Imagem é Tudo

Iron Maiden

En Vivo!
(EMI)

ironmaidenenvivoNão há como esperar muitas surpresas em um novo DVD do Iron Maiden, mas a demanda dos fãs não para, de modo que é preciso buscar não se repetir a cada turnê a ser registrada. A escolha do lugar da gravação é a ação mais óbvia, e este “En Vivo!” denuncia que os shows da “The Final Frontier World Tour” escolhidos foram os de Buenos Aires, na Argentina, e de Santiago, no Chile. Mas somente as imagens do show do Chile, realizado no Estádio Nacional, para cerca de 50 mil pessoas, estão nesse DVD, cujo registro foi feito por 22 câmeras de HD. O da Argentina, ao que tudo indica, ficou para um lançamento futuro.

A grande inovação do vídeo está na utilização de imagens editadas em tela repartida. Já que aumentaram o tamanho dos monitores de TV, o recurso não diminui o impacto visual e proporciona resultados surpreendentes, com até sete imagens sendo exibidas na tela ao mesmo tempo. É possível, por exemplo, ver o trabalho de mais de um dos três guitarristas ao mesmo tempo, flagrando o que cada um deles faz em determinado trecho da música e do show. Ou, ainda, checar o mesmo integrante do grupo, numa mesma cena, registrada por dois ou mais ângulos diferentes. Ou, por último, a reação simultânea de uma plateia imensa e participativa, como acontece com o Iron Maiden em tudo o que é canto. É aquele negócio do tudo ao mesmo tempo agora dessa era da informação em que vivemos.

Diferentemente do DVD anterior, feitos pelos documentaristas – e, portanto pouco rodados em coberturas de show - Scot McFadyen e Sam Dunn, dessa vez a prioridade foi o show em si, com ênfase na integração entre o som e as imagens. O resultado é que realmente – clichê dos clichês – têm-se a sensação de estar no show, e se salienta aí a qualidade de som das melhores, polida a quatro mãos pelo produtor Kevin Shirley e pelo baixista e chefão da banda Steve Harris. O CD duplo, de mesmo título, traz todas as 17 músicas do DVD. No encarte, o Iron Maiden mostra porque cativa tanto os seus dedicados fãs. São 24 páginas com ótimas fotos e as letras de todas as músicas. Não é por acaso que todo mundo que vai aos shows do grupo canta tudo como se não houvesse amanhã.

O repertório, que, cogitava-se na época da gravação do show (veja aqui) poderia ser acrescido com outras músicas, acabou sendo o mesmo de toda a turnê, que teve seis datas no Brasil (veja como foi no Rio). Depois de sucessivas turnês “de época”, o Iron Maiden incluiu nada menos que seis músicas do álbum “The Final Frontier” no rol. O destaque é “The Talisman”, que se revela melhor do que na versão gravada no álbum, além do – digamos – hit que se tornou a faixa-título. “When The Wild Wind Blows”, de seu lado, com mais de 10 minutos de duração, é o desafio da vez e a deixa perfeita para uma boa exibição das “twin guitars” herdadas de bandas como Thin Lizzy e Wishbone Ash, num dos espetáculos mais comoventes do DVD. Não por acaso, no trecho do documentário “Behind The Beast” em que a banda aparece ensaiando, em Paris, a preocupação com a execução dessa música dá o tom das entrevistas.

ironmaidenenvivocdMas é em “The Trooper” que as “twin guitars” se desdobram em guitarras trigêmeas, numa exibição de técnica e bom gosto que se supera a cada show. É notável como a música só melhora a cada turnê, ainda mais olhando-se no DVD, quando se perde o calor da apresentação, mas se ganha na observação dos detalhes em que os integrantes do Maiden demonstram incrível precisão. “Blood Brothers”, dedicada aos japoneses em toda a turnê, já que os shows no País foram cancelados por causa do terremoto/tsunami, recebe um dos melhores momentos daqueles de tela repartida citados lá em cima.

O assunto também é tratado no documentário, no exato momento em que o piloto Bruce Dickinson é informado que não pode pousar por causa da tragédia. Embora os fãs ficassem pedindo “Run to the Hills”, o encerramento com a trinca “The Number Of The Beast”/”Hallowed Be Thy Name”/”Running Free” dá conta do recado, com as câmeras flagrando rodas de pogo nervosas no Estádio Nacional. Vale o registro de dois “Eddies”: um tocando guitarra, andando no palco de lado a outro, e outro gigante, que surge por de trás da bateria como se fosse um “moita”, e que só foi usado em alguns shows da turnê, dada a dificuldade logística e de montagem.

É um dos temas abordados em “Behind The Beast”, que esmiúça, em cerca de hora e meia, todos os detalhes da infraestrutura necessária para uma turnê mundial do porte dessas que o Iron Maiden vive fazendo. O filme mostra as dificuldades de garantir uma apresentação segura em locais onde o grupo nunca havia tocado antes. O Brasil até que aparece bem, onde Belém é mostrada com o palco sendo montado sob uma chuva daquelas, mas os depoimentos revelam o orgulho da equipe por tocar no local que eles adoram chamar de “rain forest”. Sorte, o Rio, onde o show teve que ser adiado de um dia para o outro por causa do rompimento de uma grande que separa o público do palco, não foi incluído.

A bem da verdade, os detalhes técnicos são tão abundantes que podem cansar o fã do grupo menos interessado nesse tipo de narrativa, exceto por trechos em que são mostrados, por exemplo, a customização do avião próprio (Ed Force One) ou como a identidade visual da turnê, incluindo os “Eddies”, é bolada. Nos extras, o clipe e o making of de “Satelite 15… The Final Frontier” e a introdução que foi exibida nos telões durante a turnê. No fim das contas, o “En Vivo!” cumpre a nobre função de mostrar a mais recente turnê do Iron Maiden, trazendo algumas inovações, dentro do possível. E isso no momento em que grupo está prestes a começar mais uma turnê “de época”; saiba mais aqui.

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