Fazendo História

Gravando em casa

Matéria sobre estúdios caseiros publicada na Revista Batidas de Violão, Volume 1, Fascículo 1, de julho de 2007. Foto: Reprodução/internet

Foi-se o tempo em que fazer gravações era uma prerrogativa de grandes estúdios com produtores e engenheiros de som de renome. Não que eles não existam mais, mas os avanços tecnológicos já há algum tempo permitem que os próprios músicos consigam realizar registros de boa qualidade dentro de casa, e por custos mais acessíveis do que se pode imaginar. O que, para quem está começando, é uma mão na roda, e ainda pode converter músicos e aspirantes em talentosos produtores.

Alexandre Griva no Melhor do Mundo Studios

Alexandre Griva no Melhor do Mundo Studios

Quando o baterista Alexandre Griva deixou o grupo Baba Cósmica começou a compor e resolveu gravar os trechos de músicas que fazia para não perder o fio da meada durante processo de composição. Sozinho, ele gravava baixo, guitarra e bateria e depois juntava tudo. “Comecei fazendo gravações caseiras no meu quarto, com um equipamento super tosco, era o que tinha na época. Usava dois microfones desses que a gente usa pra show e uma mesinha de som de quatro canais, conectada no computador. Depois editava tudo”, conta Griva. Ele gravou todas as músicas de sua outra banda, o Jimi James (que chegou até a lançar um EP pela EMI), dessa forma. Depois de ter trabalhado como assistente de produção nos discos dos grupos Gram e Cachorro Grande, hoje Griva comanda o “Melhor do Mundo Studios”, e evidentemente adquiriu equipamentos mais avançados que a boa e velha placa Sound Blaster. Foi do Melhor do Mundo que saíram os EPs de bandas novas como Eskimo (do ex-baixista do Los Hermanos, Patrick Laplan), Planar e Skore.

A história com o guitarrista e vocalista do Pato Fu, John Ulhoa, é mais ou menos a mesma, só que ele começou um pouco mais cedo. Autodidata, já gravava tudo que fazia desde que comprou sua primeira guitarra. “A qualidade era horrível, mas era muito bom gravar alguma coisa com o que estivesse à mão”, conta. As atividades dele dentro do Pato Fu não deixam muito tempo para John tocar o estúdio sozinho, mas isso não impede que volta e meia ele assine a produção de algum colega de profissão, como os discos da cantora Érika Machado ou do Wonkavision, ou ainda mixagem do álbum que marcou a volta ao mercado de um de seus ídolos, Arnaldo Baptista, do Mutantes. Além, é claro do Pato Fu mesmo, como aconteceu em “Toda Cura Para Todo Mal”, último disco do grupo mineiro.

John Ulhoa (Pato Fu) no estúdio de sua casa

John Ulhoa (Pato Fu) no estúdio de sua casa

Apesar de trabalhar o tempo todo em casa, John não chama mais a sua produção de “caseira”. “Meu estúdio é apenas em casa, mas ainda não chega, por outro lado, a ter a estrutura que os grandes estúdios têm”, define. Isso porque com o passar do tempo ele adquiriu novos equipamentos e softwares. Mas para quem está começando, o guitarrista não se prende a muitos refinamentos, principalmente quando a grana é curta. “O custo é quanto você tem; se tiver só o PC, vai só com ele e pronto. Não pode é deixar de fazer”, postula, ao mesmo tempo em que recomenda uma configuração mínima: “um PC com interface de áudio (placa PCI, USB ou Firewire), um programa como Logic, Nuendo, Pro Tools ou algo assim. Pelo menos um microfone decente, um tipo condenser barato. A interface pode ter um preamp, e monitores razoáveis. Se ficar ouvindo o que está gravando naquelas caixinhas de 10 reais que vem no PC, nunca vai saber se o que está registrando tem qualidade ou não”.

Num patamar menos sofisticado, Alexandre Griva admite alternativas mais econômicas. “Existem muitas opções hoje em dia, placas de dois canais mesmo, elas são o primeiro passo. Tem um fabricante que se chama N Audio que tem umas placas, e a própria fabricante do Pro Tools tem a versão dela pra dois canais. Compra com PCzinho simples, nada muito caro e manda ver”, sugere. E ele concorda com John que importante é não deixar de gravar, inclusive pela experiência que tem adquirido com as bandas em início de carreira. “Um dos maiores problemas que eu tenho é que o pessoal não tem cultura pra mexer no próprio equipamento, e não sabe que tipo de som quer tirar no amplificador”, diz.

Griva também avalia que é essa intimidade com o equipamento uma das grandes diferenças entre as bandas estrangeiras e as nacionais. Para ele, “Tem banda gravando disco em casa que fica igualzinho ao meu, num cômodo sem tratamento, cheio de equipamentos e com um computador lá com Pro Tools simples. O Blink 182 fez isso, faz parte, se você quer ter uma banda tem que dominar esse processo também”, finaliza. John, de seu lado, já vê certa evolução proporcionada pelo amplo acesso dos novos artistas às tecnologias de gravação. “Gravando o cara aprende um monte de truques que antes estavam restritos aos engenheiros de áudio. Hoje em dia todo mundo discute qual melhor microfone pra gravar guitarra, qual posição ele deve ser colocado, esse tipo de coisa. De uma certa maneira, isto também é estudar música”, acredita.

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