O Homem Baile

Mobiliário feliz

Móveis Coloniais de Acaju voltou a fazer um show contagiante, ontem, na abertura do Festival Universitário MTV. Apesar da estrutura, evento não conseguiu levar um bom público para a escondida Marina da Glória, no Rio. Foto: Moskow/Divulgação.

André Gonzales à frente do Móveis: um dos melhores shows de um grupo brasileiro na atualidade

André Gonzales à frente do Móveis: um dos melhores shows de um grupo brasileiro na atualidade

É difícil de encontrar, mas quem procura, acha. Escondido atrás no Aterro do Flamengo, começou ontem, na Marina da Glória, no Rio, o Festival Universitário MTV. O evento prima pela descoberta de novas bandas, ao passo que traz como convidados grupos que já têm certa estrada. O local é o mesmo onde aconteceram as últimas edições do TIM Festival, só que a estrutura é menor, mas ideal para o porte do festival, que tem ainda área de moda e um espaço livre fantástico, ao ar livre, com o visual exuberante da Baía de Guanabara.

Atração principal da primeira noite, o Móveis Coloniais de Acaju não decepcionou. O grupo foi o único que conseguiu o que parecia impossível: reunir todo o público que circulava nas áreas do festival num só lugar. O Móveis trouxe ao Rio o show do segundo álbum “C_mpl_te”, com palco próprio que incluía latas de lixo de erguidas de cabeça para baixo até o teto, iluminadas internamente e com rabiolas que desciam ao piso, causando um efeito simples e eficiente. Associadas à intensa movimentação no palco dos nove integrantes, as novas músicas, grande parte já conhecida do público – pequeno, mas que fez um barulho dos diabos – não deixaram o pique do show cair.

Foi o caso do ska “Lista de Casamento”, que abriu o show, de “Cheia de Manha” e de “Bem Natural”, essa com um final que fez o público pular ainda mais – difícil alguém ficar parado no show do Móveis. O grupo continua investindo firme naquilo que seria o Los Hermanos, caso a sonoridade do disco de estréia não fosse abandonada em prol da insossa mpb adotada dali pra frente. O relativo descanso só aconteceu em “Mergulha e Voa”, novíssima música feita em homenagem a um projeto que salva tartarugas na costa do Nordeste brasileiro. Entre as antigas, “Copacabana”, com a tradicional roda feita pelos músicos, tocando no meio do público; “E agora, Gregório?”; e “Perca Peso Agora”, que teve público num dos vários momentos cantando à capela; são as que devem estar até agora martelando a cabeça de quem se divertiu a valer num dos melhores shows de um grupo brasileiro na atualidade.

INVERSÃO DE VALORES

Fábio Caldeira e o rock d'Os Imperfeitos

Fábio Caldeira e o rock d'Os Imperfeitos

No afã de descobrir novos talentos, o festival acabou colocando bandas já com certa rodagem apinhadas no “Boteco Universitário”, deixando as concorrentes para o “Palco Principal”. Dado o baixo comparecimento do público, até que foi bom para grupos como o The Feitos e RSigma, que conseguiram reunir uma quantidade de interessados compatível com o espaço. O primeiro contou com vários fãs que já conheciam o repertório calcado no rock’n’roll safado e juvenil, e o segundo parece só agora estar amadurecendo, embora ainda insista em músicas intrincadas e de difícil apelo.

Paulo Pilha aproveitou para lançar seu disco virtual, “O Grande Dia”, repleto de crônicas criadas a partir de um olhar bastante peculiar do cotidiano. O RockTed também prepara o álbum de estréia, “Eldorado”, e fez um set convincente, embora prejudicado pelo som. E o Eletro, com nova formação, parece estar em franca transição. O problema é que os shows dos dois palcos não se intercalavam, e muitas vezes aconteciam simultaneamente, dividindo as atenções do público. Ou então não havia shows em nenhum dos palcos, e os DJs, com sets inóspitos, castigavam o público sem piedade.

O rock’n’roll na veia d'Os Azuis

O rock’n’roll na veia d'Os Azuis

Entre os concorrentes, o trio Os Imperfeitos fez a melhor apresentação. Resgatando a formação de trio de rock, o grupo despejou riffs de peso moderado, mas cativante como bem reza a cartilha do gênero. Foi também a única entre as seis bandas que mostrou um bom entrosamento entre os integrantes. Os Azuis não ficaram tão atrás, mandando um som à anos 60 repleto de referências ao rock’n’roll pré-histórico. O quarteto tem boas composições e um futuro promissor.

Duas outras bandas acabaram ofuscadas por vocalistas malucões. Caso do Heliodorus, que tem em Rafael Piri um modelo reduzido de Serguei, e do Los Bife, no qual Igor Strougo relembra os piripaques de vocalistas de funk o metal. Meio psicodélico, o primeiro pode até evoluir, se travar um pouco a afetação de Rafael, mas o segundo não tem jeito, não, vai continuar assim, já que agradou à platéia e era um dos mais votados pelo público durante a noite. O que não aconteceu com o Love Movie, espécie de emo de playboy, e com o Majestike, clone mal resolvido de Evanescence, que só serviram para manchar a curadoria do festival.

O Festival Universitário MTV prossegue hoje e vai até amanhã. Confira os detalhes aqui.

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