O Homem Baile

Humaitá Pra Peixe
Pague quanto quiser e surpreenda-se no final

De Nova York, grupo Wax Poetic ganha ar de brasilidade. Publicado na edição de hoje do Jornal do Brasil. Foto: Tomas Rangel/Divulgação.

Thalma de Freitas acrescenta o suíngue brasileiro à viagem americana comandada por Ilham Ersahin

Thalma de Freitas acrescenta o suíngue brasileiro à viagem americana comandada por Ilham Ersahin

O show surpresa prometido para encerrar o Humaitá Pra Peixe, na noite de sábado, na Sala Baden Powell, não decepcionou. Importado de Nova York, o grupo Waz Poetic ganhou ares de brasilidade ao juntar as viagens do tecladista Ilham Ersahin e do baterista Kenny Wollensen com os músicos Gabriel Muzak (Rockz), Bubu (Los Hermanos e Do Amor) mais Thalma de Freitas e Otto se revezando nos vocais. Não foi a primeira vez que eles se apresentaram, mas era como se fosse, dado o clima de improvisação que predominou durante cerca de 90 minutos de som.

O show poderia ter recebido a pecha de “ensaio mais caro do ano”, não tivesse sido o próprio público quem definiu o valor do ingresso. A idéia, inspirada no grupo inglês Radiohead - que vendeu o álbum “In Rainbows” na internet seguindo esquema parecido, em 2007 – foi usada também na noite de encerramento do Humaitá Pra Peixe do ano passado.

Público pagou até R$ 20

O recurso está mais que aprovado pelo produtor do evento, Bruno Levinson.

- A intenção não é fazer dinheiro nessa noite, mas tirar as pessoas da zona de conforto e questionar quanto vale a curiosidade pelo show de uma banda nova – conta ele. O preço mais alto pago por um espectador foi de R$ 20.Quem esperava uma sonoridade jazzística se deparou com um rockão viajante dos bons, garantido pela pegada de Wollensen, cujas colaborações anteriores incluem nomes como Lou Reed e Tom Waits, e pela guitarra de Muzak, que no Rockz usa timbres que se aproximam aos dos Strokes. Por vezes, o próprio Muzak enveredava pelo reggae e dub, escorado em efeitos (que Ilham tirava de um teclado) reconstruídos por pedais de guitarra.

- As pessoas acham que o nosso som tem a ver com jazz por porque eu também toco sax e pelas várias improvisações – disse o tecladista ao Jornal do Brasil, logo depois do show. - Gosto quando a música começa e segue em frente, como num filme.

Ilham Ersahin cita como referências para seu som apresentações ao vivo de artistas díspares como Fella Kuti, Miles Davies e Led Zeppelin. O clima de “vale tudo” é tanto que ele nem sabe ao certo se um dia vai gravar as inéditas 11 músicas tocadas no sábado, cujas letras, em português, são de Thalma e Otto.

- É um trabalho em evolução mesmo. Tem sido um projeto com amigos que conheço, e as músicas podem ir para qualquer lugar. Uma das que fizemos Otto gravou num disco dele. Acho que Thalma também vai usar algumas. Para o Wax Poetic há outras músicas prontas - conta.

A platéia presenciou no sábado uma ocasião realmente especial, já que os shows do grupo são raros.

- Em geral funciona como uma grande mix tape (compilação de músicas de diferentes artistas), e não como um show com começo meio e fim – define Thalma de Freitas, que já subiu ao palco com o WP até e, Istambul, Turquia. – Quando tocamos no Nublu (o bar que Ilham administra em Nova York) é uma música atrás da outra, com improvisos no meio, fica mais viajante.

Atento ao espetáculo, no meio do público, o músico Marcelo Yuka - que já conhecia o som do Wax Poetic - se surpreendeu com a pegada rock e com a espontaneidade dos músicos.

- Foi um show que, por alguns momentos, me lembrou alguma coisa de tropicalismo. A Thalma e o Otto puxaram para esse lado. Achei um show brasileiro. Os discos que eu conheço são diferentes do que eles tocaram, aqui foi mais rock.

Em 2009, tudo num só lugar

Bruno Levinson faz uma avaliação positiva do festival – cuja programação não empolgou muito quando foi divulgada, no início de janeiro - que na sexta-feira teve ainda o reggae da cantora Aline Duran e o pop rock do El Niño, liderado pelo surfista Teco Padaratz. Mas o produtor prevê mudanças.

- O festival cumpriu sua função. Tivemos uma média de público alta, maior que a do ano passado. E os shows foram muito bons, os artistas aproveitaram a oportunidade. Acho que o HPP tem potencial para atingir 5 mil pessoas numa noite. A idéia para as próximas edições é conseguir juntar num mesmo lugar os talk shows, espetáculos em mais de um palco, os debates, as exposições e os negócios – promete o produtor.

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