O Homem Baile

Espécie de Los Hermanos indie, Momo derrama tristeza no Humaitá Pra Peixe

João Ferraz Grupo andou em círculos no show de abertura. Foto: Tomas Rangel/Divulgação.

Marcelo Camelo de barba aparada? Não, Marcelo Frotta à frente do Momo

Marcelo Camelo de barba aparada? Não, Marcelo Frotta à frente do Momo

O desavisado que entrou de supetão na Sala Baden Powell na última sexta, na terceira semana do Humaitá Pra Peixe, por pouco não achou que estava diante de uma volta surpresa do Los Hermanos. É que Marcelo Frotta, que lidera o grupo Momo, ao cantar, estampa um semblante idêntico ao de Marcelo Camelo, caso aparasse a barba. Mais: tem os trejeitos do Hermano, e ainda traz à reboque a mesma indumentária de hippie da PUC. Sustentasse o violão modelo júnior mais próximo ao pescoço e a réplica seria fiel.

O som, entretanto, consegue ser ainda mais triste do que os momentos mais embargados proporcionados pela dupla Camelo/Amarante. Às vezes, é a voz desse segundo que sai das cordas vocais de Frotta, quase que instintivamente, como se o Momo incorporasse em carne, osso e estética, a insegurança fake dos Hermanos. Em “Tristeza”, uma baladinha minúscula com solo à Whitesnake, o cantor se supera no timbre de voz, fazendo aquele desavisado, ao fechar os olhos, ouvir exatamente a tal banda mais importante para o pop nacional da última década.

Há, contudo, o que se salvar dentro de tanta melancolia. A participação do violão de Régis Damasceno (Cidadão Instigado), se subverte o papel da guitarra ao fazer ele o solo – e não o guitarrista -, dá um tom folk alardeado na mídia, mas que só aparece em duas ou três músicas. Guitarra e teclado, em muitas oportunidades, salvam canções que começam sem graça, quando Marcelo Frotta usa o velho artifício indie de iniciar uma música como quem não quer nada para terminá-la numa quebradeira à Sonic Youth. Caso, por exemplo, de “Flores do Bem”. Ao usar o efeito slide, o guitarrista aproxima o som que se tornou viajante ao Pink Floyd fase Syd Barret. Só que a tristeza é tanta que não dá pra gente se animar.

Antes do Momo, o João Ferraz Grupo veio apresentar uma música mineira essencialmente instrumental. Ferraz é um jovem mineirinho que anda pelo interior de seu estado como violão embaixo do braço e, por onde passa, faz uma música que batiza com o nome da cidade, ou até de pratos típicos – caso de “Rochedão”, onde o sax soprano de Yuri Villar faz a festa e lembra até o violino de Marcus Viana. Quando a música flerta com o jazz, realça também a pegada típica do baterista Rick Frainer, mas as partes boas param por aí.

Isso porque embora tenha pitadas de samba, música regional e jazz, João Ferraz não consegue fugir do lugar comum para onde os arranjos mandam suas músicas. As canções são quase todas instrumentais e têm Marcela Velon cantarolando (vocalise?) no típico estilo “música mineira”. Por mais que ela se esforce, não é possível que todas as músicas recebam a mesma solução, incluindo aquelas que têm letras e que acabam com o mesmo e enfadonho cantarolar. Nessa paisagem de tonalidade pastel, João Ferraz acaba andando em círculos, transformando sua apresentação numa chatice só.

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