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U2

Live At Red Rocks
“Under a Blood Red Sky”
(Universal)

u2redrocks1Quando Bono Vox pergunta ao público congelado no meio das rochas de Colorado, nos Estados Unidos, se ele quer dar um “alô” para o Japão, não estava brincando. Mas jamais poderia imaginar em que proporções sua banda cresceria, de modo a se transformar em uma das maiores do planeta cinco nos mais tarde – posto que ocupa até hoje. Antes do início do show em si, Bono sabia que estava fazendo história, ao insistir em iniciar uma apresentação num palco provisório montando no meio de inacessíveis montanhas, sob clima gelado e chuva torrencial. Mas era a primeira vez do U2 nos Estados Unidos, cerca de 5 mil fãs estavam lá e todo mundo resolveu encarar a parada.

O visual realmente é magnífico. O pequeno palco encravado no meio das pedras com tochas acesas sobre ele, muita neblina e os músicos soltando fumaça pela boca – e pelo corpo – o tempo todo. As arquibancadas começam na beira do palco e vão subindo, lotadas de adolescentes revestidos por capas e casacos, sob permanente chuva fina durante os quase 90 minutos que durou a apresentação, pela primeira vez mostrada na íntegra, com o resgate de cinco músicas que haviam sido limadas na versão original editada em VHS no mesmo ano de 1983. Aquele 5 de junho foi mesmo um dia histórico.

Primeiro porque a banda, com três discos lançados e um show dos mais explosivos, tinha já um álbum clássico-instantâneo (“War”, lançado no mesmo ano) e mantinha o frescor de um repertório raro, novo e contagiante. Depois, porque realçava já em Bono uma figura que transborda carisma, com um preparo físico quase juvenil não percebido, evidentemente, a cada DVD que sai nos nossos tempos. E, por último, as adversidades climáticas e técnicas eram tantas que ao decidir prosseguir com a empreitada, toda a equipe, incluindo cinegrafistas, roadies e músicos, se revestiram de um espírito de superação para fazer, com os limões que tinham, a melhor limonada possível. Isso sem falar numa aura que já seguia o U2 na época, e faz o diretor Gavin Taylor buscar irremediavelmente uma explicação para o espetacular resultado final do filme durante seus comentários.

Os enquadramentos fogem do convencional, e, além de riscos na tela causados pela constante limpeza das lentes a custa de embaçamentos da neblina, há tomadas feitas de frente para os canhões de luz, causando um surpreendente efeito de cores estouradas. As tomadas do público, sejam em plano aberto, por trás da banda tocando, ou em closes que revelam mais cores e uma incrível animação sob chuva, são extraordinárias. Com o show iniciado ao entardecer, a passagem do dia para a noite traz outro elemento enriquecedor do belo visual capturado pelas lentes da equipe de Taylor, que usou – acreditem – apenas seis câmeras.

Três músicas antecedem o repertório do vídeo de 1983, e agora dá pra entender porque em “Surrender”, na verdade a quarta música, Bono já cai de costas sobre a platéia, que o empurra de volta para o palco. “Two Hearts Beat As One”, uma infeliz música dançante escondida em “War”, se sai muito bem ao vivo, embora tenha sido outra das cortadas na versão original, assim como a boa “Cry/The Electric Co.”. É nela que Bono pega a bandeira branca utilizada em “Sunday Blood Sunday” e sobe no topo do palco, lá em cima, na cobertura, de onde sai o clique para a foto que virou capa do vídeo e do CD com oito músicas do mesmo show. Curiosamente o verso cedido para o título, “Under a Blood Red Sky”, de “New Year’s Day”, é substituído de última hora por Bono, que canta “under a thunder Colorado rain”.

Já naquele tempo Bono tinha o hábito de “tirar” alguém da platéia pra dançar, e a sortuda da vez é capturada em câmera lenta em “11 O’Clock Tick Tock”, já no bis. Os momentos mais marcantes, porém, vêm de músicas cujo áudio foi consagrado em todo o mundo, por ter tocado em tudo o que era rádio naqueles anos 80. Seja na verve de Bono ou nos primeiros acordes do tímido The Edge, as versões de “Sunday Bloody Sunday”, “I Will Follow” e “Gloria” são identificadas de imediato. Nessa última, os punhos cerrados de Bono desencadeiam uma participação explosiva do púbico, que não arredou o pé daquele buraco rochoso castigado pela chuva. Ressaltado pelo diretor, observa-se ainda, em “40”, Adam Clayton e The Edge tocam com instrumentos trocados no encerramento de uma noite memorável.

Tão marcante para a história do rock, o vídeo, nessa versão pra DVD, não precisou de basicamente nenhum “extra”, coisa comum nos dias de hoje. Começa e termina com o espírito documentarista – com um tema do grupo Clannad, lembre-se – que coloca o expectador dentro espetáculo. Se mostra para muita gente um U2 inédito, com seus integrantes com vinte e poucos anos, revela que o carisma de Bono e a vocação da banda para o sucesso já estavam ali, em estado bruto. Não deixe de assistir.

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Comentários enviados

Apenas 1 comentários nesse texto.
  1. Adelvan em junho 6, 2013 às 13:44
    #1

    Isso aí me marcou muito. Eu tava começando a curtir rock. Ouvi o vinil até furar, vi o video até não guentar mais.

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