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“Rock de Brasília – A Era De Ouro” peca por não contextualizar a cidade no cenário nacional. Fotos: Divulgação.

rockdebrasiliacartazA expressão de estarrecimento de Caetano Veloso e de Chico Buarque ao verem os trejeitos de Renato Russo, liderando a Legião Urbana no palco, em 1985, escancarou o óbvio: o emergente rock nacional já havia desbancado a decadente mpb da época. A boa sacada é um dos destaques do longo “Rock de Brasília – A Era De Ouro”, do diretor Vladimir Carvalho, em cartaz nos cinemas. Registre-se que os dois baluartes da música brasileira apresentavam um programa musical na Rede Globo, sempre comendo poeira quando o assunto é música – rock, então, nem se fala. No filme, quem explica o processo é o jornalista Carlos Marcelo, que, vivendo o rock da Capital Federal, se especializou no assunto.

É ele, em outro trecho do longa, que destrincha, didaticamente e com conhecimento de causa, o que ainda da não havia sido esclarecido até então. Como e por que o famoso show de 1988 da Legião, no Estádio Mané Garrincha, em Brasília, terminou numa confusão dos diabos, com direito a fã no palco dando uma gravata em Renato, e ao término precoce da apresentação, o que detonou um quebra-quebra geral. As intervenções do pesquisador, claras, são o ponto alto do filme. O artifício, indispensável para a contextualização de qualquer trabalho de cunho biográfico, se ausenta em cinebiografias recentes como as do Foo Fighters (veja aqui) e Pearl Jam (aqui), dando um tom chapa branca que “Rock de Brasília” não tem.

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Ainda assim, falta contexto no filme. Na intenção de esmiuçar a cena local, Vladimir renuncia ao movimento global do rock nacional que acontecia em todo o País. Não se explica, por exemplo, o porquê de o rock de Brasília ser diferente do rock das outras regiões. Quando os músicos falam da ida a outras cidades, não há quem explique a contundente influência das bandas deles no cenário nacional, tampouco cenas dessas cidades – quase não há imagens feitas fora de Brasília. A omissão do papel histórico da Fluminense FM, rádio que tocou as bandas de Brasília pela primeira vez e fez a ponte para as gravadoras, é falha irreparável. Isso deixa o documentário enclausurado numa espécie de cápsula do tempo à parte do Brasil dos anos 80. A exceção fica na boa iniciativa do diretor de “reconstituir” o famoso show do Plebe Rude em Patos de Minas, quando todo mundo foi em cana, provavelmente por “subversão”. Mas a empreitada fracassa por falta de fontes, uma vez que só Philippe Seabra, o líder da Plebe, narra os acontecimentos.

A história é centrada nas bandas principais – Legião, Capital Inicial e Plebe Rude -, mas bem que o diretor poderia ter reservado alguns ralos minutos para o segundo escalão, de gente que não foi em frente, mas fazia parte da cena, como Escola de Escândalos (citada timidamente por André X), Detrito Federal e Finis Africae, entre outros. É omitido também o legado (ou a ausência dele) no rock local e na música popular brasileira, e, se o diretor se esforçou para recuperar incríveis cenas de época, omitiu o que um filme sobre música tem de fundamental: a própria música. Poucas são as cenas em que as bandas aparecem tocando ao vivo. Com um material rico nas mãos, Vladimir Carvalho não tomou as decisões corretas. Assim, vale mais a história do que o jeito que ela é contada.

Clique aqui para assistir ao trailer oficial.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Adelvan em outubro 27, 2011 às 11:44
    #1

    Muito falho o filme, a julgar por sua resenha.

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