Rock é Rock Mesmo

Cada coisa no seu lugar

Uma tentativa de entender/explicar a crise que envolve os dirigentes da música independente brasileira desde a semana passada

Meus amigos, o que é natureza… Mais do que nunca é preciso separar o joio do trigo, e nem estou falando de música, muito menos de rock. Bem, de certa forma, sim. Não é que de tanto escutar o discurso empolado dos nossos dirigentes da música independente eu mesmo acabei falando enrolado? Mas dá pra entender, meus amigos, com um pouco de paciência, dá para entender. E também é preciso explicar que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa.

E explico. Já disse e repito que a Abrafin foi criada, em princípio, para atender a uma demanda da Petrobras. A maior empresa da América Latina acreditava, lá em torno de 2004, 2005, que poderia patrocinar um circuito nacional de festivais independentes e decidiu fazer isso. Só que, embora já existissem festivais em várias capitais, eles não eram articulados entre si. Precisavam ter uma unidade representativa. Por isso vi com naturalidade Fabrício Nobre, então dirigente do Goiânia Noise, descer da van que me levava ao aeroporto depois do Abril Pro Rock de 2005, para se encontrar com Paulo André, criados do APR. Nascia ali a Abrafin, para atender – repito – a uma demanda da Petrobras.

Não é coincidência, meus amigos, que o estatuto da Abrafin e o primeiro edital publicado pela Petrobras para festivais independentes sejam tão parecidos. Os dois foram parceiros nessa história. É da Petrobras, conservadora que só ela, por exemplo, a iniciativa de colocar um período de realização de três anos para que um festival pudesse participar do Edital, item que também consta do Estatuto da Abrafin, e que foi considerado “anacrônico” no “debate” realizado pelo Fora do Eixo no último domingo. A própria Petrobras, como pude apurar recentemente, já mais acostumada ao meio, deve mudar essa “carência” nos futuros editais, de três para um ano. Esse foi um dos pontos colocados na carta do “Grupo dos 13”, que se desligou da Abrafin na semana passada, conforme noticiei em primeira mão – leia aqui.

Já o Fora do Eixo é uma rede de organização de festivais (e outros eventos) independentes pautada pela descentralização, embora tenha lá suas hierarquias naturais. O grupo se esparrama pelo País, sobretudo no interior desse Brasilzão, a ponto de muitos afirmarem, com bons olhos, que o Fora do Eixo “aumentou o tamanho do mapa cultural do País”. O que é verdade, diga-se. Pois em um determinado momento, festivais ligados ao Fora do Eixo e seus representantes se filiaram à Abrafin. E aí é que começaram os problemas que desaguaram na desfiliação do “Grupo dos 13”, que, assim como no futebol, já são 17, se é que eu não perdi a conta.

Em 2007, fiquei quase uma semana em Goiânia, por conta de um convite para mediar um debate e para fazer a cobertura do Goiânia Noise Festival para a saudosa revista Outracoisa. Naquele mesmo período, acontecia a reunião da Abrafin, na qual tive uma breve “entrada”, para sugerir o projeto da criação de um anuário de festivais. Já se percebia, ali, uma tensão de lado a lado, entre os representantes dos festivais mais antigos, muitos fundadores da associação, e os do Fora do Eixo. Tensão leve – diga-se – refletida em “venenos” em algumas falas, e bom humor de lado a lado.

Durante esse ano, nos festivais que fui cobrir, percebi o descontentamento de produtores com a nova gestão da Abrafin, iniciada em janeiro, com um presidente oriundo do Fora do Eixo, Talles Lopes. A máxima era de que o Fora do Eixo estava no poder, que Fabrício Nobre, fundador da Abrafin e presidente durantes dois mandatos, havia sido politicamente “cooptado” pelo Fora do Eixo e que ia ser difícil continuar da Abrafin. Não me admirei, portanto, quando Fabrício se separou da Monstro, que organiza o Goiânia Noise Festival; ali ele oficializou a tal “mudança de lado”. Não, meus amigos, eu não vou a festivais só para bater cabeça na beirada do placo, como pensam alguns retóricos fracassados.

