No Mundo do Rock

A volta dos que não foram

Lançando o álbum “Se Deus é 10 Satanás é 666”, a impagável Gangrena Gasosa vai além do sarava metal e mira na caretice do politicamente correto. Fotos: Divulgação.

Omulu e Zé Pelintra (vocais), Exu Caveira (guitarra) e Exu Mirim (bateria): a Gangrena Gasosa em ação

Omulu e Zé Pelintra (vocais), Exu Caveira (guitarra) e Exu Mirim (bateria): a Gangrena Gasosa em ação

Se existe uma banda que pode ser considerada uma entidade, essa banda é a Gangrena Gasosa. Criadora e praticamente única representante do saravá metal, a banda renasce das cinzas de tempos em tempos, mantendo a identidade de personagens importados de centros de macumba dos subúrbios cariocas. Com uma nova formação, a banda sacou da cartola o novo álbum, “Se Deus é 10 Satanás é 666”, e continua investindo em pérolas certeiras e atirando para todos os lados, para desespero da turma do politicamente correto.

Não é muito fácil compreender o entra e sai de integrantes do grupo, mas o que vale é que as tais entidades estão sempre no palco. Atualmente são elas Zé Pelintra (Ângelo Arede, vocal), Omulu (Cristiano, vocal), Exu Caveira (Vladimir, guitarra), Exu Capa Preta (Minoru, guitarra), Tranca Rua (Felipe, baixo), Exu Mirim (Renzo, bateria) e Pomba Gyra (Gê, percussão). A numerosa formação mal se compara aos tempos em que a chuva de pipocas e os despachos resgatados das esquinas do subúrbio eram a cereja do bolo nos shows o Garage Art Cult, no auge do thrash metal à Sepultura, no início dos anos 90, onde tudo começou.

Entrevistar a Gangrena não é fácil. Trava o gravador, a fita arrebenta, o e-mail emperra, cai a energia, a foto não chega… só mais um punhado de maldições que já viraram lenda no histórico da banda. Mas o Rock em Geral insistiu e o embecado Zé Pelintra falou das gravações do novo disco, do intenso entra-e-sai dos integrantes e dessa nova fase, tanto na renovada temática quanto no som, notadamente mais percussivo, para desesperos dos fãs mais conservadores - se é que eles existem. Prepare-se para rir com o bate papo que rolou, uma parte por telefone, outra por e-mail:

Rock em Geral: Como e quando essa formação foi montada? Você considera um retorno ou a banda nem chegou a parar?

Zé Pelintra: É a volta dos que não foram. Depois da turnê na Europa, em 2001, fizemos alguns shows no Rio até 2002. A partir daí as reuniões da banda viraram churrasco, cerveja e bolinha, e “o Tião não queria nada com a hora do Brasil”. Até que, em 2004, eu e o Vladimir fomos apresentados ao Anjo Caldas (percussionista do Catapulta e da Elba Ramalho), que nos convenceu a retomar as atividades, e de que a música e a proposta tinham força. Ele acabou ensaiando conosco, trazendo ideias, confiança, conceitos rítmicos e uma vontade que nem nós tínhamos mais. Começamos a trabalhar todas as músicas com pegada mais percussiva, inclusive as mais antigas. O resultado foi o EP “666”, lançado no dia 06/06/2006, que marcou a volta definitiva da Gangrena. A partir daí começou a via-crúcis. Muita gente passou pela banda até essa formação atual, principalmente na bateria. Em 2007, a quadrilha já estava pronta, pelo menos por enquanto.

REG: Quem está da formação original? Por que a banda sempre troca de integrantes?

