O Homem Baile

Repertório eclético de Anna Luisa agrada no Humaitá Pra Peixe

Luis Carlinhos revê praia e luau em clima intimista, mas mostra mudança de rumo na carreira. Foto: Marcos Dantas/Divulgação.

Anna Luisa saracoteou um bocado no palco da Sala Baden Powell

Anna Luisa saracoteou um bocado no palco da Sala Baden Powell

Considerada a “Roberta Sá da vez”, numa referência à apresentação da cantora na edição do ano passado do festival, Anna Luisa agradou ao público de sábado passado na Sala Baden Powell pelo ecletismo do repertório. Ou, por outra, pelos próprios arranjos de cada música, que diferenciam umas das outras, ainda que exista uma linha que costure tudo num conceito estético só. Essa linha é representada sobretudo pela voz da cantora, cujo timbre não se assemelha ao de Roberta, mas também pela performance tão descompromissada quanto o repertório em si.

Além de contar com bons compositores (Edu Krieger e Rodrigo Maranhão entre eles), Anna faz também das suas e mostra que sabe compor, como nas boas “Perdido ao Tempo” (com o produtor Rodrigo Vidal) e em “Bailarina do Mar”, que foi repetida num inesperado bis. Também bebe em boas fontes, como na versão para “Cachaça Mecânica”, de Roberto e Erasmo, espécie de “Construção”, de Chico Buarque, com roupagem carnavalescas. A música, apesar do sotaque sambista, é entremeada por excelentes intervenções do guitarrista Fernando Caneca, fazendo com sucesso a mistura entre rock e samba pretendida na semana passada pelo grupo Mané Sagaz.

Anna Luisa relê também Gilberto Gil, com a conhecida “Parabolicamará”, que ganhou uma potência instrumental impressionante; põe sotaque ainda mais rock em “Os Pingo da Chuva”, dos Novos Baianos, de novo com a ajuda de Caneca; e ainda se arrisca no inglês, com a suave “Cold Kiss”, de Antônio Dionísio, que é conhecida de algum lugar do imaginário pop coletivo. Transita por tudo isso com descontraída altivez como se o palco fosse o quintal de casa, e a platéia, amiga de longa data – por isso o aplauso contagia. Oxalá se destaque no mar de cantoras da música popular brasileira.

Luis Carlinhos, que um dia já foi vocalista da banda de pop reggae Dread Lion, é um sujeito boa praça, tem certo carisma e boas tiradas. Nessa nova fase, entretanto, ele envereda por um lado aparentemente mais “sério” - chega a fazer a apologia da tristeza em determinado momento do show -, que não parece lhe ser muito próprio. A formação de sua banda já é, no mínimo, peculiar: além dele, que canta às vezes toca violão, há um guitarrista pouco dado a solos, e dois percussionistas que exageram quase como se fossem sonoplastas de teatro. Essa banda incompleta tem como resultado um espetáculo quase acústico, intimista e de pouca densidade musical.

Carlinhos está apresentando as músicas de seu segundo álbum solo, “Muda”, prestes a ser lançado, e parece estar aí virada que ele pretende dar em sua carreira. Músicas novas como “Desligar Você” e “Toró” são tristes demais e revelam um cantor apenas razoável, que passava despercebido em temas instigantes como a boa “Escapulário” e o reggae “Oh! Chuva”, dos tempos do Dread Lion, claro. Nessas o público se levantou pra cantar junto, enquanto, nas outras, foi mais contemplativo num assentir de cabeças como se admitisse certo desapontamento. Quem disse que só se muda para a melhor?

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