No “debate” de domingo, que acompanhei ao vivo, pela web, falou-se de rancor, mas o rancor que vi, ainda que brando, veio na fala de Talles Lopes, que demonstrou ressentimento ao lembrar a época em que ele e outros representantes do Fora do Eixo entraram na Abrafin e tinham, segundo ele, frequentemente, propostas rechaçadas. De onde se conclui que, ao chegar ao poder da Abrafin, Talles tratou de esvaziar a entidade e fortalecer o Fora do Eixo. Vou dar um exemplo. Ao entrevistar o presidente, em março, cobrei da entidade um estreitamento de relações com a grande mídia, o que para mim é o que falta para os independentes, de uma forma geral, para superar teto do underground. Ele disse que tomaria medidas a respeito (não me lembro quais, leia aqui) e nada aconteceu. Ao mesmo tempo, periodicamente comecei a receber o “Informativo Fora do Eixo”, com notícias relacionadas ao coletivo. Outro exemplo? Acessem o site da Abrafin (www.abrafin.com.br) e vocês vão ver que a atualização mais recente é de junho, e isso com o bicho pegando pra valer. E ao anunciar o calendário de festivais para 2012, Talles usou a página do Facebook. Em suma, o Fora do Eixo desarticulou e esvaziou a Abrafin.

Para mim, os que saíram, entretanto, é que são a Abrafin. Do outro lado ficou o Fora do Eixo, salvo exceções pardas assumidas por alguns festivais, na preservação de seus interesses mais específicos. Tudo bem. São métodos de ação diferentes mesmo. Pode até parecer que os que saíram são os mocinhos e os que ficaram são os bandidos, até porque quem ficou não respondeu às acusações duras daqueles que saíram. Mas não é bem assim. Não dá para generalizar, muito menos nesse caso. A vilania apontada ao Fora do Eixo é difundida amplamente nas redes sociais, e a culpa é dos próprios integrantes do coletivo, que não dão uma resposta à altura às críticas e têm um discurso de político chato e empolado que ninguém tem saco para escutar/participar. No “debate” de domingo, revelou-se ainda uma face messiânica na crítica à cena musical pernambucana que beira a loucura, a esquizofrenia. Dá pra entender por que os caras que saíram não queriam ser identificados/ligados a esse tipo de postura e discurso.

Com o contato que tive com representantes do Fora do Eixo, aprendi que eles vivem em um mundo meio particular, como se estivessem na guerrilha do Araguaia ou combatendo a ditadura nos anos 60/70. Parece que lá no interior de onde eles saíram, só agora essa parte da história começou a acontecer. Pode parecer uma tese preconceituosa deste que vos escreve, mas não é. Eles enxergam o mundo como se ele fosse dividido entre os que estão do “lado deles” e os que estão “contra eles”. Por isso estou usando as aspas no “debate” de domingo. Trata-se de um discurso de um lado só, onde participa quem está “do lado deles”. Acho a palavra cooptação um pouco pesada, mas não consigo achar outra. E admito que tive dificuldade em ver Pedro Alexandre Sanches, uma cabeça privilegiada dentro da nossa combalida crônica musical, naquele sofá. Ao menos coube a ele o mínimo de questionamento que podia ser feito. Eu, meus amigos - que fique claro - não estou de lado algum.

É claro que qualquer associação é, por origem, política, mas os caras do Fora do Eixo exageram tanto a ponto de deixar a música, que é o prato principal, parecer tira gosto. Não sou daqueles que acha que os caras do Fora do Eixo não sacam nada de música, mas diria que a turma do “Grupo dos 13” faz política para se chegar a música, e o Fora do Eixo usa a música para se chegar a política. Ou, por outra, ao poder. Me permito sugerir que esses dirigentes sejam menos retóricos e mais objetivos. E que respondam aos questionamentos colocados diariamente na web. Querem saber de onde vem o dinheiro? Publiquem uma prestação de contas em um jornal de grande circulação. Contratem uma auditoria para passar a limpo as administrações dos coletivos mais visados. Dêem as respostas, saiam do looping apontado no “debate” e calem a crítica. Se não mostrar transparência, meus amigos, fica difícil pra todo mundo.

