Na tarefa de contar como se desenvolveu o rock no Brasil em cerca de uma hora, até que os produtores deste documentário se saíram bem. Utilizando entrevistas com músicos, produtores e jornalistas, e com um texto enxuto, narrado por Maurício Valadares, o programa discorre com rapidez sobre todas as fases do rock nacional, captando com boa capacidade de síntese quase tudo que realmente teve importância no gênero. Ainda mais se considerarmos que só o período mais fértil – os anos 80 – já teria assunto para muito mais de uma hora.

Não por acaso é nesse período que o vídeo ocupa mais tempo, ao explicar como o Circo Voador e a Rádio Fluminense FM catapultaram o rock para as paradas de sucesso, desaguando no Rock In Rio, o maior evento voltado para o gênero de que se tem notícia no Brasil. É certo que faltou alguém da Flu-FM – celeiro de bandas, onde as gravadoras iam buscar novos artistas – para, inclusive, dar lições de como o rock, por si só, pode emergir do nada e ocupar grandes espaços na mídia. Espaços que foram reduzidos nas décadas seguintes por conta do vício das grandes gravadoras, que desgastavam um gênero ao máximo para depois o enterrar e partir para outro, como se não fosse possível apostar em mais de um. Assim, é notável a diminuição radical de nomes de artistas de destaque citados nos anos 90, todos sustentados pela MTV.

Pior ainda nos anos 00, já que o vídeo praticamente ignora o movimento independente brasileiro, centrado nos festivais espalhados por todo o país. Não era de se esperar outra coisa, já que os envolvidos na produção são todos oriundos do mainstream do mercado musical brasileiro, em geral com os olhos fechados para os independentes. Ao mesmo tempo, serve de alerta para as novas bandas, que, mesmo sendo hoje, em números, maioria absoluta da produção do rock nacional, ainda precisa perder a vergonha, sair de dentro do computador e ocupar espaços na mídia, para, aí sim, entrar para a história do rock nacional. Da nova geração de independentes, só o Vanguart tem certo destaque, graças à exibição de trechos do videoclipe para “Semáforo”.

Foi o que também aconteceu com os escondidos anos 70, onde a mpb com referências ao rock era o que existia de rock. No vídeo, a década aparece com destaque para três nomes (Raul Seixas, Secos & Molhados e Rita Lee) e só não ignora o sem número de grupos voltados para o rock progressivo porque as imagens das capas dos discos lançados à época são exibidas em série. Recurso que, aliás, acaba mostrando um número muito maior de artistas do que os citados na locução, o que justifica o título do DVD. Nos anos anteriores, a ênfase é no surgimento da bossa nova (tida como “de elite”) e jovem guarda (mais “popular”), nos anos 50, e da tropicália e os festivais de música competitivos, nos 60. No fim das contas, o DVD vale pelo registro e pela capacidade de síntese, mas, como tem patrocínio da Sky, talvez valha mais economizar uns trocados e esperar a exibição pela TV mesmo – se é que já não rolou.

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