Som na Caixa

Nervoso e Os Calmantes

Nervoso e Os Calmantes
(Midsummer Madness/Ant-Discos)

nervosoeosA atualização da jovem guarda continua sendo uma obsessão para Nervoso, que ainda busca inspiração no rock gaúcho (também parente da turma ancestral do Rei) e na música brasileira brega/pseudo moderna. Para tanto se vale dos teclados e de backing vocals insuspeitos, como na já famosa “Universo Vocacional”, que é atualizada pelo theremin; de uma homenagem explícita – para dizer o mínimo – à fase anos 70 de Roberto Carlos, em “Um Sonho de Transatlântico”; e mesmo de “Eu Que Não estou Mais Aqui”, peça cafona de fazer inveja à Odair José. Três exemplos emblemáticos do Nervoso que todos já conhecem.

Mas nesse segundo disco há mais. E não é só o fato do compositor ter se assumido como banda. Além d’Os Calmantes, nesse álbum o músico carioca contou com participações (mais de 30 nomes) que contribuíram para a busca de uma sonoridade mais diversa – nem sempre encontrada, diga-se. O guitarrista Benjão (Do amor, entre outras) comparece com três faixas, sendo “Bloco Neguinho” resgatada dos tempos do Carne de Segunda com um arranjo disco, a que mais representa essa diversidade. “Uma Simples Questão”, parceria com a incensada cantora Nina Becker, e cheia de resquícios de um tal Júpiter Maçã, é á canção perfeita para um especial infantil de TV. E as duas parcerias com Bernardo Vilhena (ele mesmo, da “Menina Veneno”) enriquecem um texto que nunca foi pobre, embora simples. Nervoso ainda mergulha no universo “canástrico”, homenageando a banda parceira com “Peça de Tabuleiro” e na siamesa “Minha Tranquilidade”, cujas levadas em clima de festa poderiam ser mesmo coisa de Renato Martins.

Mas o clima que permeia todo o disco é de uma tristeza ambígua que pode, por vezes, exalar felicidade. Talvez por isso as músicas que abrem e fecham o CD sejam cabisbaixas, sobretudo a primeira, “Antes”. “Despertar”, a derradeira, outra de Benjão, tem lá seus momentos de esperança, com vocais cantarolantes que trazem de volta os melhores momentos do combo instrumental Azimuth. A pessoalíssima “O Grande Herói”, basicamente um clamor oculto por desculpas, e “Minha Saudade”, uma bossa sussurrada que revela um Nervoso cantor sem precedentes, são de fazer chorar – sem obviamente qualquer conotação emocional barata.

O contraponto está na alegre “Teimosia”, que aproveita para flertar com o novo rock, pós 2000, revelando um Nervoso olhando também para os lados – não só para trás. Com tanta referência em apenas 15 músicas, ele mostra que, além de compor e apertar alguns botões, soube, a seu modo (ainda que alguns exageros apareçam), alinhavar tudo sob a mesma égide. E que, se já construiu uma marca para sua música, continua buscando enriquecê-la, avistando ainda um longo caminho que precisa ser percorrido.

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