O Homem Baile

Bailão do rock

Com metade da formação do Creedence original e novo guitarrista, Creedence Clearwater Revisited toca repertório consagrado e faz a alegria do público, em nova passagem pelo Rio. Fotos: Luciano Oliveira.

Só diversão: o baixista Stu Cook comanda a versão reformada do Creedence Clearwater Revisited

Só diversão: o baixista Stu Cook comanda a versão reformada do Creedence Clearwater Revisited

Só pelas performances pontuais do guitarrista Kurt Griffey o show de ontem do Creedence Clearwater Revisited já teria valido à pena. O grupo está em turnê pelo Brasil tocando as mesmas músicas de sempre, é verdade, mas Griffey, que entrou na banda só no ano passado, não tem nada com isso e tratou de fazer a sua parte em pelo menos duas músicas. Na ótima “Hear it Through The Grapevine”, quando os integrantes da formação original do Creedence – o baixista Stu Cook e o baterista “Cosmo” Clifford – também solam, ele se supera com dois números de guitarra sensacionais, flutuando de lado a outro do palco e arrancando aplausos dos poucos fãs – cerca de 1500 - que dessa vez prestigiaram a banda. Griffey tem no currículo serviços prestados, entre outros, a bandas como Steppenwolf, Foreigner e ao guitarrista Santana, com quem aprendeu boas lições. Em “Suzie Q.”, logo no início, ele mostra um cartão de visitadas daqueles.

O baterista Doug 'Cosmo': boa forma aos 66

O baterista Doug 'Cosmo': boa forma aos 66

Quem não é ligado tanto assim numa guitarra típica do classic rock e muito bem tocada, entretanto, também se divertiu. Não custa repetir que o repertório é o mesmo do Creedence Clearwater Revival – o original – e que o grupo tem um punhado de músicas que fazem parte do inconsciente coletivo da música pop em todos os tempos. Trocando em miúdos, é o tipo de canção da qual o sujeito pode até não saber o nome, mas a reconhece logo que começa a ser tocada e, aí, começa a cantoria sem fim. Até quem nunca colocou um disco do Creedence numa vitrola conhece tudo e solta a voz. Não seria exagero dizer, portanto, que o Creedence Clearwater – Revival ou Revisited, tanto faz – é uma espécie de Roberto Carlos da música pop mundial. E, por isso mesmo, o show é diversão garantida.

Mas é preciso cantar e tocar tudo certinho, e Stu e Cosmo parecem ter achado os caras certos. A começar pelo vocalista John “Pitbull” Tristão, que também manda uma boa guitarra base. Tristão tem a voz talhada e a impostação necessária para as músicas do Creedence; é come se ele estivesse no grupo desde os primórdios, deixando para trás John Fogerty, o compositor de todo o repertório, sem a menor cerimônia. Se o tecladista Steve Gunner é discreto o bastante, Cosmo mostra boa forma física – e gaba-se dela – para um baterista de 66 anos com uma inacreditável camiseta à anos 80. E o coroão Stu Cook se diverte com as estripulias do grupo, que, a despeito de certa apropriação indébita do repertório, faz dessa diversão o combustível para seguir levando em frente o legado do Creedence.

John Tristão: pitbull até na guitarra decorada

John Tristão: pitbull até na guitarra decorada

As comparações Revival x Revisited, no entanto, são inevitáveis, ainda mais depois que Fogerty saiu da toca, decidiu fazer uma turnê solo atrás da outra e passou pelo Rio, no mesmo Citibank Hall, há menos de um ano (veja como foi). Quinze das 20 músicas tocadas ontem representam a interseção com o show de Fogerty, que, de seu lado, tem o repertório expandido com poucas das composições de sua carreira solo. A banda dele tem mais integrantes, e é dele a voz original do Creedence, um advance inapelável que faz o Revisited, apesar de ter metade dos integrantes da turnê original, ser tratado como banda cover. Embora o resultado de cada um dos shows seja basicamente o mesmo – pessoas de idade avançada lembrando o que chamam de “os bons tempos” ao lado de jovens curiosos – , John Fogerty fica em vantagem por ser o autor, ainda que se dê pouca importância a isso num mundo pós-internet, e por acumular a função de “voz original”. O ideal seria a reunião do Creedence original, com Fogerty, Cosmo e Stu Cook juntos. Mas este último garante que isso não vai acontecer tão cedo (leia matéria aqui).

Isso para quem estava ali na frente do palco e conhece essa história toda. Porque, para os demais, era o Creedence ao vivo e a cores tocando – vale sempre repetir – o maior repertório só de sucessos de uma única banda de que se tem notícia. Fosse em “Proud Mary”, do refrão “Rolling on the river” cantado à plenos pulmões pela plateia; na inesperadamente pedida aos gritos “Molina”, omitida por John Fogerty; em “Good Golly Miss Molly”, de Little Richard (quem disse não haveria surpresas?), no bis; em Hey Tonight”; ou na mais que manjada “Have You Ever Seen the Rain?”, o bailão do rock era garantido. É só dar ao público aquilo que ele quer que não tem erro.

Griffey roubou a cena em performances pontuais

Griffey roubou a cena em performances pontuais

Set list completo:

1- Born on the Bayou
2- Green River
3- Lodi
4- Commotion
5- Who’ll Stop the Rain
6- Suzie Q
7- Hey Tonight
8- Long as I Can See the Light
9- Down on the Corner
10- Lookin’ Out My Back Door
11- I Heard It Through the Grapevine
12- Midnight Special
13- Bad Moon Rising
14- Proud Mary
15- Fortunate Son
Bis
16- Have You Ever Seen the Rain?
17- Travelin’ Band
Bis
18- Molina
19- Good Golly Miss Molly
20- Up Around the Bend

A turnê do Creedence Clearwater Revisited passa ainda por Florianópolis e São Paulo; saiba mais aqui.

Tags desse texto:

Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. fabio em março 26, 2012 às 17:18
    #1

    Vi no passado duas vezes o Revisited, e ano passado vi o Fogerty…
    Te digo sem a minima duvida: depois de ver um show do Fogerty, fica muito difícil voltar a assistir um show do Revisited.

    Fogerty é genio da raça!

Deixe o seu comentário

Seu email não será divulgado