Eu não queria falar, mas, enfim, vou dizer. O que virou hit na internet foi justamente a fala final, que era para ser contra a cena musical independente de pernambucana e acabou soando contra o Estado de Pernambuco. Quanta bobagem! E o rancor foi mostrado justamente por quem o apontou. Admito que não sou fã de carteirinha da música pernambucana, e até faço troça aqui no Rio, quando digo que a capital de Pernambuco não é Recife, mas no bairro de Santa Teresa, dado o prestígio que os pernambucanos têm por aqui. Mas o pedaço de terra mais sem importância de Pernambuco possui valor maior que tudo que o tal falastrão um dia conseguirá fazer.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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Comentários enviados

Existem 23 comentários nesse texto.
  1. Dum em dezembro 23, 2011 às 13:04
    #1

    Matou a pau Bragatto. Os questionamentos que fazemos sobre o dinheiro, no Jukebox bombou isso, eles não respondem. Só ressoam com esse discurso político enfadonho e dúbio. Eles não vão publicar uma prestação de contas, cansei de pedir isso no blog, mas também essa prestação teria que ser auditada, acompanhada pelo MPF, senão não tem a credibilidade devida. O rancor demostrado pelo Capilé foi digno de um cara complexado, revoltado sem saber bem porque. Quanto ao Pedro e o Alex, sem palavras. Mas não é por acaso que o Pedro defende o FDE como se fosse assessor de imprensa no blog Farofafa. Abs

  2. Livia em dezembro 23, 2011 às 14:51
    #2

    “…a turma do “Grupo dos 13” faz política para se chegar a música, e o Fora do Eixo usa a música para se chegar a política. Ou, por outra, ao poder.”.

    Não existe essa de bandidos e mocinhos, mas vc conseguiu sintetizar muito bem. Valeu!

  3. Túlio Montenegro em dezembro 23, 2011 às 14:52
    #3

    Na medida

  4. Gustavo Mini em dezembro 23, 2011 às 15:12
    #4

    Finalmente alguém deu uma sobrevoada para olhar o todo. Eu tava pensando quem ia ser o jornalista que ia dar uma consolidada em todo esse rolo. Parabéns.

  5. Rodrigo Cavalcanti em dezembro 23, 2011 às 15:22
    #5

    Engraçado esse cara falar isso de Pernambuco num dos momentos em que pipocam bandas aqui. Nunca se viu tanta banda em Recife, nem tanta festa pra essas bandas tocarem, sem falar nos festivais que crescem cada vez mais.

  6. Na Lupa em dezembro 23, 2011 às 15:41
    #6

    É Bragatto, já dizia o Paulo Betti, “não se pode fazer política sem colocar a mão na merda”. Já Augusto Boal pregava que “Não se olha a lua sem fazer política”. Na opinião de observador externo, a capilaridade perseguida pelo Capilé (desculpe pela piada tosca) sufocou o coletivo. Enquanto tudo é raça e vontade, beleza… Quando se passa a medir poder influência a coisa degringola. Ao misturarmos arte e poder político, a arte sempre perde e a troca de favores floresce. Torço para que novos coletivos e associações apareçam dessa debandada. Até porque, união mesmo, só o açucar.

  7. Fernando Rosa em dezembro 23, 2011 às 16:45
    #7

    Só um esclarecimento: a Abrafin foi criada antes. Depois é que veio o edital da Petrobras. Uma coisa não estava condicionada a outra, como diz a matéria. No mais, parabéns pela abordagem.

  8. Gabriel Klaser em dezembro 23, 2011 às 16:55
    #8

    “Não sou daqueles que acha que os caras do Fora do Eixo não sacam nada de música, mas diria que a turma do “Grupo dos 13” faz política para se chegar a música, e o Fora do Eixo usa a música para se chegar a política.”

    Aqui tu resume toda a história. Belo texto… nunca gostei de politicagem, e ver tal coisa acontecer com a música me deixa triste.

