Som na Caixa

Keane

Perfect Symmetry
(Universal)

keaneperfectÀs vezes uma banda precisa amadurecer para encontrar o caminho do sucesso; noutras, ele vem antes que isso aconteça. É o caso do Keane, que se projetou logo de cara, com dois álbuns exalando, no entanto, o rock melodioso do Coldplay. Natural que assim fosse, uma vez que Chris Martin e asseclas viraram referência para qualquer banda ligada ao indie rock. De repente, aquele tecladinho “sensível” tomou lugar até das guitarras ou de qualquer outro instrumento de acompanhamento.

Bom, isso até agora. Nesse “Perfect Symmetry” o Keane mostra amadurecimento e busca sua própria identidade. Primeiro ao fazer de Tom Chaplin, além de vocalista e tecladista ocasional, um guitarrista do tipo “preenchedor de espaços”. Parece pouco, mas era notória a falta do instrumento no grupo, sobretudo nos palcos, quando os barulhinhos de produção inexistem. Depois, porque o grupo enveredou pelo pop dançante que vem tomando conta do rock britânico, via Franz Ferdinand no disco mais recente, e (em parte) até por conta do americano Killers. Por último, o grupo resolveu produzir ele próprio o disco, com uma ajudinha de técnicos e de produtores convidados em três faixas.

A mudança é percebida já na música de abertura, o single “Spiralling”, que Chaplin começa soltando um “uh!” típico da disco music setentista. A faixa nasce talhada para as pistas, mas não é caso isolado. “You Haven’t Told Me Anything”, embora tímida, tem evolução, graças a sutis, porém marcantes efeitos eletrônicos, que remete até à new wave dos anos 80, a década preferida das bandas desses óbvios anos 00. Mas os 60 não ficaram de fora. “Pretend That You’re Alone” é assumidamente calcada na soul music de raiz, com realce para o baixista Jesse Quin – outra novidade no Keane. Caso também de “Better Than This”, outra que se escora na produção, e na qual Tom Chaplin usa falsetes de fazer inveja a Alex Kapranos.

Uma coisa, no entanto, não mudou: a capacidade do grupo de produzir refrões colantes. Seja em músicas mais dançantes, como “The Lovers Are Loosing”, ou mais, digamos “old schooll” – casos da bela “Love Is The End” e da dramática “Playing Alone”, que flerta com o U2 – o trio mostra uma desenvoltura que, se permanecesse em todo o álbum, o tornaria imbatível nas paradas. Porque a maturidade mostrada nesse trabalho, se configura um passo decisivo na trajetória do Keane, mostra na mesma intensidade que ainda há muita coisa a ser feita. Ao menos dá pra ouvir o disco todo quase sem se lembrar do Coldplay. O que, em se tratando de Keane, não é pouca coisa.

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