O Homem Baile

Gogó de ouro

Atração principal do Festival Universitário MTV, o grupo americano The Walkmen não se importou com o que estava à sua volta e fez uma grande apresentação, escorada na boa performance vocal de Hamilton Leithauser, de timbre forte e característico; com atuação semelhante, Moptop não ficou atrás. Fotos: Moskow/Divulgação.

Hamilton Leithauser, do The Walkmen, conquista o público com um vocal peculiar

Hamilton Leithauser, do The Walkmen, conquista o público com um vocal peculiar

A segunda vinda do Walkmen ao Brasil foi quase igual a primeira, quando o grupo novaiorquino passou de passagem pelo Mada, em Natal, em 2004. Naquela oportunidade, tocaram para uma platéia que pouco conhecia o grupo – a grande maioria esperava por Jorge Benjor, atração principal da noite – e mesmo assim mandou um show como se estivesse tocando em seus domínios. Ou, por outra, como se não tocasse para ninguém. O “quase” ali em cima se deve ao público que compareceu ontem, na Marina das Glória, pequeno, como de hábito, mas repleto de fãs que se apinharam no gargarejo para curtir um show descomprometido, mas, ainda assim, cativante e rico em detalhes.

É bem verdade que as músicas mais novas, como “In The New Year” (com início à capela) e “On The Water”, tocadas logo no começo, eram deprê demais. Talvez porque o grupo tenha exagerado na porção Joy Division no último álbum, “You & Me”, lançado no ano passado, sem atingir a excelência da época em que era chamado de “novos Strokes”, em “Bows And Arrows”, de 2004. Mas logo a porção U2 (de início de carreira) tomou conta do repertório, e sobressaiu a boa voz de Hamilton Leithauser. O sujeito é uma vara pau meio desajeitado, mas quando solta o gogó canta pra valer, como aconteceu com “In The New Year”. Ele também alterna a voz mais forçada com momentos intimistas, quando lembra até Chris Martin, fazendo a óbvia conexão Coldplay-U2-Walkmen.

Peter Bauer e Leithauser: discretos e eficientes

Peter Bauer e Leithauser: discretos e eficientes

O show também impressiona pela vibração do baterista Matt Barrick, e pela versatilidade mostrada por Peter Bauer (baixo) e Walt Martin (teclados), que se revezam entre seus instrumentos, que incluía um piano de calda e o baixo emprestado do Moptop, assim como os pratos espancados por Barrick, já que a banda simplesmente não trouxe todo o equipamento. Em “The Rat”, uma das mais aplaudidas, até o discreto guitarrista Paul Maroon se arriscou no piano. Outras que fizeram o animado público sacudir foram “Canadian Girl”, “Thinking of a Dream I Had” e a frenética “Donde Esta La Playa”, certamente composta com as memórias do Brasil.

Hamilton Leithauser circula entre o personagem tímido e o indiferente. Fala pouco com o público e se limita a agradecer, sempre com um sotaque carregado que mais parece britânico que americano, como o próprio som do Walkmen. Como o público (que não ultrapassou 500 pessoas) ia minguando aos poucos, ele se surpreendeu com os pedidos de “come back” dos fãs mais dedicados, e voltou para completar cerca de 70 minutos de show. Pena que escolheu uma baladinha que encerrou a peleja mais em tom de melancolia do que do êxtase explicitado na fila do gargarejo. O que, de fato, não chegou a comprometer o bom show.

DESCENDO REDONDO

Moptop: um dos melhores shows do rock nacional

Moptop: um dos melhores shows do rock nacional

Não havia banda mais apropriada para tocar na noite do Walkmen do que o Moptop, que – diga-se - tem se tornado a banda de abertura oficial no Rio de Janeiro. E não é por acaso. Como poucos, o grupo conseguiu fechar um excelente repertório, pinçando o melhor de seus dois álbuns, e quanto mais faz shows melhor a performance do quarteto. É o que acontece em “O Rock Acabou”, uma das mais antigas, tocada com um vigor de impressionar. A música ganha um crescente instrumental ao vivo que empolga até quem não conhece o Moptop. Nem o vocal abafado do Palco Principal atrapalhou.

A surf/faroeste “Bonanza” é outra que causa boa impressão. É o tipo de música que mesmo quem ouve pela primeira vez acha que conhece de algum lugar, já que, embora autoral e com a pegada do guitarrista Rodrigo Curi, remete à standards do rock mundial. “Come Se Comportar” é outra que tem crescido em cima do palco, pela pegada firme de baixo/bateria e também pelo modo como Gabriel tem encaixado os vocais. Deve haver aquele fã mais dedicado que clama por músicas novas (e a roda realmente não pode parar), mas o Moptop achou um repertório com precisão cirúrgica e está mandando muito bem em cima de um palco.

No palco principal a abertura foi feita pelos novatos Tereza e Los Bife, que venceram as eliminatórias de quinta e sexta, e ainda estavam disputando sabe-se lá o que mais. Acabou dando Tereza. No “Boteco Universitário”, a escalação com grupos voltados para o samba, mpb e afins, foi pouco convidativa. As coisas estavam mais para o “Lapa style” do que para uma noite em que a atração do festival era uma banda de rock internacional. Uma pena.

Para ver a cobertura dos shows de quinta, clique aqui.

Para ver a cobertura dos shows de sexta, clique aqui.

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