  9. raul bianchi em dezembro 23, 2011 às 17:24
    #9

    Impressionante o que grana estatal e a Touanet fizeram com a música. Agora até a cena independente virou antro. Na minha época, quando minha banda, a Teahouse Band, estava na ativa, os festivais eram armados por pessoas que gostavam de música. Bons tempos do Junta Tribo, Humaitá, Laura Alvim, e os primeiros Abril Pro Rock, antes de o Paulo achar que era o Medina. Ligavam pra gente, mandavam a grana da passagem e olhe lá, mas valia tocar em cada um desses festvais. Que tristeza ver que em vez de evoluirem, retrocederam no espírtio da coisa…

  10. Grazi Calazans em dezembro 23, 2011 às 17:55
    #10

    Excelente essa matéria! “Eles enxergam o mundo como se ele fosse dividido entre os que estão do “lado deles” e os que estão “contra eles”.” Presenciamos isso em diversos momentos quando passamos com o projeto Família a Bordo por coletivos integrados à rede. E justamente por discordarmos de algumas coisas e usarmos a palavra politicagem que está sendo feita pelo Circuito em Porto Alegre, fomos banidos das listas de emails como se fôssemos espiões inimigos. O rancor que eles tanto enchem a boca pra criticar parte justamente deles, não aceitam críticas, se acham os donos da verdade e tentam catequizar muita gente por aí… E é incrível como tem gente catequizada que acha que eles são a única solução do planeta para a cultura no Brasil.

    “É claro que qualquer associação é, por origem, política, mas os caras do Fora do Eixo exageram tanto a ponto de deixar a música, que é o prato principal, parecer tira gosto.” É exatamente isso, o que faz a ideia da rede ser genial na teoria, já na prática…

  11. Lu Cruz em dezembro 23, 2011 às 18:15
    #11

    Caramba, Brags, você sintetizou tudo que eu pensava a respeito desse imbróglio de maneira brilhante nesse texto!

    Fiquei bem incomodada com o brilhante Pedro Alexandre naquele debate - e achei que, além dele, o único que questionou levemente o Capilé foi o Kuru Lima.

    Também fiquei chocada com a pretensão do representante do FDE quando se disse em “crise diplomática com o Estado de Pernambuco”. E concordo 100% que o FDE se utliza da música para fazer política e chegar ao poder. E isso é o que mais me deixa bolada com o FDE.

    Acho absurdo que o coletivo não exponha um link “prestação de contas” em seu site (também desatualizado, diga-se).

    Mais absurda ainda é a tentativa de manipulação midiática do FDE: o vídeo “polêmico” foi tirado do ar e, agora, depois do barulho todo feito nas redes, o tom dos posts do Capilé mudou totalmente! Virou o “Capilezinho Paz e Amor”, encerrando cada post com um emoticon feliz. Fala sério!!!!!!

    Este foi o texto mais sensato que eu li sobre essa “novela” até agora.

    Merece ser muito compartilhado.

  12. Adelvan em dezembro 23, 2011 às 18:54
    #12

    Na moral, prefiro assitir uma missa com o terço bizantino do padre Marcelo Rossi do que ouvir uma palestra do pablo Capilé. É menos chato.

  13. manoel vilas boas em dezembro 23, 2011 às 19:15
    #13

    http://www.cubotec.blogspot.com
    Estão aí as prestações do festival Calango para quem quiser ver. Ah, sempre estiveram abertas e on line. Agora seria legal o pessoal que cobra do FDE cobrar as prestações de contas dos 17 festivais que saíram. As prestações do FDE ficam abertas, basta procurar.
    O engraçado, Bragatto, é que a busca pelo tal poder (imagino que você se refira principalmente a cargos políticos) não foi alcançado, né? Creio que com o prestígio que ele tem no interior dele (isso foi pesado, não entremos nesse embate idiota de estado, por favor) já seria pelo menos vereador ou deputado estadual. O que o Capilé fez foi se posicionar, provocar (tá, foi pesado para alguns), mas daí vir a curcificar o FDE/Capilé e reduzir a produção que temos a nada? Numa disputa, acabamos cometendo os mesmos ‘erros’ que acusamos nossos opositores de cometer.
    Ah, você não está relatando somente os fatos, está dando sua visão das coisas, e sim, toma partido contra o FDE (essa é a minha visão, não tô atacando ninguém e nem gostaria de ser taxado de revoltado).
    Grazi, toda história tem pelo menos dois pontos de vista, o seu e o oposto ao seu.

