O Homem Baile

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Autor de todos os sucessos do Creedence Clearwater Revival, John Fogerty inicia turnê brasileira em noite fadada a recordações. Fotos: Luciano Oliveira.

John Fogerty e banda inicia show: camisa de lenhador da roça americano fez sucesso entre o público

John Fogerty e banda inicia show: camisa de lenhador da roça americano fez sucesso entre o público

Passava de dez da noite quando um animado John Fogerty cumprimentou o público carioca: “Como vocês estão? Estou muito feliz de estar aqui pela primeira vez em algum lugar da América do Sul!”. “Hey Tonight”, clássico de sua banda de origem, o Creedence Clearwater Revival, já havia sido tocado no talo numa noite que começava fadada a recordações dos tempos em que o grupo era o bambambã do rock um todo o mundo, na virada dos anos 60 para os 70. E Fogerty é o autor de todos os grandes sucessos do grupo, que dominou um repertório do tipo “todo mundo conhece, mas não sabe de onde”. Pena que o público que compareceu ao Citibank Hall tenha sido decepcionante – especula-se que os ausentes não tenham feito a conexão Fogerty-Creedence… Será?

Fogerty agita com o tecladista/guitarrista

Fogerty agita com o tecladista/guitarrista

Foi a estreia de Fogerty no Brasil, mas, curiosamente, a outra parte da banda, fatiada com brigas e questões legais e por isso mesmo chamada Creedence Clearwater Revisited, com o baterista Doug Clifford e o baixista Stu Cook, vêm ao País regularmente, e sempre com shows lotados, tocando – basicamente – as mesmas músicas. Não era seguramente o que passava pela cabeça do feliz John Fogerty, cuja banda, com dois guitarristas, além dele, e um baterista feroz, deram a sustentação para a verdadeira avalanche de sucessos que alegraram a festa – nem mesmo as cadeiras arrumadas em filas (que ideia infeliz!) atrapalharam a noite.

Além de compositor de mão cheia, Fogerty é instrumentista virtuoso, porém discreto. Seu único momento de exibição acontece no início de “Keep On Chooglin’”, quando toca guitarra no braço, de mão trocada, no maior estilo Eddie Van Halen – há os que defendam que é Fogerty o criador do método. A música, tocada já na parte final do show, tem arranjo pesado, e, além da harmônica tocada por Fogerty, projeta os três guitarristas à frente do palco, inclui um mini solo de bateria e garante num dos melhores momentos do show. Outro, no início, acontece em “Ramble Tamble”, na primeira parte, quando uma meiúca instrumental deixa John Fogerty livre para solar feito uma criança, muito bem acompanhado pelos seus asseclas.

Público desiste das cadeiras e vai ao palco

Público desiste das cadeiras e vai ao palco

Antes de iniciar o clássico dos clássicos “Have You Ever See The Rain?”, Fogerty cita a família, agradece a esposa (“um arco-íris em minha vida”) e por ser um homem de sorte. “Rock and Roll Girls”, de sua carreira solo, ao vivo virou uma porrada das boas e – claro – foi dedicada à filha e à esposa. Antes de cantar “Who’ll Stop The Rain”, o guitarrista lembra que fez a música assim que saiu de Woodstock, e cita Jimi Hendrix, Janis Joplin e Carlos Santana. O público, entrevado entre cadeiras, adora. Em “I Heard It Through The Grapevine”, outro clássico de riff colante, há num dos grandes momentos de interação com a plateia, chamada para as palmas e para cantar o refrão/título. Fogerty é simpático, distribui palhetas e chega a dar autógrafos quando volta para o bis. O modelo idêntico ao da camisa de lenhador da roça americano que ele usa no palco é sucesso de vendas no estande.

O show, até pelo coletivo de hits, é muito bom, mas não há como fugir das comparações com o Revisited. Se de um lado Fogerty mostra sua assinatura em todas as músicas – e isso não é só uma figura de linguagem -, de outro os músicos do Revisited parecem se esforçar mais para igualar suas performances às originais, o que produz músicas mais longas, com verdadeiros duelos instrumentais por vezes ausentes na noite de ontem. Como artista solo, John Fogerty concentra as atenções e por vezes é contido demais; quando desanda a tocar é que a coisa fica realmente boa, mas isso é coisa pontual, e, por vezes, passa despercebida, por conta dos clássicos propriamente ditos.

