O Homem Baile

Wilson das Neves faz um dos maiores shows da história do Humaitá Pra Peixe

Figuraça, sambista não queria deixar o palco de jeito nenhum; Bebeto Castilho deu aula de música do início do século passado. Foto: Tomas Rangel/Divulgação

Cláudio Jorge (à direita) salvou a lavoura do divertido Wilson ds Neves

Cláudio Jorge (à direita) salvou a lavoura do divertido Wilson ds Neves

Com quase 90 minutos de bola rolando, Wilson das Neves fez seguramente um dos maiores shows da história do Humaitá Pra Peixe, domingo passado, na sala Baden Powell. Foram 18 sambas, a maioria de sua autoria, com parceiros diversos, incluindo “Aquarela Brasileira”, de Silas Oliveira, que encerrou o show em clima de festa. Na abertura Neves já anunciava uma ode ao samba, com “O Samba é Meu Dom”. Antes dele, Bebeto Castilho, didático, explicou tintim por tintim como são belas as melodias de músicas compostas na primeira metade do século passado.

É louvável para um festival criado para apresentar novos artistas trazer verdadeiras referências, em noites mais históricas do que reveladoras. Resta saber o porquê de o samba ter sido privilegiado esse ano, uma vez que o gênero não deve estar entre os mais representados nos 15 anos do Humaitá Pra Peixe. Wilson das Neves, o “baterista que virou cantor” não tem nada com isso, e desenrolou uma pá de músicas, acompanhado por uma banda que incluía até piano e saxofone.

Melhor que cantor e compositor, Wilson da Neves é uma figuraça que, entre as músicas, solta pérolas como se protagonizasse uma “stand up comedy”. O artifício, segundo ele, serve para acalmá-lo no palco, já que faz pouco tempo que largou as baquetas para liderar um conjunto. Para o público, aplaca um pouco a monotonia causada pelas músicas, quase sempre muito parecidas, restando o acompanhar das letras a única tarefa interessante, e por vezes até reveladora. Se Neves tem o mérito de priorizar as suas composições, elas não são, em sua maioria, tão boas assim.

Tanto que os melhores momentos da apresentação aparecerem quando o violonista virtuoso Cláudio Jorge, aqui com uma tímida guitarra, aparece como compositor, em parceira com Neves, e cantando junto com ele. É o caso da ótima “Traz Um presente Pra Mim”, que se solta um pouco das amarras do samba, “Fonte de Prazer” e “O Vento Levou”. No início desta o sambista foi avisado do avançar da hora e prometeu tocar “só” mais duas. No fim, entre ouras tiradas, houve tempo até pra criticar aqueles que dormiram na fila para ver Madonna. Despeito da “lenda” do samba para com a rainha do pop que mostra bem a distância entre os dois gêneros no mundo globalizado.

Bebeto Castilho, ex-baixista do Tamba Trio, foi o professor da noite. Orientado por Caetano Veloso, que junto com Milton Nascimento seria o produtor de seu mais recente álbum, “Amendoeira”, ele só gravou músicas bem antigas, do início do século passado. Tocando flauta transversa na maior parte do tempo, Bebeto, didático, fez questão de explicar os detalhes da cada uma das músicas apresentadas, transformando todas numa bossa às vezes mais chegada ao samba, noutras com soque até de jazz, garantido pela pegada do bom baterista e por um pianista apenas mediano, mas eficaz.

No meio desse repertório selecionado, dá pra destacar, em grande parte por conta das letras, feitas sobre um cotidiano que não existe mais, algumas gemas. Caso do sambinha “A Vizinha do Lado”, de Dorival Caymmi, cantada com a doçura dos mais velhos; “Sabiá da Mangueira”, de Eratóstenes Frazão e Benedito Lacerda; e o clássico “Batida Diferente”, de deu título ao único álbum lançado por Durval Ferreira, e encerrou o show. Até a faixa título do disco de Bebeto, “Amendoeira”, de autoria do “sobrinhão” Marcelo Camelo (que produziu o CD junto com Kassin) entrou no set. Mas o tiozão entregou: ela é praticamente xerox de “Salgueiro Chorão”, também de Durval Ferreira, tocada mais cedo. Esses jovens…

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