Rock é Rock Mesmo

Agraciado com a bênção do rock

No final de semana Metallica, difícil encontrar palavra diferente para exprimir tão bem a oportunidade de ver a banda tocando 27 músicas de uma vez só - ou em duas parcelas em menos de 24 horas

Meus amigos, o que é a luz e o que é a divindade. Entre tantos conhecidos que reencontrei no final de semana Metallica, há pouco mais de dez dias, lembro de um relato do grande Carlos Eduardo Oliveira, o mais carioca dentre todos os paulistas. Por causa de compromissos profissionais, ele perdeu o show magnífico que o Rush fez no Morumbi, no dia 22 de novembro de 2002, e pegou o último vôo de não sei de onde para o Maracanã para não ficar de fora da turnê brasileira. Detalhe: sem ingresso. A história diz que ele, ao lado do fotógrafo Marcos Hermes (grande amigo) foi entrando, entrando e, quando se deu conta, estava já dentro do Maraca, sem sequer sacar a carteira ou apresentar qualquer documento. Não me pergunte os detalhes porque o que vale é a história, e ela é esta que aí está. Depoimento do afortunado: “Fui abençoado”.

Disse isso não só porque vi o amigo lá no show do Metallica, anotando tudo para fazer a cobertura para o Jornal do Brasil, mas porque não consegui encontrar outra palavra (não digo que escrever é de amargar?) para designar meu estado de graça ali no palco de jogos da fase de grupos da Copa de 2014. Eu estava abençoado. E, ainda, porque assim como esse final de semana Metallica, aquele em que o Rush se apresentou no Brasil, também foi de almanaque. Assisti a dois shows do Rush num final de semana só (um no Morumba e outro no Maraca) e ainda vi o Fluzão sapecar impiedosos três a zero no São Caetano, pelas quartas de final do Brasileirão, o último de pontos “descorridos”. Pois a bênção dos céus que Carlos Eduardo recebeu em 2002 eu ganhei no último final de semana de janeiro. (A quem interessar possa: hoje, sim, estou falando sobre o Metallica).

Disse que fui abençoado porque pude assistir a dois dos três shows da turnê do Metallica, no sábado e no domingo. E explico. O Metallica não faz como a grande maioria das bandas que repete o mesmo repertório a cada show de uma turnê (como o Rush, só pra aproveitar a deixa), o que significa que assistir a um show a mais é ver muito mais músicas tocadas ao vivo. Nesse caso, foram nove alterações de uma noite para a outra, totalizando, a rigor, somando-se os dois dias, 27 músicas diferentes. Se consideramos aqueles que foram também ao show de Porto Alegre – conheço ao menos três – essa soma chega a 31 músicas, sendo que muitas delas não eram tocadas há anos. Clique para conferir os set lists dos shows de Porto Alegre e de São Paulo, no sábado e no domingo.

Mas vamos ficar com a minha bênção (não gosto do termo, repito, mas não acho outro), porque agradecer à graça de outros não me cai bem. De uma vez só, num único final de semana, vi, ao vivo, o Metallica tocar 29 músicas de seus discos mais legais, a saber: “Kill ‘Em All” (4), “Ride The Lightning” (4); “Master Of Puppets” (3); “… And Justice For All” (3); “Metallica” (4); “Garage Inc.” (2); e do novo, “Death Magnetic” (6). Tá, ainda rolou “Fuel”, do “Reload”, e nada, nadica de nada do “Load” e do polêmico “St. Anger”. É ou não é uma bênção? (Sim, estou falando sobre o Metallica; e não, não sou mentiroso).

Antes do show do dia 30, os quatro cavaleiros deram uma coletiva de uns vinte minutos, depois de receberem os discos de duplo platina (DVD “Orgulho, Paixão e Glória”) e platina (“Death Magnetic”). Foi quando, ao ser perguntado pelo repórter Felipe Machado (ele mesmo, que um dia foi guitarrista do Viper), Lars Ulrich disse que eles não aguentavam mais tocar as mesmas músicas a cada noite, mas, quando decidiram mudar, foram impedidos pelos caras da luz e dos efeitos especiais, que temiam se perder. Esse era só mais um dos problemas que eram enfrentados nos intermináveis períodos de crise.

Já nessa turnê, tudo foi alinhavado com toda a equipe e chegou-se a um acordo. Tanto que, do set de um dia pra o set de outro, nota-se que, por vezes, uma música sai para dar lugar a outra, mas as luzes, o telão e os efeitos são os mesmos. Ou seja, há um “set list” de efeitos, luzes, imagens projetadas e afins que segue minimamente uma ordem. Do set de sábado para o de domingo, “Blackened” deu lugar a “Fight Fire With Fire”, no mesmíssimo 13º lugar, com o mesmo telão dividido em quatro, imagens individuais de cada integrante e as mesmíssimas explosões e labaredas nas laterais do palco.

É interessante observar que os set lists também têm regiões demarcadas. Assim, onde tem um cover, é ali que entra outro cover no lugar. Se há uma música do primeiro disco, quando ela sai entra outro do mesmo CD. No bloco das do último álbum, entram e saem músicas dele mesmo. Mas existe também, como exceção, um apanhado de músicas que circula sem lugar fixo, e aí haja memória pra saber tudo, literalmente, de cor e salteado. Na mesma pergunta sobre os set lists, na coletiva, Lars disse que eles têm nada menos que 70 músicas ensaiadas. Eu disse 70. O que significa praticamente – numa conta chutada - todas as músicas do Metallica desde “Kill ‘Em All” (1983) até “Garage Inc.” (1996). Haja memória e vitalidade para fazer uma coisa dessas. Pois é tudo isso reunido que ganha uma aura de bênção vinda dos céus. Amém, Metallica, amém.

Até a próxima, e long live rock’n’roll!!!

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