Zé Pelintra: Da formação original tem o Felipe (Tranca Rua) e o Vladimir (Exu Caveira), que está desde o “Welcome to Terreiro” (disco de estreia, de 1993) na guitarra. A ida e volta dos integrantes sempre foi esperada, pois a Gangrena é um celeiro de bizarrices. Já passou todo tipo de maluco e ficha-suja na banda, e sempre chega uma hora que não tem como segurar doido! Das baixas mais recentes, pelo menos três cabeças abandonaram a banda de um dia para o outro porque foram tocadas no coração pela infinita bondade do Nosso Senhor Jesus Cristo. A Gangrena já teve um baterista perneta, gente finíssima, nem lembro porque ele saiu. Mas no estúdio tinha uma parede estratégica do seu lado direito, muito útil para apoiar a mão ao fim de cada virada. A Gangrena está mais para um grupo de transe coletivo de esporro dos subúrbios que uma banda, no sentido comercial. Quase todo mundo que passou pela banda continua presente até hoje, seja contribuindo com ideias, letras, arte gráfica, etc. Tem gente que sai, mas volta tempos depois em outro posto, como o Sapato Podre, nosso roadie de fé que tocou baixo na turnê de 2001. Agora ele tá na banda de black metal Profane Art e ainda continua dando sua contribuição de fedor. O próprio Felipe voltou agora, incorporando o Tranca Rua depois que o Moreno, que gravou o disco, saiu. Tem ainda quem nunca tocou, mas faz parte do conceito da banda por outros motivos. O Allan Sieber, que fez os quadrinhos do “Smells…” (“Smells Like a Tenda Spirita”, de 1999), e o Léo Dias, que também trabalhou no conceito do Sepulnation e fez um quadrinho foda para nós, que acabou não entrando no CD por questões técnicas (mas será utilizado na hora certa com o destaque que merece) também são do “grupo” Gangrena Gasosa. Eu gostaria que a Gangrena continuasse por gerações, tipo um Made in Brazil do capeta, que meu filho viesse a tocar nela. Seria foda! E tem mais, essa rotatividade acaba alimentando o folclore assombrado que envolve a Gangrena Gasosa. Sempre rolam boatos que os integrantes deixam a banda porque algo maligno acontece a eles, como castigo por “mexer com coisas perigosas”. Algumas coisas são mentira. Lembro que logo após a saída do Chorão³ (vocalista da formação original), um amigo me mandou o link de um fórum onde fãs comentavam que o ele havia saído da banda porque estava com AIDS, muito doente, nas últimas! Não é só quem toca na Gangrena que é espírito de porco, ainda bem que galera que curte nosso som também tá nesse bolo.

REG: O disco mais recente é “Smells…”, de 1999, mas a Gangrena teve o auge mesmo no início dos anos 90. Vocês acham que tem espaço para uma banda igual à Gangrena Gasosa nos dias de hoje?

Zé Pelintra: Enquanto tiver “metaleiro capeta maluco dos inferno” que nem nós, vai ter espaço para a música e para o conceito da Gangrena Gasosa. Ainda mais nos dias de hoje, acho que em época onde tá tudo muito bonitinho na porra toda, tem que ter uma banda como a Gangrena, tem que ter alguém que lembre o pior.

REG: Fale sobre as gravações de “Se Deus é 10 Satanás é 666”:

Zé Pelintra: Esse disco é o nosso xodó. Pela primeira vez saiu exatamente como a gente queria. Demorou, mas fizemos questão de só fazer se fosse assim. A gravação foi no EME Studios, aqui no Rio, com o Tuta e Diogo Macedo. Esses caras são de Barra Mansa e chegamos a eles por intermédio do Xan Brás, do Miami Brothers. Eles tinham gravado muitas bandas pesadas com ótimos resultados e coisas bem diferentes da nossa onda, como bandas reconhecidas de pagode e samba em geral, que acabou contribuindo para o resultado da gravação. Mais da metade do tempo gasto no disco foi cuidando da percussão, e a experiência deles foi fundamental para tudo ser captado da forma que queríamos. Fica mais fácil quando você tem a participação especialíssima do Anjo Caldas e do Elijan Rodrigues (Mutley) que compôs comigo todo conceito percussivo da bagaça. A mixagem e masterização ficaram a cargo do Rodrigão Duarte, mesmo que não tivéssemos uma obrigação pessoal com ele. Além de ter nos apresentado ao Anjo e estar numa fase profissional “na ponta dos cascos”, esse cara foi importantíssimo, tanto na realização quanto como técnico de som da nossa turnê na Europa. Agora ele trabalha com o Barão Vermelho e o Frejat nos ajudou muito. O disco foi mixado e masterizado no estúdio dele, o “DuBrou”. Tudo saiu muito nervoso e coeso. Ficou rançoso, o bagulho.

