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Lições do passado

Documentário “Back And Forth” mostra como Dave Grohl aprende com a história do Nirvana para seguir à frente do Foo Fighters; filme é exibido nos cinemas brasileiros nos dias 24 e 25 deste mês. Fotos: Divulgação/internet.

Foto do cartaz oficial de divulgação do documentário, dirigido por James Mol, nos Estados Unidos

Foto do cartaz oficial de divulgação do documentário, dirigido por James Mol, nos Estados Unidos

Só agora, mais de 17 anos após a morte de Kurt Cobain é que Dave Grohl, então baterista do Nirvana, fala abertamente sobre o assunto. É assim que começa o documentário “Back And Forth”, do Foo Fighters, dirigido por James Mol (Oscar de Melhor Documentário por “The Last Days”), que será exibido no Brasil nos dias 24 e 25 deste mês (clique aqui para saber mais). Grohl admite que aprendeu a fazer músicas simples como Cobain e que foi assim que iniciou o Foo Fighters, depois de curar a ressaca da perda brusca do amigo, um dos últimos grandes ícones do rock, e gravar tudo o que tinha guardado numa fita cassete. A revelação mais contundente, porém, vem na parte final, quando o produtor Butch Vig aponta na música “I Should Have Known” uma referência à Cobain.

A música, uma balada das mais dramáticas, está no novo álbum do grupo, “Wasting Light”, cujo processo de gravação ganha generoso espaço no longa. Dave Grohl deixa claro que a composição é sobre um relacionamento, mas que não consegue dissociá-la de outras coisas que aconteceram em sua vida. Basta sacar os versos “Eu deveria saber / Não pude ver os sinais” para entender que ele se refere – também – a Cobain, que, afundado em drogas e sem saber lidar com o sucesso voraz e destrutivo do Nirvana, meteu uma bala na cabeça. Butch Vig não fez a citação à toa. Foi ele que produziu “Nevermind”, o grande clássico do Nirvana, e só voltou a se reunir com o que sobrou da banda agora; o baixista Krist Novoselic aparece gravando o baixo nessa faixa.

Mas o filme é sobre o Foo Fighters, e, embora o grupo tenha sido criado por Dave Grohl tendo como prioridade a diversão, coleciona lá seus dramas. As trocas de guitarristas; o dia em que Grohl decidiu refazer todas as baterias do segundo disco, “The Colour And The Shape”, jogando para escanteio Williams Goldsmith; a overdose que deixou o atual batera, Taylor Hawkins, em coma, quase repetindo a tragédia de Kurt Cobain; e a saída “alarme falso” do baixista Nate Mendel, que durou menos de 24 horas, são só algumas delas.

O que fica claro é que o Foo Fighters é, de fato, a banda de Dave Grohl, e quem não se enquadrou no processo dele de fazer as coisas em uma banda, saiu ou foi “saído”. Não por acaso o grupo quase acabou quando Grohl encheu o saco e foi tocar bateria no disco “Songs For The Deaf”, do Queens Of The Stone Age e na subsequente turnê, deixado Hawkins cheio de ciúmes. A solução foi uma intensa lavação de roupa suja entre eles, seguida da apresentação das duas bandas, com Dave Grohl tocando em ambas, na edição de 2002 do Coachella Festival, uma num dia, outra no outro. Apenas um dos momentos críticos em uma banda de rock.

Dave Grohl, Nate Mendel e Pat Smear gravam o novo álbum no estúdio montado em uma garagem

Dave Grohl, Nate Mendel e Pat Smear gravam o novo álbum no estúdio montado em uma garagem

O diretor James Mol centra o documentário na própria banda, sobretudo em Dave Grohl. Por isso é de se estranhar que alguns dos trabalhos paralelos dele não tenham sido tratados, nem mesmo o Probot, com o qual Grohl gravou um disco de metal com todos os ídolos de sua adolescência - procurem que vale à pena. Não há, como é comum nesse tipo de filme, opinião de outros músicos e da crônica especializada. Se prejudica no entendimento da importância da obra do FF no mundo da música pop, dá um toque mais intimista. Por vezes, a edição acaba criando interessantes diálogos que não existiram, mas foram sugeridos quando determinados temas foram abordados separadamente com cada integrante, num resultado dos mais interessantes.

Além do sobe-e-desce de uma banda de rock, seus egos e vicissitudes, o filme trata com especial atenção a gravação de “Wasting Light”. O disco foi feito depois de um período de férias do quinteto (com a volta do guitarrista Pat Smear) num estúdio montado na garagem da casa de Dave Grohl, com o célebre produtor do Nirvana, que resolveu gravar tudo em processo manual em fita de rolo. Além de Krist Novoselic, Bob Mould, líder do Hüsker Dü, canta numa das faixas. Todos os detalhes da gravação são acompanhados, inclusive a participação das famílias. É tocante ver a filha de Dave Grohl, por exemplo, “atrapalhando” a gravação de um trecho de guitarra ao lhe cobrar uma farra na piscina. Nada comparável à emoção da gravação dos vocais de “I Should Have Known”.

O filme também mostra, de modo sutil, que no Foo Fighters a lição de simplicidade e o exemplo de rejeição ao sucesso de Kurt Cobain andam lado a lado. Por isso Dave Grohl acredita que, depois de tocar para um Estádio Wembley, em Londres, lotado com 85 mil pessoas, o desafio passa a ser fazer um show para 300 cabeças numa espelunca de subúrbio americano. E o mesmo rockstar que recebe as luzes da fama ao receber vários Grammy, aparece na cena final do documentário passando o aspirador e pó na sala de casa. Depois do término do filme, é exibido o vídeo “Wasting Light Live from 606”, com o grupo tocando todas as músicas do disco ao vivo/em estúdio, que todo mundo já viu na web (clique aqui e veja também). Só que, em 3D, é preciso recolher os braços pra não esbarrar num dos pratos da bateria ou ser atingido pelo bater de cabeça de Dave Grohl.

Ápice da carreira: Dave Grohl toca com o Foo Fightes no Estádio de Wembley, lotadinho da Silva

Ápice da carreira: Dave Grohl toca com o Foo Fightes no Estádio de Wembley, lotadinho da Silva

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