O Homem Baile

Madame Machado promove resgate da juventude no Humaitá Pra Peixe

Skacore do grupo mostra que existe luz no fim do túnel do rock carioca; mistura de música com poesia do Escambo transborda pretensão estéril. Tomas Rangel/Divulgação.

Parte da linha de frente do Madame Machado, incluindo o impagável Esqueleto

Parte da linha de frente do Madame Machado, incluindo o impagável Esqueleto

Por vezes o rock escreve certo por linhas tortas. Foi preciso um concurso na web para que o Madame Machado entrasse no elenco de artistas. Embora tenha lançado um dos melhores álbuns do rock nacional do último ano, a produção não viu o grupo, um dos mais ativos da cidade, passar em 2008. No show de ontem, no Espaço Cultural Sérgio Porto, “a incrível banda que toca ska” cometeu uma das melhores apresentações do festival, trazendo para frente do palco a juventude disposta a curtir o bom e velho rock, sem misturas mirabolantes, projetos de vanguarda ou artistas acompanhados de extensas explicações.

Mesmo que o skacore tenha o peso garantido por duas guitarras, a presença de um naipe de metais é quase obrigatória, e ele se torna mais divertido com a contribuição do trompetista, vestido de esqueleto e com máscara de monstro, que volta e meia se joga em meio as rodas de pogo promovidas pelo público. Mas a atração principal são mesmo as músicas, um apanhado de refrões colantes e riffs cativantes que mexem com qualquer um, não só com os fãs que se amontoavam frente à frente com, Bema Gonzalez e Marakin, vocalistas, guitarristas e, acima de tudo, figuraças.

E não foi só em “Beijo de Cinema”, o hit deles, que já ganhou clipe e foi repetida no bis, que a banda foi aplaudida. Os versos colantes de “MM”, que terminou com um poderoso instrumental, e “Menininha”, de temática simplérrima, teriam sido as melhores do show, caso a banda não aproveitasse do naipe de metais para evocar temas de seriados – ou mesmo da 20th Century Fox – durante os poucos mais de 40 minutos a que teve direito. Outro bom momento foi o resgate do bom e velho artifício em que o rock é pródigo: a apropriação de músicas do pop brega para os seus domínios. Foi o que aconteceu com as versões impagáveis de “Livin’ La Vida Loca”, de Rick Martin, e de “Take On Me”, do A-Ha, que ajudaram a compor o repertório. Pura diversão que resgatou a juventude ao festival.

A noite só não foi melhor porque, para fechar, em vez de um artista afim, foi escalado o Escambo, um grupo de poetas que querem ser músicos sem muita afinidade com uma coisa ou outra, muito menos com o bom gosto. Com muita pretensão e pouca inspiração, o sexteto se apóia em clichês do samba e em ritmos folclóricos para dar vazão a uma verve que, por si só, talvez nem tivesse espaço nem como poesia, quiçá como música. Ou alguém apostaria em rimas como a de chope com shopping, ou mesmo com sopros no microfone após o verso “vento soprar”?

Se a mistura de música e poesia já é difícil, imagine como a coisa desanda quando os cantores – e quase todos cantam, com os pés descalços, diga-se – são muito ruins, desafinados, e têm impostação de voz e dicção mal resolvidos. A exceção seria Tiago Tiago (duas vezes mesmo) de Mello, cuja vocação para a cantoria é latente, mas as expressões no rosto que ele carrega, como se interpretasse cada verso, jogam tudo por água abaixo. É a mesma sensação que e tem com as duas vocalistas que participam do show, que de cantoras nada têm, muito menos de intimidade com o palco, restando a expressão facial ordinária de quem “sente” o conteúdo daquilo que canta. De longe uma das piores coisas já vistas nesses 15 anos de Humaitá Pra Peixe.

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