REG: Tem muitas músicas antigas, como “Cambonos From Hell”, “Fist Fuck Agrédi”, e uma parte com outras novas também. Fale sobre esses dois lados do CD:

Zé Pelintra: Esse CD fecha a transição da época em que a banda ficou perdendo tempo para a fase de total atividade. Tinha muita coisa mal gravada, sem registro oficial, que tinha que ser resolvida, como “Cambonos From Hell” e a versão de “Fist Fuck Agrédi”, que fizemos na Alemanha. “Artimanhas do Catiço”, uma das minhas preferidas, e “Black Velho”, que se chamava “Bath of Descarrego”, só tinham a gravação da demo, que saiu depois do “Welcome to Terreiro”. Esses registros, que eram só bateria/baixo/guitarra/vozes, cresceram muito com a produção legal do disco novo e são um exemplo de como a percussão muda todo o conceito da música. São as mesmas da demo, mas acabam ficando mais sombrias, mais brasileiras. Muita coisa ainda ficou de fora. “Engodo We Trust”, “Trabalho Pra 20 Comer” e “Você Analisa Muito” (no sentido “anal” da palavra) acabaram ficando pelo caminho. Quem sabe não entram também no próximo, que já começamos a compor?

REG: A música “Quem Gosta de Iron Meiden Também Gosta de KLB” cutuca o heavy metal. Como ela surgiu?

Zé Pelintra: Exatamente de tentar resgatar o sentimento que o metal tem que ter sempre, sem fraquejar. O da grosseria, da contracultura, do pesado, do rock do diabo. Quer escutar ou fazer jazz freestyle, tudo bem. Mas não vem encher o saco e dizer que é “true”! É um absurdo, mas é o sinal dos tempos. O rock “fru-fru-faço-pose” com solo de cinco minutos não pode ocupar a mesma categoria de Brujeria, Nasum e Anal Cunt. Alguém tem que falar isso! Quando falamos do LP “Killers”, no verso “Eu ouvia o dia inteiro, ia até de madrugada, hoje em dia os metaleiros são uma puta pleiboyzada”, queremos alertar para como pode ser o sentimento de ouvir uma parada do mal, sem frescura. Resgatar o tempo em que o metaleiro tinha a maior dificuldade para ter acesso às coisas, e talvez por isso mesmo fazia coisas inimagináveis como reunião em sua casa ou de outro para ouvir um disco novo de metal. Era um evento. Hoje a música está ao alcance de um clique, e isso é uma armadilha. É uma avalanche. Você se pega cantarolando tecnobrega. É surreal! Mas, felizmente, tá rolando um revival das raízes do bagulho. Bandas como o Municipal Waste, por exemplo, vêm com uma sonoridade parecida com o thrash dos anos 80/90, e é foda, cru, tosco, sem se levar muito a sério, sem frescura. E fica só na semelhança com a música dessa época, porque não é só isso, tem a cara atual sem deixar de ser pesado. Acho que é um inconsciente mundial da música pesada resgatar essa identidade que ficou diluída na burocracia do estereótipo comercial do metal. Na verdade a música não cutuca o metal, mais o falso metal, que tem que morrer.

A formação que gravou o disco e suas entidades

A formação que gravou o disco e suas entidades

REG: Algumas músicas fogem do chamado saravá metal e vão para o lado do politicamente incorreto, caso de “Minha Sinceridade é Humanitária”, que cita o produtor Rafael Ramos, “Emboiolada” e “A Supervia Deseja a Todos Uma Boa Viagem”. Fale sobre essa mudança, tendo essas duas músicas como exemplo:

