mudanças no mundo da música, porém, BB King segue tocando sua velha guitarra e dando ao público, enquanto pode, sua própria história, ainda viva. É uma pena que muitos classemedianos afobados tenham deixado o local antes de o show acabar, justamente quando o gentil velhinho decidiu atender pessoalmente um por um, no tocante desfecho da apresentação. Pior para os mal educados, que perderam o solo final do Mestre, aparentemente feito de improviso somente nessa noite. Um arremate que não será esquecido tão cedo.

BB King segue em turnê pelo Brasil, com shows em Curitiba e São Paulo; saiba mas aqui.bbking-3

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. andre em outubro 9, 2012 às 11:24
    #1

    Impressionante! Puto por nao ter ido rs.
    O cara não precisa provar nada pra ninguém e esbanja humildade!! Foda!

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