  14. FF em dezembro 23, 2011 às 22:48
    #14

    Finalmente tu fez a caralha de um texto com opinião, porra!

  15. Marcelo D. em dezembro 23, 2011 às 23:07
    #15

    Concordo com Fernando Rosa…
    Já conversávamos sobre a criação de uma associação de festivais durante o “Simpósio de Musica Independente” no Demo Sul no final de 2004. A Petrobras só apareceu três anos depois. No mais, parabéns pela abordagem.

  16. Marcio Almeida em dezembro 23, 2011 às 23:22
    #16

    “Idoneidade moral”

    Posso dizer que o FDE seria uma plataforma de desenvolvimento social?

    Pelo menos essa é forma que o visualizo atualmente, me desculpe e me corrija se estiver enganado. E nesse caso, não seria mais saudável para o circuito afastar um “gestor desequilibrado” como Pablo Capilé? Hoje está mais que explícito, vários outros integrantes do FDE não acordam com a forma com que este cidadão conduz a rede, envolvendo pessoas das mais ramificadas intenções e pensamentos diversos num discurso único e horizontal.

    Grazi, fiquei sabendo que este projeto, “Família a Bordo”, deu o maior “galho”, vocês perderam até os empregos, é verdade?

  17. Marcos Bragatto em dezembro 24, 2011 às 7:15
    #17

    Valeu pelo link, Manoel, mas a minha sugestão é que essa abertura de contas seja feita para quem questiona o FDE. Em todo caso, o pessoal que tá passando por aqui pode acessar.

    Olha, não tô crucificando ninguém, não. Mas em relação ao “episódio Pernambuco”, o próprio Fora do Eixo já reconheceu o erro e se desculpou, numa postura das mais acertadas.

    Não tomei partido contra ninguém, mas isso aqui é uma coluna de opinião e evidentemente tem a visão do autor. A isenção jornalística eu persigo nas seções de notícias.

    Quando é que tu banda volta a tocar aqui no Rio? Jamais te taxaria de “revoltado”, meu amigo. Sem revolta não é possivel o rock!

    Um abraço!

  18. Tiago Ferreira em dezembro 24, 2011 às 9:23
    #18

    Colocando os pingos nos is. Confesso que estava bem alheio à toda essa politicagem, mas é bom saber como os festivais de música independente são tratados aqui no Brasil…
    Abraço!

  19. Gustavo Sá em dezembro 24, 2011 às 9:45
    #19

    Caro Bragatto,
    Gostaria de esclarecer alguns pontos e corrigir alguns fatos que não são verdadeiros.
    Como membro fundador da Abrafin posso lhe assegurar que a mesma não foi em nenhuma hipótese criada para atender à nenhuma demanda da Petrobras.

    Vamos aos fatos, quando da realização do Festival Porão do Rock de 2006 aproveitamos que haveria uma reunião geral da Abrafin e solicitamos uma audiência com o Juca Ferreira que à época era Secretário Executivo do Minc na gestão do ex Ministro Gilberto Gil, até então a Abrafin era uma ilustre desconhecida no Minc, haja vista que, quando chegamos para a audiência ouvimos da secretária do Juca Ferreira a seguinte frase “o Secretário está com a agenda muito atribulada e só terá 10 minutos para recebê-los”

    Nos apresentamos e fizemos um apanhado da realidade do circuíto de festivais independentes, dos planos da entidade, etc, a certa altura, encantado com a avalanche de informações, Juca Ferreira mandou chamar alguns de seus assessores, dentre eles Alfredo Manevi (que substituiria Juca Ferreira quando este assumiu o cargo de Ministro da Cultura) resumo da ópera, a reunião que seria de 10 minutos durou 2 horas e o Secretário Executivo Juca Ferreira orientou a seus assessores sobre a necessidade de mecanismos de apoio aos festivais independentes, um desses mecanismos veio a ser a criação de um edital do Minc para patrocínio à festivais independentes onde, posteriormente a Petrobras seria a viabilizadora.

