Rock é Rock Mesmo

O ano do Foo Fighters

Saiba como e por que Dave Grohl levou sua banda ao destaque máximo no rock neste ano de 2011 que se encerra

Meus amigos, o tempo passa, o tempo voa e a Vera Fischer continua muito boa. E pensar que quando ela debutou no cinema, em 1969 , este que vos escreve ainda arrastava correntes lá em Pres. Juscelino. O título dessa coluna, por exemplo. Poderia ter sido escrito há, no mínimo, uns seis meses. Estava na cara que este seria o ano do Foo Fighters. E acabou sendo mesmo. Era impossível alguém superar a incrível jornada de Dave Grohl e seus acólitos. Não sou eu quem está dizendo, meus amigos, são os fatos. E contra os fatos, sabemos todos, não há argumentos.

Mas eu digo também. E explico. Depois de um recesso de uns dois anos, Dave Grohl simplesmente não sabia o que fazer com a banda. Ao mesmo tempo, estava envolvido com a feitura do documentário “Back And Forth” (leia mais aqui) e começou a esbarrar, inevitavelmente, num assunto dos mais delicados: o Nirvana e a perda de Kurt Cobain. Me lembro em 2001, durante o Rock In Rio, quando fui fotografar (sim, já fui um fotógrafo razoável) a banda durante uma entrevista e ouvi claramente todos – assessora brasileira, manager estrangeiro – que o “assunto Nirvana” era proibido. Isso sete anos depois da morte de Cobain e com a carreira do Foo Fighters já bem encaminhada. Era um tabu na história de Grohl que precisava ser quebrado e isso aconteceu no processo de captação de entrevistas e de ajuntamento de material para o filme.

Ao voltar para gravar o novo álbum, Grohl estava mais próximo do Nirvana e de si próprio que nunca, e teve a sacada genial de gravar o disco novo na própria garagem, de modo totalmente analógico e – o mais importante – com o produtor Butch Vig, o mesmo de “Nervermind”, no comando. É claro que a garagem de Grohl não é um cubículo qualquer e ele teve carta branca da gravadora e de seus empresários (que é quem bota grana na parada) para fazer da garagem um ótimo estúdio analógico, como todos nós pudemos ver no documentário ou na generosa quantidade de vídeos postados na web durante este 2011 que se vai.

Outra marca indelével do Foo Fighters neste “Wasting Light” é o rock propriamente dito. Ou, por outra, o classic rock. Não é de hoje que Grohl é o cara no mundo do rock, sempre metido em projetos que o aproxima do próprio rock. Grohl já fez um álbum inteiro só com músicas de heavy metal, para gravar com seus ídolos; participa de grupos contemporâneos seminais como o Queens Of The Stone Age e Them Crooked Vultures; e vive subindo no palco para tocar com ícones do rock, sejam eles maiores que Grohl, como o Led Zeppelin, ou menores, como Joan Jett. Digo maior/menor quanto ao papel que cada um acabou tendo no mundo da música, não pela importância localizada em si. Ou seja, Dave Grohl, e por conseguinte, o Foo Figthers, são sinônimos do rock. Rock de verdade, goste ou não do termo.

Ou seja, em “Wasting Light”, mais do que em qualquer outra fase, o Foo Fighters é a mistura de Nirvana com classic rock, que é o rock sem derivativos e/ou subtendências, ora bolas. Só o rock mesmo. Repare como muitas músicas do disco têm a sutil mistura de esporro e silêncio (Nirvana, pois não?) e outras são puro rock de raiz. Porque Dave Grohl e o Foo Fighters nunca negaram suas raízes; ao contrário, sempre as valorizam. E perceba como todas as faixas do CD, mesmo as mais pesadas, têm um forte sotaque pop, no sentido de ser cativante, colar no ouvido da gente e dialogar com o ouvinte como poucas canções – na acepção do termo – conseguem. Quer herança melhor deixada por Kurt Cobain do que essa? Quem se comunicou tão bem com a juventude quanto Kurt Cobain? Poucos, muito poucos, meus amigos.

