O Homem Baile

De bem com a vida

Em noite rara, Lobão volta ao Rio e toca vários sucessos de sua carreira, totalizando 27 músicas em mais duas horas de show. Fotos: Luciano Oliveira.

Lobão se cercou de amlificadores e detonou um repertório cheio de sucessos

Lobão se cercou de amlificadores e detonou um repertório cheio de sucessos

Depois de passar anos brigando com si próprio, Lobão parece ter feito às pazes com a história. Ao menos se julgarmos pelo show de ontem no Circo Voador, no Rio. Em vez de desdenhar de pedidos de fãs que clamavam pelos hits, o Grande Lobo surpreendeu e tocou boa parte deles, incluindo “Me Chama” (que o músico até já comprou briga por se negar a executar), “Canos Silenciosos” e “Vida Bandida”, entre outros. Em mais de duas horas de apresentação, foram 27 músicas, incluindo um bis a mais de improviso.

O baixista Duda Lima e Lobão

O baixista Duda Lima e Lobão

Com formação idêntica à do show do ano passado (André Caccia Bava na guitarra; Duda Lima no baixo; Armando Júnior an bateria), e enclausurado por amplificadores, numa configuração de palco incomum, Lobão, auto intitulado sócio fundador do Circo Voador, começou com a discreta “Mal de Amor”, do álbum “Nostalgia da Modernidade”. Ele também aproveitou músicas resgatadas no álbum “Acústico” e as converteu em versões pesadas e compatíveis com a banda atual. Caso de “El Desdichado II”, “Bambino” e “Decadence Avec Elegance”. Mas a primeira grande surpresa veio no riff de “Canos Silenciosos”. Com o bom som do Circo, resultou no primeiro grande momento da noite, fazendo o público cantar e dançar muito, sob a lona lotada, a despeito da eliminação da seleção brasileira exibida no mesmo local, mais cedo.

Lobão e o veterano Bob Lester, do Bando da Lua

Lobão e o veterano Bob Lester, do Bando da Lua

O fato foi lembrado por Lobão em “Rádio Blá”, na parte final do show, com a letra sendo substituída por críticas à Dunga e aos jogadores da seleção. Isso sem falar na abordagem de passagem em “Ronaldo Foi Pra Guerra”, que cita Pelé, Tostão e a ditadura militar na década de 70. Dessa vez o bloco de músicas mais antigas teve “Noite e Dia” e até “Me Chama”, além de “Robô Roboa”, que já vem sendo tocada há algum tempo, e na qual Lobão esqueceu de cantar a segunda parte da letra, repetindo a primeira. Quase ninguém percebeu, claro. Em “Vida Louca Vida”, Lobão ressaltou o fato de a crítica dizer que ele toca a música de Cazuza para agradar ao público. A canção é dele, mas marcou pelos versos “Vida breve / Já que eu não posso te levar / Quero que você me leve”, na voz de um Cazuza em estado terminal, vitimado pela AIDS. Por isso a interpretação debochada, imitando o parceiro de tantas noitadas, não foi das mais elegantes.

A participação especial do show ficou por conta de Bob Lester, ex-integrante do Bando da Lua de Carmem Miranda, que mostra vitalidade aos inacreditáveis 97 anos. O figuraça, que Lobão disse ter encontrado ontem mesmo, no Arpoador, cantou e dançou em improvisos de Elvis Presley e Michael Jackson. A performance aconteceu depois da música “Song For Sampa”, única “nova” do repertório, dedicada à cidade de São Paulo, onde Lobão reside já há algum tempo. Esperto, ele evitou a retórica anti Lapa que resultou em vaias na apresentação do ano passado.

Gabril Muzak, do Rockz, solta a voz

Gabril Muzak, do Rockz, solta a voz

Lobão recheou a noite de grandes sucessos, mas faz isso com inteligência. Raramente ele repete versões idênticas às gravações originais. Às vezes com deboche, noutras de improviso, mexe em quase todas as músicas, mas não tanto aponto de torná-los, de ouro lado, irreconhecíveis. É o caso de “Vida Bandida”, na qual enfatiza o verso “ainda não inventaram dinheiro que eu não possa ganhar”, atualíssimo e que é praticamente um mantra pessoal. Em “Noite e Dia”, o público contribui com o clima “fofo” pedido por ele, já que a música assim “pede”. A platéia também se esbaldou com “Corações Psicodélicos”, “Essa Noite Não” e a já citada “Me Chama”. Nas duas vezes em que voltou ao palco, duas pérolas, só com ele e a guitarra. Na primeira, levou “Help”, dos Beatles, e, na segunda, a ótima e pouco explorada “Mal Nenhum”, parceria com Cazuza. O desfecho se deu com o antológico “Samba da Caixa-preta”, numa noite de almanaque em que Lobão parou de brigar com ele próprio. Só não se sabe até quando.

Antes, o Rockz se encarregou de fazer abertura, para um público ainda bem reduzido. Dessa vez o som não estava lá essas coisas, mas deu para o quarteto passar o recado. O entrosamento entre eles é sempre algo a se destacar, sem falar em hits em potencial que já se acumulam: “Paramedicos”, “Tô Planejando” e “Hare Hare”, entre outros.

Set list completo:

Lobão voltou ao palco duas vezes

Lobão voltou ao palco duas vezes

1- Mal de Amor
2- Bambino
3- O Grito
4- Canos Silenciosos
5- Decadence Avec Elegance
6- Os Tipos Que Eu Não Fui
7- El Desdichado II
8- Mais Uma Vez
9- A Queda
10- A Vida é Doce
11- Lullaby
12- O Homem-bomba
13- Robô, Robôa
14- Ronaldo Foi Pra Guerra
15- Noite e Dia
16- Me Chama
17- Song For Sampa
18- Essa Noite Não
19- Vida Louca Vida
20- Vida Bandida
21- Rádio Blá
22- Corações Psicodélicos
Bis
23- Help
24- Vou Te Levar
Bis
25- Chorando no Campo
26- Mal Nenhum
27- Samba da Caixa Preta

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Comentários enviados

Existem 2 comentários nesse texto.
  1. Luciano Oliveira em julho 3, 2010 às 17:34
    #1

    Memoravel! Apenas isso.

  2. Luiz Henrique em julho 5, 2010 às 8:21
    #2

    Fiquei feliz com a atitude do Lobão de se lembrar do meu amigo Bob Lester, um dos maiores artistas do Brasil. A maior vontade de Bob é gravar um CD solo, pois nunca gravou sozinho. Quem sabe isso não acontece para comemorar brevemente seus 100 anos de vida!!!
    Valeu, Lobão!!!

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