O Homem Baile

Metallica recupera tempo perdido com show arrebatador

Grupo privilegiou o thrash metal de raiz e cativou o público que lotou o Morumbi, estimado em 70 mil pessoas; com vigor juvenil, integrantes vibraram com a platéia e demoraram a deixar o palco no final. Fotos: Marcos Hermes/marcoshermes.com

Lars Ulrich (à esquerda e no telão) e James Hetfield no comando do Metallica

Lars Ulrich (à esquerda e no telão) e James Hetfield no comando do Metallica

As 70 mil pessoas que lotaram o Estádio do Morumbi, em São Paulo, ontem à noite, nem repararam que foram cerca de onze anos de espera para voltar a ver o Metallica se apresentando ao vivo. Isso porque parte do tempo ausente coincidiu com fases não muito interessantes do grupo, e, agora, com a declarada volta aos tempos de ouro do thrash metal, no álbum “Death Magnetic”, fez-se a paz com os exigentes fãs, quer não abrem mão da fidelidade às raízes do estilo que o Metallica ajudou a criar. Ao todo, foram apresentadas 18 músicas, nenhuma das fases “Load”/”Reload” e do famigerado “St. Anger”, numa noite, antes de qualquer coisa, estonteante.

Com uma proteção nas articulações dos dedos, Kirk Hammett mostrou plena forma

Com uma proteção nas articulações dos dedos, Kirk Hammett mostrou plena forma

Poderia, sim, ter entrado faixas até expressivas, como “Memory Remains” ou “Fuel”, como tem ocorrido em outros shows da turnê (Porto Alegre, na última quinta), já que uma das características das últimas turnês tem sido a constante variação no repertório de cada show. “Levamos em conta o número de shows em cada cidade, o tempo que ficamos sem tocar em cada lugar, e o que mais der na telha”, explica o batera Lars Ulrich na entrevista coletiva concedida cerca de três horas antes do show, no abafado Salão Nobre do Morumbi. “Há oito anos tocávamos o mesmo set list toda a noite, era uma coisa insana e muito mecânica”, continua, revelando que o quarteto tem cerca de 70 músicas prontinhas, ensaiadas para serem tocadas.

Como em Porto Alegre, o inicio foi matador, com a dobradinha “Creeping Death”/“For Whom The Bell Tolls”, mas na sequência “The Four Horsemen” substituiu “Ride The Lightning” com desenvoltura. O palco compensa a pouca altura com um telão gigante que exibe closes extraordinários dos músicos. Dá até para ver um dispositivo plástico que protege as articulações dos dedos do guitarrista Kirk Hammett, ao passo que James Hetfield usa a filmagem para fazer gestos simbólicos do metal. Em “Blackened”, que marcou a estreia do Metallica no Brasil, em 1989, o telão é dividido em quatro quadros, um para cada integrante, num efeito simples, mas dos mais eficazes, auxiliado por chamas disparadas nas laterais do palco que aquecem (literalmente) ainda mais o participativo público.

Lars Ulrich gentilmente cumprimenta o público

Lars Ulrich gentilmente cumprimenta o público

Curados os traumas pessoais e coletivos do grupo, James Hetfield passa a assumir uma postura um tanto profética e abstrata. Depois das três primeiras músicas, ele cumprimenta o público e diz que objetivo do show é “fazer vocês se sentirem melhor”. No meio da excelente “Fade to Black”, metafísico, pergunta se todos estão sentindo a energia que ele percebe emanar do próprio show, e, no final do bis, quer saber o porquê de os fãs gostarem tanto de “Seek And Destroy”. Durante a coletiva, no entanto, mantém intacto o verniz na cara de mau, mesmo quando se diverte – aparentemente – com as respostas de seus colegas de banda. Mas James adora turnês. “É na estrada que nos inspiramos com muitas idéias novas. Guardamos tudo sem saber como essas coisas tomarão forma, mas é ali que o novo disco começa”, explica, entregando que o sucessor de “Death Magnetic”, de certa forma, já começou a ser bolado.

Em “Fade to Black” a banda mostra que consegue executar tudo certinho nas músicas antigas, com os mesmos peso e velocidade dos bons tempos – seriam estes ruins? O final, com Lars e Hetfield indo ao limite, é de arrepiar. As músicas de “Death Magnetic” não decepcionam – muito ao contrário – mas não têm o mesmo nível de participação por parte da platéia. “That Was Just Yor Life”, por exemplo, só empolga no duelo de Hetfield e Kirk Hammett na frente da bateria, no final. “The Day That Never Comes” tem mais sucesso: é, entre as novas, aquela em que o público vibra pra valer. “Broken, Beat & Scarred” é dedicada por James Hetfield à “família Metallica”, que está com a banda “nos bons e nos maus momentos”, e a arrastada “Sad But True” ao Sepultura, que abriu show com a competência de sempre, embora muito menos próximo do que já esteve do Metallica.

O metafísico James Hetfield esbanjou disposição em duas horas de show

O metafísico James Hetfield esbanjou disposição em duas horas de show

Os efeitos da iluminação estroboscópica ainda são os mesmos de 1999 em “One”, mas o arranjo continua funcionando muito bem. Talvez James Hetfield tenha razão quanto à mudança de idade dos fãs, assunto que voltou a comentar na entrevista. “Há uma paixão muito grande entre os brasileiros, na forma como eles interagem com a banda, e são cada vez mais novos”, teorizou. Essa interação é tão grande que, no final do show, os quatro ficam quase cinco minutos se despedindo da multidão. “Esperamos não demorar tanto para voltar”, disse Lars Ulrich. Isso porque na segunda metade do set uma saraivada de hits tirou o fôlego até deles próprios. A genial “Master Of Puppets”, sem perder uma grama do peso, com apoio de um vídeo coalhado de efeitos retrô; “Enter Sandman”, uma das composições mais cativantes do metal, do rock e da música pop como um todo; e o tradicional encerramento com “Seek And Destroy”, símbolo do thrash metal mundial.

O Metallica volta a se apresentar hoje, no Estádio do Morumbi, em São Paulo. Ainda há ingressos para todos os setores; para mais detalhes, clique aqui. A julgar pelas mudanças dos set lists, de Porto Alegre para o show de ontem, que totalizaram seis músicas – mas não só por isso -, vale a pena ver de novo.

Antes do show o Metallica recebeu os discos de duplo platina (DVD 'Orgulho, Paixão e Glória') e platina ('Death Magnetic')

Antes do show o Metallica recebeu os discos de duplo platina (DVD 'Orgulho, Paixão e Glória') e platina ('Death Magnetic')

Set list completo:

1- Creeping Death
2- For Whom The Bell Tolls
3- Four Horseman
4- Harvest Of Sorrow
5- Fade to Black
6- That Was Just Your Life
7- The End of The Line
8- The Day That Never Comes
9- Sad But True
10- Broken, Beat & Scarred
11- One
12- Master of Puppets
13- Blackened
14- Nothing Else Matters
15- Enter Sandman
Bis
16- Stone Cold Crazy
17- Motorbreath
18- Seek and Destroy

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