Cabe a explicação de que o termo “classic rock” não é mais aquele usado para quando se ligava uma rádio e estava tocando “Sultans Of Swing” repetidas vezes. Infelizmente, boa parte da crônica musical deste Brasil varonil ainda não percebe que o termo “classic rock”, hoje – já há algum tempo – é uma tendência que, obviamente, como o rock sempre se posicionou ao longo de décadas, é ponta de lança no mercado. Não vive do cultivo ao passado, mas possui tantos lançamentos que há premiações no exterior para categorias como “melhor lançamento”, “banda revelação” e “banda nova”. Há festivais segmentados no gênero e publicações impressas inteirinhas sobre o assunto. O classic rock, meus amigos, é o rock, com a perene vocação para a vanguarda. Não tenham medo, meus amigos críticos de música.

Mas é bom assegurar que o Foo Fighters não é hype de jornalistas alvissareiros. Não foi inventado para bombar festinha nenhuma, tampouco é a última novidade mais nova dos últimos tempos. Foo Fighters é rock e tem carreira construída ao longo dos anos (uns 16) como toda banda deveria ser. Pode parecer que sou fã do FF, mas não sou. Não achei o show de 2001 nada demais, só ouvia uma música ou outra, achava alguns clipes engraçados, outros nem tanto. Isso até chegar este espetacular ano de 2011, do qual só ficaram imunes ao Foo Fighters os mal humorados de plantão que viraram a cabeça para o outro lado.

Disse tudo isso para explicar o porquê de o Foo Fighters ser o artista do ano, e o disco “Wasting Light”, o disco do ano. Era para eu colocar nesta última coluna de 2011 a minha relação dos melhores do ano em várias categorias, já quase prontinha aqui, mas vai ficar para a semana que vem. Me disseram que textos na internet não podem ser assim, muito compridos, cheio de conteúdo. E a gente precisa aprender.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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Comentários enviados

Existem 10 comentários nesse texto.
  1. Dan em dezembro 29, 2011 às 18:03
    #1

    “O ano do Foo Fighters”. Eu repeti isso o ano todo. Depois desse título, nem precisava dizer mais nada. Isso é fato, é real e é muito merecido. Long live FF!

  2. Letícia Manhães em dezembro 29, 2011 às 18:15
    #2

    Excelente! Realmente é o melhor disco do ano! Vida longa a Dave Grohl!

  3. Paulo Henrique em dezembro 29, 2011 às 19:55
    #3

    Sem dúvidas o “Wasting Light” foi o melhor disco de rock do ano. E é bem isso que você disse mesmo, o disco é rock, é pesado, mas dialoga bem com todos os públicos. Acredito que quem é fã do estilo não deixou de ouvir e curtir pelo menos uma das músicas desse disco. Não podemos esquecer também que “I Should Have Known” é QUASE um revival do Nirvana, com a participação do Krist. Enfim, esse ano foi ano de Foo Fighters e 2012 é ano de show do Foo Fighters. o/

  4. Alexandre em dezembro 29, 2011 às 20:32
    #4

    Comprei o Wasting Light direto dos EUA. Sensacional!
    Uma obra-prima do rock.
    Parabéns e vida longa ao Foo!
    Parabéns pelo artigo!

  5. priscila pereira em dezembro 30, 2011 às 10:13
    #5

    Eu sempre achei o Foo Fighters a melhor banda de rock, e esse álbum está ótimo mesmo. Estou torcendo para que em 2012 seja o ano do Foo Fighters também. Tudo de bom para o Foo Fighters e o Dave Grohl!

  6. Luciano Dourado em dezembro 30, 2011 às 15:06
    #6

    Que texto! E concordo com tudo, Foo Fighters foi a banda do ano.

  7. Selma Boiron em dezembro 31, 2011 às 1:28
    #7

    Curti!

  8. Tiago Matias Escobar em dezembro 31, 2011 às 10:10
    #8

    Depois dessa, vou baixar!

  9. Bruno em dezembro 31, 2011 às 12:10
    #9

    Grande Bragatto, sensacional o post. Realmente foi o ano do Foo Fighters. E eu soube disso quando soube do processo de gravação do CD e logo depois com o clipe de White Limo. Esse post estaria pronto, meu amigo, desde maio. rs. A banda que inegavelmente trouxe o rock de volta. Sem derivações ou subgêneros. Só o honesto Rock ‘n’ Roll como você disse. Grande post, chapa, grande post.

  10. lurebordosa em janeiro 8, 2012 às 14:44
    #10

    Massa! Texto bom pra caral#@
    Viva o rock!

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