    Não é verdadeira a informação de que a iniciativa de colocar um período de realização de 3 anos para que pudesse participar do edital é da Petrobras.

    Essa regra foi sugerida pela Abrafin para evitar que festivais aventureiros ou sem compromisso com a continuidade participassem do edital.

  20. Gustavo Sá em dezembro 24, 2011 às 12:27
    #20

    Vale lembrar que o Festival Porão do Rock se desfiliou da Abrafin em abril de 2011 juntamente com o Festival Eletronika e o Porto Musical.
    Abs

  21. LUIZ PAULO em dezembro 26, 2011 às 18:48
    #21

    Apesar de ser pernambucano, é uma vergonha o que a “mídia e alguns produtores musicais” de Recife tentam impor ao resto do País achando que todo mundo é burro!
    Eis aqui algumas verdades!

    1- O mangue beat nasceu de um manifesto de duas bandas e foi vendido ao Sul do País como um movimento músico-cultural existente, mas ninguém aqui nem tinha lido o tal do manifesto mangue que saiu uma vez num jornal local, cujo o músico que o escreveu era jornalista do mesmo, antes de ser divulgado no Sul/Sudeste. Quando atingiu alguma mídia no Sudeste do País, o público pernambucano, ávido por representantes na mídia, adotou-o como movimento, que só passou a existir como tal (como já foi dito) quando a mídia do eixo Sul-Sudeste tratou-o como um movimento cultural enraizado e existente.

    2- O mangue beat faliu porque a única coisa que prestava era o Chico, o resto não existe, não tem nenhum vocalista que preste, ninguém toca nada (salvo alguns raros músicos como Pupillo, e de supetão assim nem consigo lembrar de outro) e “não vende disco!”

    3- A mídia daqui foi tão idiota que resumiu toda cultura musical do Recife ao mangue, ou seja, queimou o filme de Recife, quando no 1º show do Iron Maiden tinha mais 20 mil pessoas e existem bandas de metal e rock locais com mais de 25 anos de estrada, sem contar com nenhum apoio das políticas públicas, só porque não é mangue. Existe um movimento de blues também fodástico, com excelentes músicos, reggae, musica instrumental, jazz e choro de 1º qualidade.

    Para vocês terem uma idéia, nem a Orquestra Sinfônica de Recife é respeitada, é o salário mais baixo do País, onde os músicos não têm dinheiro nem para manter seus próprios instrumentos. Até Abril Pro Rock foi praticamente obrigado a fazer um dia de metal (que, diga-se de passagem, é o dia que tem maior publico do festival). Se alguém achar que estou errado, por favor me aponte apenas um cantor que cante bem ou pelo menos tenha uma boa voz ou uma banda (menos o Nação Zumbi) que seja realmente boa com músicos bons no seu cast ou que tenha vendido mais de 10 mil cópias de algum disco desse pseudo cenário indie-mangue. Mentiras tem pernas curtas, um dia o pano ia cair…

    Não sou músico, mas tenho pena dos que querem fazer música de verdade no meu Estado. Já vi bandas que só existem no papel ou fizeram no máximo duas apresentações arrastarem 80 mil reais da Fundarpe para uma tour na Europa que nunca existiu. Na prestação de contas emitiram notas frias e todo mundo sabendo, enquanto os que trabalham e batalham de verdade vivem ferrados, tendo que ter outros empregos, sem tempo de se dedicarem a música como deveriam, para ter o que comer e gastar todo o resto do salário investindo no próprio talento. O público até dá o retorno, mas a grande mídia ainda insiste na barca furada do mangue.