Um dos momentos mais marcantes, em 'The Old Man Down the Road', com todos na borda do palco

Um dos momentos mais marcantes, em 'The Old Man Down the Road', com todos na borda do palco

Em “The Old Man Down the Road” acontece um desses momentos mágicos. O riff colante empurra nada menos que as três guitarras, baixo e violão para a borda do palco, com John Fogerty solando feito louco. Emendada com a turbinada “Bad Moon Rising” e “Fortunate Son”, ela garante um final de show exuberante. No bis, “Rockin All Over the World” simboliza o rock em sua essência e “Proud Mary”, enfim, depois de pedida pelo público, dá o ar da graça e fecha as quase duas horas de um show marcante há mais de 40 anos.

John Fogerty continua a turnê pelo Brasil hoje, em Belo Horizonte, e domingo e terça, em São Paulo – saiba tudo aqui.

Set list completo:

1- Hey Tonight
2- Green River
3- Who’ll Stop the Rain
4- Suzie Q
5- Lookin’ Out My Back Door
6- Lodi
7- Born on the Bayou
8- Ramble Tamble
9- Midnight Special
10- Cotton Fields
11- Hot Rod Heart
12- Don You Wish it Was True
13- Have You Ever Seen the Rain?
14- Oh, Pretty Woman
15- I Heard It Through The Grapevine
16- Up Around the Bend
17- Keep On Chooglin’
18- Down on the Corner
19- Rock and Roll Girls
20- Centerfield
21- The Old Man Down the Road
22- Bad Moon Rising
23- Fortunate Son
Bis
24- Rockin All Over the World
25- Proud Mary

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Comentários enviados

Existem 4 comentários nesse texto.
  1. fabio em maio 9, 2011 às 15:44
    #1

    Marcos… Cosmo, Cook e Tom sempre foram coadjuvantes de luxo. O genio do CCR era o Seu Credêncio, vocalista e guitarra base/solo.
    Discordo de você quando diz que os shows do Revisited tiveram mais alma que o show do Seu Credêncio! Vi duas vezes o Revisited (sentado em mesinhas tipo Maria Betânia no Canecão) e agora esse do Seu Credêncio. Nao me lembro da galera abandonar seus postos no show do Revisited, como aconteceu no show de sexta passada. Concordo que faltaram jams alongadas e mais improvisos, que transformariam um show excelente num show antológico.
    O numero de presentes decepcionou mesmo. Acho que deve ter dado uns 50% de lotação. Mas além da falta de conexão com o CCR, os preços nao tavam muito convidativos. O lugar mais barato tava 250 a inteira.

  2. ILKA SOARES em maio 9, 2011 às 18:52
    #2

    Na minha opinião foi um show fantástico, eu ouvi e dancei Creedence a minha adolescência inteira e me realizei ao ver o John cantando como nunca e não acho que a voz dele ficou mudada pra mim continua maravilhoso, um guitarrista de primeira e compositor excelente, pena só uma vez no Rio, e as cadeiras não atrapalharam em nada eu mesmo fui lá pra frente passando entre segurancas, foi um sonho realizado. Amei o show foi perfeito. Espero em breve vê-lo mais uma vez aqui no Rio. Beijos

  3. João Paulo da Silva em setembro 27, 2011 às 20:19
    #3

    Assisti em BH, um show fantástico. Parabéns John Fogerty. Quem sabe, sabe. A qualidade da sua música está como nos anos 70. Quero deixar aqui meus sinceros agradecimentos também aos organizadores do evento. Foi uma oportunidade rara.

  4. João Paulo da Silva em setembro 27, 2011 às 20:26
    #4

    Gostaria muito de comprar camisetas dessa turnê do John Fogerty no Brasil , porque não consegui comprar no dia do show, só tinha tamanho grande (L) e muito grade (LL) .

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