De acordo com a faixa-título, que abre o CD, ter comprado o disco da Gangrena Gasosa é o primeiro passo para o sujeito ir para o inferno. Não é preciso acreditar em mau (bom?) presságio para continuar a audição e quanto mais não levar a sério (ao mesmo tempo levando), melhor para se divertir do início ao fim. Dessa vez, além dos temas consagrados pelo saravá metal inventado pela Gangrena há quase 20 anos, há músicas que são verdadeiras tirações de sarro, indo além das citações “made in terreiro”. O politicamente incorreto permeia quase todas as faixas, em temas como homossexualismo (“Emboiolada”), “verdadeiro heavy metal” (“Quem Gosta de Iron Meiden – grafado errado mesmo - Também Gosta de KLB”), e cinema cabeça (“Eu Não Entendi Matrix”), entre outros. Além das músicas mais recentes, há outras do passado, turbinadas por um boa produção – caso de “Cambonos From Hell”, por exemplo.

Musicalmente, o disco reúne o peso do metal extremo, com forte referência thrash/hardcore, muito na linha do Ratos de Porão, fase “Brasil”, que sempre foi o grande espelho para a Gangrena, só que muito pais pesado. É notável também aquela batucada dos diabos (sem trocadilho), muito bem capturada pelo Sepultura no meio metálico, mas que já encheu o saco de quem quer ouvir metal de verdade. Não chega, no entanto, a comprometer, mesmo porque a produção é muito boa e não alivia no quesito esporro, como é de se esperar em se tratando de Gangrena Gasosa. Não é mera coincidência as citações a várias tendências/clichês do metal, considerando que esta nova formação só tem integrantes cascudos, veteranos de tantas bandas na cena do metal carioca. E vale notar que o vocalista Chorão 3 foi muito bem substituído por Cristiano, no papel de Omulu, mantendo o bom entrosamento com Zé Pelintra.

Ao usar temas do dia-a-dia, como na carona de trem suburbano que o grupo dá ao ouvinte em “A Supervia Deseja a Todos Uma Boa Viagem”, a Gangrena busca uma saída para o saravá metal. Se ficasse só nos temas ligados aos dogmas religiosos, corria o risco de se tornar piada repetida e, portanto, sem graça. Ao mesmo tempo o tema religioso/from hell continua dando bons frutos, e, sobretudo, pérolas do cancioneiro da Gangrena, como “No 3 em 1 do inferno / Hate Eternal é topo hit” (da faixa-título); “Escutei Slipknot mas não adiantou nada / Botaram DJ no meio pra mim isso é o que estraga” (de “Quem Gosta de Iron Meiden Também Gosta de KLB”); ou “Não dá pra dormir em paz então vou defar também”, da já citada “A Supervia Deseja a Todos Uma Boa Viagem”. Quem não sacou o verbo “defar”, de death metal, precisa rever os conceitos como fã de metal. No frigir dos ovos, “Se Deus é 10 Satanás é 666” mostra a Gangrena Gasosa em plena forma e sem data de validade. Que permaneça assim.

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