    Deixem de ver o cenário musical de Recife como alguns produtores tentam vender. Recife é muito mais que isso. Os músicos de Recife desempenham trabalhos fantásticos. Só para citar alguns: Beto Kaiser (música instrumental), Rodrigo Morcego, Big John Siqueira (blues), Ebel Perreil, Fred Andrade, Alexandre Bicudo, Contrabanda (jazz fusion), Banda Arabiano (choro) Ívano, N’Zambi (reggae)… Tem bandas de heavy metal como Infest Blood, que ano passado fez 40 shows na Europa e oito nos Estados Unidos (sem nenhum apoio da mídia ou do governo), o Cangaço, que ganhou o WOA Brasil e foi representar o Brasil no maior festival de metal do mundo, o Cruor, com um trabalho fuderoso, com 25 anos de estrada e músicos competentíssimos… Aí agora neguinho que viveu de mentiras quer abrir a boca pra reclamar porque a mamata ta acabando? Por que não tenta viver do próprio talento, como fazem aqueles que não tem apoio, advinha? Não conseguem porque não têm talento algum. Viver de musica é difícil, de mentira e mídia é fácil! A casa caiu mangueboys. Aliás, já tá caindo faz tempo com a verdade vindo a tona. Garanto que se uma bandinha dessas aí vendesse pelo menos 50 mil cópias de um trabalho, encontraria cachêt e lugar para tocar em todo o Brasil e exterior!

    Infelizmente esse falso cenário indie-mangue agoniza desde que o único que fazia a diferença morreu. Salvo o Chico e Naçao Zumbi, o resto vai continuar na mesma, sem vender nada, tentando iludir a midia de São Paulo-Rio.

  22. Grazi Calazans em dezembro 26, 2011 às 21:25
    #22

    Respondendo aos que citaram meu comentário:

    Manoel, sim, toda história tem dois pontos de vista, e o problema que acompanho com o FDE é que eles não aceitam pontos de vista diferente dos deles. Exatamente como o Bragatto citou na matéria sobre estar “do lado” deles ou não.

    Marcio, o projeto Familia a Bordo não deu nenhum galho, nossa proposta era viajar por cidades da América Latina com shows, literatura, cinema e oficinas, e foi exatamente o que fizemos. O galho foi que o FDE não concordava com o nosso modo de atuar e nos ameaçou de diversas formas que seríamos banidos da rede se não parássemos com o projeto. A questão da perda de emprego, foi antes do projeto, quando eles ainda planejavam fundar a Casa Fora do Eixo Porto Alegre, da qual iríamos fazer parte e eu deixei meu emprego pra poder participar do projeto, o que acabou não acontecendo.

    Sobre os indicadores e prestação de contas, é fácil atingir tantos números quando eles usam tudo que é feito por aí, mesmo sem ter nenhum apoio deles. Explico: os coletivos mandam pros “gestores” todos os eventos do qual estiveram envolvidos no ano, produzindo ou em parceria. Uma vez fui cobrada disso pelo SOMA, tive que enviar uma lista com todos os eventos que tínhamos participado em Porto Alegre no ano. Pra que eles querem? Pra contabilizar na sua prestação de contas e mostrar o “poder” da rede. Mas na hora de dividir o bolo, as fatias ficam só pros “donos” da parada…

    Se é tão clara a política dentro do Circuito, não entendo porque se ofendem tanto quando dizemos que estão fazendo politicagem…

  23. china em janeiro 15, 2012 às 3:15
    #23

    Só vi esse texto agora… mas achei muito esclarecedor.
    Ninguém quer acabar com os coletivos nem com as associações de festivais independentes. O que queremos é ver as coisas as claras, somente. Se tem dinheiro público, tem que ser repassado para a matéria prima dos festivais, que são os artistas. Isso é lógico.
    O problema é que fica esse papo de “debate” mas ninguém dá a cara a tapa pra esclarecer as coisas.
    Isso sem falar no patrulhamento ideológico esquizofrênico. Então não se pode ter opinião nesse país? O certo é seguir o que os coletivos falam e ficar de bico calado para não sofrer represálias?
    Só digo uma coisa… é tanto papo confuso que o coletivo vai morrendo pela própria boca.
    E vale lembrar que o vídeo do Congresso Fora do Eixo falando da cena pernambucana e afins foi retirado do ar pelos mesmos depois que começou a circular na internet. Mas alguém foi sabido e gravou tudo…
    E o Fora do eixo não pediu desculpas a Pernambuco… não mesmo… eles disseram que foram mal interpretados.
    Os pernambucanos não têm rancor para os Fora do Eixo, tem questionamentos… e isso incomoda.

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