Zé Pelintra: Não mudou muita coisa. O disco tem forte influência da macumba em todas as músicas, nas letras ou no instrumental. E independente do que seja abordado, o espírito continua o mesmo dos primórdios do saravá metal: humor, deboche, grosserias, blasfêmia, essa porcaria toda. A macumba também tem esse lado que foge da religião, é mais cultural e comportamental mesmo. A letra de “Minha Sinceridade é Humanitária” em princípio parece arrogante, mas é uma autocrítica. “Acha seus batuques modernos, fica vacilando e pagando mico com essa idade, ao invés de estudar pra passar na faculdade”, essas alfinetadas são para a Gangrena mesmo. O Chorão descontou sua frustração em outra banda escrevendo essa letra quando ele voltava para casa de ônibus, de madrugada, depois de um show. No começo não quis admitir que a vacilação e a “pagação de mico” era nossa. Ele sempre se dava mal, nenhuma van queria ir até Campo Grande. Aliás, é na zona oeste do Rio que temos o nosso melhor público, mas Campo Grande é longe pra caralho! No caso do Rafael Ramos, acho que poucas bandas de rock não gostariam de contar com uma produção dele hoje em dia, mas é “tiração” de sarro, falar do que nos rodeia, sacanear colega mesmo. A gente tira sarro até de nós mesmos nessa música, não vamos tirar dos outros? O humor da banda sempre beirou o politicamente incorreto. Todas as minorias e maiorias serão sacaneadas sem preconceito. “Emboiolada”, assim como “Eu Não Entendi Matrix” (inspirada nas opiniões de um pedreiro amigo sobre o filme) é o puro suco da tosqueira da Feira de São Cristóvão, onde repentistas debulhavam o assunto com a desenvoltura que espero ter um dia. As primeiras frases e o refrão da música remontam algo que era o centro de uma disputa genial de repente. “A Supervia Deseja a Todos Uma Boa Viagem” nasceu mais ou menos da mesma forma que “Minha Sinceridade é Humanitária”. O transporte público é uma eterna fonte de inspiração pra nós. Quem depende dele passa por cada coisa que até o capeta duvida. É a Supervia despertando o ódio nas pessoas. O Chorão³ sempre pegava o trem lotado para o trabalho, e sabe dos maus momentos que passou e passa no trajeto, perrengues que acabam se tornando corriqueiros para quem depende de condução. Pelo menos agora é proibido ter cultos no trem. Uma desgraça a menos. Curioso que ás vezes entram em contato com a gente para trocar idéia sobre essa música. Cada vez que dá alguma pane no trem ou metrô aparece um maluco comentando que passou por alguma das situações da música, manda foto do povão espremido no vagão, comenta o perrengue que passou. É o divã da Gangrena.

REG: Acabou a fonte do saravá metal, daí vocês partiram para usar outros temas?

Zé Pelintra: Não acabou, não. Os temas surgem naturalmente. No meio de um monte de cabra safado o que você pode esperar? Nessas reuniões e churrascos, desde 2001, sai muita coisa que poderia ser usada infinitamente como inspiração. Até da época em que as bandas que nos cercavam fizeram um rock mais desgracento, a galera dos 90, Jason, Uzomi e um monte de outras bandas, as histórias encheriam mais de dois livros. Não dá para limitar onde acaba e onde começa a fonte do saravá metal.

REG: Nas músicas mais recentes as letras têm muitas expressões típicas do Rio, vocês não temem não serem entendidos em outros lugares do Brasil?

Zé Pelintra: Acho que isso depende do que parece carioca ou não. Muita gente pensava que o Ultraje a Rigor era do Rio, no começo. Com tanta merda que acontece no Rio, pelo menos o carioca ainda é associado ao humor, aos malditos espíritos zombeteiros. O público de todos os estados em que tocamos, e a galera pelo Brasil que acompanha a banda na internet, nas comunidades de quem curte um esporro, sempre entendeu as mensagens e curtiu. A “Supervia…” pode ser o tema do “truta corintiano”, com a marmita na mochila que pega o trem cedinho para o centro de São Paulo, sei lá. Acho bairrismo a maior babaquice, mas não podemos também fazer a censura inversa, forçar uma linguagem burocrática ou sotaque neutro de apresentador de telejornal. O carioca responsa, o mano paulista, os locão do planalto central, o metaleiro cabra da peste “faca na cinta” do Norte e Nordeste, o doidos do Sul, cada um tem a sua expressão, mas é tudo Brasil. Nós, o metaleiros maloqueiros, somos uma raça disgramada, a linguagem é universal.

REG: Por que você acha que a banda não manteve ao longo dos anos uma carreira, digamos, regular?

Zé Pelintra: Porque quem trabalha com algum tipo de arte no Brasil tem dificuldades de se manter. Muitos são reconhecidos e vivem da arte, outros não. Mas não estamos nem aí para isso. Enquanto der para “defar”, blasfemar, tocar tambor e gritar desesperadamente, vamos levando. A vontade vai quebrando a dificuldade enquanto dá. E aqui em baixo o bagulho é mais doido, mesmo que dê uma parada, não parou, deu só um tempo. Ainda vamos encher muito o saco.

REG: Quais são a referências mais fortes mais fortes nessa nova fase? As mesmas de sempre ou tem coisa nova?

Zé Pelintra: De novidade temos mergulhado de cabeça nos conceitos rítmicos e percussivos, mas a maior referência é sempre o que for mais desgraçadamente pesado. Não gosto de carnaval, mas quem já esteve perto de uma bateria de escola de samba não pode falar que aquela porra não tem um peso desgraçado. Esse peso é o que norteia nossas referências. Não teria problema em citar determinada banda ou estilo, mas o que nos alimenta mesmo é música pesada e louca, seja qual for. Eu tenho me interessado mais por ritmos africanos, ultimamente.

REG: Com letras atirando para todo lado, vocês têm sido patrulhados por religiosos ou pela turma do politicamente correto?

Zé Pelintra: Não temos problemas. E se patrulhar também, patrulha o meu ovo! A liberdade de expressão é só para falar de poesia, de assuntos mascarados de beleza e inofensivos? Nego tem que patrulhar é a própria vida ou o que os políticos que os representam fazem com o último aumento astronômico. Daqui a pouco vai ter associação para proteger os papagaios e os portugueses contra o bullying das piadas. Ah, vá! Morre, diabo!

REG: Vale a penar fazer turnês na Europa regularmente?

Zé Pelintra: A nossa foi sensacional. Vinte e oito dias tocando direto e só dois de descanso. Foi importante, primeiro para levar o nome da banda para o exterior, e também pelo prazer viver exclusivamente de música por pelo menos por um mês. E nego vive a parada mesmo, bem diferente daqui. Não sei se melhor ou pior, mas muito diferente. Será que aqui a gente teria a manha de ir num show numa segunda ou terça-feira, por exemplo? Lá um show desses enche. As pessoas respiram mesmo a música pesada. Era engraçado porque nos momentos que a percussão ficava mais evidente, eles não sabiam se agitavam, se pulavam, se simulavam um ataque epilético, ou recebiam o “Exu-Crute”, vai saber. Mas todo mundo curte a onda diferente, de tambor, de música brasileira. Alguns planos foram interrompidos depois da primeira turnê, mas certamente serão retomados quando tivermos divulgado bem esse disco novo por aqui. Quero ver aquele público que nunca ouviu um rock com percussão decente na vida se “tremilicando” todo de novo.

REG: Vocês têm dificuldade para divulgar a banda por conta da associação com a macumba?

Zé Pelintra: Acontece, às vezes. Outro dia fomos a São Paulo, na Galeria do Rock, a gente falava “olha aqui, Gangrena Gasosa, lá Rio, metal extremo”. O cara nem olhou direito, falou: “não, não”, se apressou logo em dizer não, nem olhou para a nossa cara direito.

REG: Tem gente que acha que não é metal…

Zé Pelintra: Tem isso. A gente tem uma proposta tão filha da puta que quem ouve o Gangrena e quem é fã da Gangrena tem que ter essa veia de ser filho da puta também. Se o cara é muito regrado ou muito purista, não adianta, nunca vai ouvir Gangrena. Mas o cara que é muito purista não faz falta nenhuma. Queremos passar mensagem para as pessoas que pensem como nós. Eu curto metal extremo pra caramba, já tive banda de splatter, mas a postura é tão seria que acaba virando piada deles mesmos. A coisa mais inteligente que pode ser fazer quando você tem uma proposta extrema é não ser muito sério, senão você acaba virando piada de si próprio.

REG: Quais os próximos planos da Gangrena? Vocês não se interessam em tocar com bandas como o Krisiun, por exemplo?

Zé Pelintra: Apesar de ter quase 20 anos de banda, ainda somos do esquema “do it yourself”. Quando o cara fala, por exemplo, que satã é o maioral, todo mundo acha bonito, todo mundo divulga. Mas essa coisa da macumba ainda mexe com as pessoas. Temos dificuldades, estamos procurando uma pessoa profissional para trabalhar. Estamos indo bem, na medida do possível. Só é muito difícil tocar aqui no Rio, porque ainda tem aquela coisa do produtor que quer que você toque em troca de cerveja. Aí fica difícil. Imagine a logística para colocar sete pessoas e mais equipamento. Já fizemos isso, mas chega a um ponto que fica impossível.

Zé Pelintra quer mais é 'defar'

Zé Pelintra quer mais é 'defar'

REG: Vão gravar algum clipe esse disco?

Zé Pelintra: Sim, para “Deus é 10…”. Tem um monte de projetos para fazer um DVD, mas esbarramos na parte mais profissional da coisa, de ter gente correndo atrás disso. Estamos conversando com o Fernando Rick, que fez o documentário “Guidable”, do Ratos de Porão. Estamos falando sobre um projeto de vídeo, não é documentário, não é clipe, nada disso, mas uma coisa que, se vingar mesmo, vai fazer um barulho. Vamos ver o que os orixás vão jogar no nosso colo.

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